Vocês repararam, no rosto feliz e sorriso largo de Luiz Henrique e de Igor Jesus, após os seus respectivos gols e a vitória em Desafogo, do Brasil, sobre o Chile?
Bem essa foi uma vitória com trilha sonora, e em qualquer lugar, desse brasilzão, sem ouviu em uníssono Uffffaaaaaa!
Por quê não podemos ter uma seleção puramente nacional? Por que temos que carregar sempre o Complexo de Vira Latas?
O complexo de Vira Lata é uma expressão atribuída à Nelson Rodrigues, um escritor, jornalista e cronista da vida e dos costumes brasileiros, apaixonado pela brasilidade que hoje parece nos fugir, entre os dedos.
Em 1950, em pleno Maracanã, a Seleção Brasileira de Futebol foi derrotada pela Seleção Uruguaia.
A equipe do Brasil está assim escalada Barbosa, Augusto, Juvenal, Bauer, Danilo Alvim, Bigode, Friaça, Zizinho, Ademir Menezes, Jair, Chico. Técnico Flávio Costa.
Para se entender , o complexo de Vira Lata, corresponde ao sentimento de inferioridade de nós brasileiros em relação à tudo que é estrangeiro.
Tudo que se apresenta toma uma forma, identidade, um apreço maior do que o próprio Brasil.
“A grama do vizinho é mais verde”, embora não seja dessa forma, nem mesmo nesse contexto.
Em expressões como “esse país”, “neste país”, desqualificando à todos, se colocando como críticos, visitantes e nunca parte, nunca filhos, em momento nenhum como uma nação.
Talvez esse seja um dos tantos bloqueios que os atletas brasileiros, que por algum tempo, em curtas ou longas temporadas defendem clubes no exterior.
O que mais se ouve, determinado atleta, de ponta, saído das bases de um time de grande torcida no Rio de Janeiro, Vinicius Junior, ainda não se encontrou na Seleção do Brasil. E não é somente ele!
Os técnicos, no momento atual, Dorival Junior tenta e entre tantas tentativas e poucos acertos, vai escalando e deixando de escalar a torto e direito.
Mesmo jogadores que se sobressaíram e venceram a timidez de vestir a camisa amarelinha, e marcaram gols, amargaram banco, não foram novamente aproveitados e outros surgiram pela moda, pela celebridade momentânea e midiática.
Aliada ao complexo de Vira Lata, a memória esportiva parece se apagar quase totalmente.
Como não exaltar Pelé, Rivelino, Tostão, Garrincha, Zico, Júnior, Vavá, Eder, Palhinha, Rogério Ceni, Sócrates, Rai, Casagrande, Neto, Oscar, Polozzi, Mirandinha, Silas, Ademir da Guia, Dudu, Careca, Ronaldo, Romário, Ronaldinho, Rivaldo, Zinho, Falcão, Neymar, Jairzinho, Gerson, Fred, Paulo César Caju, Eder, Marinho, Gilmar, Leão, Mirandinha, Silas e Kaka.
E os técnicos…Zagallo, Telê Santana, Oswaldo Brandão, Felipão, Wanderley Luxemburgo, Tite, Rubens Minelli, Dunga, Carlos Alberto Parreira, Cláudio Coutinho, Aymore Moreira, Vicente Feola, João Saldanha….
E as crianças? Como se relacionam com o Futebol?
No tempo do meu pai, Dulcidio, nos campos de várzea, no bairro do Ipiranga, na terra batida e vermelha, que grudava nos cabelos, no suor de sol de meio dia, nos pés sem chinelo, por que serviam para demarcar as traves, o sonho era ser goleiro, ou guarda metas.
Nas moedas que ganhava engraxando sapatos, na ajuda desinteressada aos feirantes para arrumar as barracas de feira, nos dias de semana, e nos finais poder assistir ao Canal 100, famoso jornal que passava nas telas do cinema, contando dos times que eram gigantes na Europa….Viva a Itália! Viva a Inglaterra! Viva a Alemanha!
No meu tempo, juntava dinheiro e comprava figurinhas de jogadores de futebol e colava no álbum disputado a tapa, colado com cola de farinha. E jogava a sorte no bafo para a figura mais difícil e bastante rara.
Esse mesmo futebol que ensinou milhões de crianças a torcer na paixão hereditária, de pais para os filhos, a fortalecer os elos de família, criando noções de tempo e espaço, a torcer juntos, numa cumplicidade única, dentro e além do futebol, ensinou que existem as vitórias e como é bom ganhar e vibrar por todas elas, mas também a existência da derrota, tão real e importante para a vida de adulto.
O futebol é amor puro, e ainda pode ser ingênuo, se nos desligarmos das amarras comerciais, das imposições financeiras da atualidade e sorrir de pura felicidade, em alegria e contentamento pelo esporte, pelo futebol e seu melhor momento….O Gol!