Jorge Lordello: A “intuição” e os sinais de sobrevivência frente a violência urbana.

O medo é uma ferramenta que está em nosso interior psicológico. Emite sinais de alerta com a finalidade de nos proteger de algum perigo iminente.

Esse insight que aparece repentinamente tem como sinalizador a “intuição”.

Depois de estudar e pesquisar o fenômeno da violência urbana no Brasil por mais de 30 anos, posso garantir que prever um comportamento violento ao redor é muito mais simples do que se possa imaginar. O problema é que, na maioria das vezes, estamos focados no trabalho, no passeio, na diversão, na paquera, na música, na conversa e desligamos completamente o item segurança pessoal.

Imagine um casal dentro de um carro à noite. Antes de deixar a namorada entrar em casa, o rapaz insiste para trocarem beijos e carícias. Ela acaba aceitando; o clima esquenta aos poucos e a partir de dado momento o barulho e a movimentação de autos e pessoas do lado de fora do auto é praticamente inexistente à percepção dos sentidos do casal enamorado. É óbvio que nesse estágio não seria possível prever a aproximação de alguém em atitude suspeita.

Mas será que é possível, mesmo estando trocando afagos dentro de um automóvel, manter a “antena” da segurança ligada?

Claro que sim. Tudo é uma questão de consciência de segurança. Os mais precavidos não arriscariam permanecer dentro do carro na rua para namorar. A percepção do perigo é clara e em situação como essa faz a pessoa sair rapidamente do carro ou buscar lugar mais apropriado e seguro como melhor solução para minimização de riscos.

No entanto, se a vontade de ter estímulos sexuais é muito forte, a decisão pode ser de permanecer dentro do carro por poucos minutos. O interessante, é que mesmo tendo prazer, a pessoa também poderá estar com a percepção externa ligada e se sentir incomodada ao ouvir pegadas de alguém se aproximando. Aí, o melhor caminho é arrancar com o carro rapidamente para não correr o risco de ser vítima de assalto.

Tenha em mente que a pedra angular da segurança é a intuição, sendo que a raiz dessa palavra significa guardar, proteger. A etimologia vem do latim intuitione, formada a partir da união de “in” (em, dentro) e “tuere” (olhar para, guardar). Na língua portuguesa, estudiosos acreditam que é uma inflexão do francês “intuition”, ou seja, contemplação, conhecimento imediato, pressentimento que nos permite adivinhar o que é ou deve ser.

Nossa intuição no tocante ao instinto de sobrevivência é equivalente a dos animais. A diferença é que não damos a devida importância ao sentimento de medo.

Na selva, jamais um animal desperdiçaria preciso tempo para fazer o seguinte pensamento:

“Não deve ser nada. É invenção da minha cabeça que um leão deseja me devorar”.

Portanto, ao invés de valorizar esse sentimento de autoproteção, muitos preferem ignorá-lo, deixando de ler os sinais de sobrevivência. O risco de ser vítima de um crime aumenta na medida em que se nega sinais que o perigo está próximo.

O leitor já reparou nas atitudes dos policiais no interior de uma viatura?

Observe que o pescoço deles funciona como um radar, buscando ver, ouvir e sentir situações que possam levantar algum tipo de suspeita. Eles não estão passeando e sim rondando.

Já o motorista que está indo trabalhar ou passear, fica mais entretido com a música ou até mesmo o celular e não com os pequenos detalhes que estão acontecendo na rua.

A intuição é uma aliada importantíssima da segurança pessoal e tem como sinalizadores o sentimento de espanto, curiosidade, dúvida, hesitação, apreensão e também o medo. Ou seja, a intuição está sempre pronta para avisar, de alguma forma, sobre algo perigoso ou ruim que tem chance de acontecer.

Quer um conselho de alguém apaixonado em estudar e pesquisar sobre segurança pública e privada?

Jamais negue a voz da intuição, porque se negar, você diminui o tempo para se proteger e escapar do problema. É mais inteligente e seguro acreditar num pequenino sinal de sobrevivência do que pagar para ver e se arrepender em seguida.

Lembre-se que para aumentar seu nível de segurança pessoal, quando, eventualmente, sua intuição assim sinalizar, talvez seja necessário restringir um pouco a sua comodidade.

Portanto, não corra riscos desnecessários quando o alarme da intuição entrar em ação.

 

07Jorge Lordello

 

Imagens: cedidas pelo colunista.

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