No final da década de 90, Colômbia e Brasil eram os países recordistas no mundo em matéria de sequestros. Naquela oportunidade, os dados publicados pelo Centro Internacional de Ciências Criminais e Penais (CISCP), em Paris apontavam que em 1998, 3.000 pessoas foram vítimas de sequestro na Colômbia, seguido pelo Brasil com 1.100 registros. O restante do ranking ficava com as Filipinas (425), Rússia (237) e, bem mais longe, Estados Unidos (39), Itália (36), Venezuela (24), Iêmen (14) e China (9).
A onda de sequestros naquela época no Brasil foi terrível e trouxe muito sofrimento a diversas famílias angustiadas por terem parentes sendo mantidos como reféns. Dada sua contundência e perturbação social, rapidamente, todos os estados da federação criaram Divisões Antissequestro (DAS), comandadas pela Polícia Civil.
Com o aprimoramento desse tipo de investigação, muitas quadrilhas foram desarticuladas e em dado momento o número de registros chegou próximo de zero, deixando, assim, as manchetes nos veículos de comunicação.
Mas a notícia que trago é péssima para os brasileiros!
A pandemia do crime de sequestro voltou e a onda de casos promete ser muito maior e mais violenta que a primeira. O vírus contagiante que funcionou como gatilho para o retorno do sequestro, cárcere privado e extorsão, chama-se “PIX”, que foi lançado em nosso país em setembro/2020 sem a devida preocupação com a segurança dos correntistas.
A promessa foi de substituir os ultrapassados DOC e TED, possibilitando transferência de dinheiro a qualquer hora e dia, com baixo ou nenhum custo e sem necessidade de intermediação de terceiros. Para dar mais agilidade e facilidade aos correntistas, foi criada a “Chave Pix”, que pode ser o CPF/CNPJ, e-mail, número de telefone ou a chave aleatória. Além disso, ainda há a opção de gerar um QR Code. Tudo fácil e prático para gerar comodidade ao cliente. Mas é o quesito segurança como fica?
A pandemia da transferência de dinheiro via aplicativos de bancos evoluiu vertiginosamente. O número de chaves PIX cadastradas já é o dobro da população brasileira, sendo que 95% das chaves são de pessoas físicas. O brasileiro, de uma hora para outra, passou a ter duas manias: smartphone e PIX.
É claro que a marginalidade, sempre atenta às possibilidades de levantar dinheiro de forma ilícita, percebeu rapidamente que a retenção de vítimas era a chave para esvaziar contas bancárias alheias.
E foi assim que o crime de sequestro voltou às páginas policiais. Agora com um complicador doloroso, visto que, na década de 90 o alvo das quadrilhas especializadas era o milionário, ou seja, a fatia da sociedade que corria risco era diminuta. Atualmente não, pois temos relatos de pessoas de classe média baixa que foram alvo das quadrilhas do pix e permaneceram horas e até dias, mantidas em cárcere privado.
Portanto, resta-nos esperar que a “vacina” que minimize essa pandemia de sequestros seja inventada brevemente e produzida em larga escala.
A conclusão, é que, pelo andar da carruagem, teremos que conviver por muito tempo com esse vírus mortífero que gera danos irreversíveis em contas bancárias e no emocional das vítimas e familiares.
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