Jorge Lordello: Os tipos de moradores e como a administração do condomínio deve se comunicar com cada um deles

Reuniões em condomínios costumam gerar debates acalorados, discussões e até brigas; quando o assunto é segurança, o clima esquenta ainda mais.

Mas por que isso acontece?

Porque, normalmente, prevalece o interesse pessoal. Cada um tem suas prioridades e as defende com absoluta veemência, abandonando, para tanto, os objetivos que favoreceriam o coletivo.

Já apresentei projetos de segurança para algumas centenas de condomínios verticais e horizontais. Com o tempo, fui percebendo que as perguntas ao final são sempre as mesmas. Por isso, forneço respostas que esclarecem dúvidas e minimizam problemas, buscando sempre gerar harmonia, clareza e o sentimento de necessidade de investimentos na área de segurança.

Com o intuito de ajudar síndicos na condução de assembleias, cataloguei categorias de moradores e passo a explicitar como pensam e o que desejam:

  • Morador do Contra: é aquele que fez parte da administração anterior e saiu do cargo com muitas críticas e dúvidas em relação a sua gestão. Assim, coloca-se contrário a qualquer mudança e defende com unhas e dentes o trabalho que realizou. Sempre apresenta obstáculos e resistência a qualquer ideia para melhorar o nível de segurança. Usa de todas as armas, desde apelos emocionados, levantando tom de voz, até argumentos equivocados e antiéticos. Dificilmente dará o braço a torcer; portanto, não adianta insistir em debater com ele. A melhor estratégia é isolá-lo.
  • Morador Comodidade: luta contra qualquer implementação na segurança, principalmente no tocante a triagem mais rigorosa no acesso de pessoas, veículos e mercadorias. É extremamente individualista e por isso defende seus interesses e não os desejos e necessidades da coletividade. Seus argumentos contra medidas de segurança são rasos, inventivos e sem embasamento técnico.
  • Morador Sabe Tudo ou Palpiteiro: é aquele que “acha” mas não tem certeza de nada do que argumenta. Geralmente, é desinteressado pelo dia a dia da administração do condomínio, mas aparece nas reuniões e adora palpitar, embora sem nenhum aprofundamento ou conhecimento técnico. Comenta e valoriza estratégias de segurança de outros prédios, mas não traz subsídio algum para engrandecer a discussão. Pouco conhece do trabalho realizado no local onde reside.
  • Morador Sem Noção: faz colocações sem pé nem cabeça e foge do tema debatido. Quem estiver presidindo a reunião deve ter habilidade para não entrar nesse tipo de debate que tira a concentração em relação ao assunto explanado. Pergunta fora do tema em debate não deve ser levada adiante.
  • Morador Inimigo: planta discórdia e mentiras no dia a dia do condomínio; alguns chegam até a fazer denúncias na prefeitura sobre supostas irregularidades da administração vigente, mas sem embasamento legal ou provas que sustentem suas argumentações. Luta contra a administração sem nenhum motivo aparente. Geralmente, acaba sendo isolado pela maioria.
  • Morador Desinteressado: raramente comparece às reuniões condominiais; seu mundo se restringe a área de sua unidade.
  • Morador Reclamão: nunca está satisfeito e tem hábito de reclamar por reclamar. Costuma não valorizar as melhorias implementadas. Sua lupa está voltada para defeitos e problemas que ele enxerga, mas que, necessariamente, não existem na prática.
  • Morador Invisível: entra mudo na assembleia e sai calado, mas presta atenção em tudo e, geralmente, vota a favor das sugestões propostas pela administração.
  • Morador Parceiro: valoriza o trabalho realizado pela administração e apoia as sugestões de melhorias, inclusive procura convencer os indecisos.
  • Morador Indeciso: costuma ficar encima do muro e seu voto é decidido na última hora. Costumeiramente, dá apoio à administração.
  • Morador Super Interessado: não deseja assumir as responsabilidades do cargo de síndico, mas se coloca à disposição da administração para ajudar no que puder com seu conhecimento. Normalmente, faz parte de comissão sobre assunto que possui algum domínio.

É de suma importância que a administração do condomínio entenda toda essa dinâmica para traçar estratégias que levem a aprovação de melhorias necessárias para a segurança. Aconselho que o síndico evite trabalhar sozinho ou que seja muito centralizador. O ideal é repartir responsabilidades com moradores que estejam alinhados com seus propósitos. Para tanto, indico que seja formada comissão de segurança composta de no máximo 2 a 5 moradores, conforme o tamanho do empreendimento. O ideal, é que essas pessoas tenham alguma afinidade com o tema e também queiram promover mudanças para minimização de riscos frente a violência urbana. Cada componente desse grupo de moradores ficará responsável por um determinado levantamento ou pesquisa.

Para que o trabalho tenha objetividade e o tema segurança seja tratado com profissionalismo e não com achismos, o ideal é a contratação de consultor de segurança para elaboração de projeto, de acordo com as necessidades e condições financeiras do contratante.

Um Plano de Segurança apresentado por profissional isento às questões do local a ser protegido e também não atrelado a empresas que vendem serviços ou equipamentos, é fundamental para a localização e identificação de todas as vulnerabilidades e encontro das melhores soluções de segurança para o condomínio. Essa providência vai estabelecer um norte para o administrador e aumentar sobremaneira as chances de aprovação das medidas recomendadas em Assembleia.

 

Jorge Lordello

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Imagens: Freepik

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