Pela segunda vez, a BYD fez questão de mostrar seu magnífico navio ro-ro (específico para transporte de veículos que entram e saem rodando), de última geração, que nada mais é que um “presente” do governo da China, desembarcando 5.524 carros desta vez no porto de Aracruz (ES). Ao mesmo tempo em que procura demonstrar uma posição de força junto ao mercado, fica claro que nenhum outro importador em qualquer época pôde ou pode se dar a essa ostentação.

Como a empresa vem formando estoques enormes a fim de driblar o aumento gradativo do imposto de importação sobre elétricos e híbridos, está sendo obrigada a dar descontos generosos para continuar sua escalada de vendas. Quem comprou seus carros antes, deve estar pouco feliz com o futuro valor de revenda. Seus planos de produção em Camaçari (BA) continuam envoltos em mistério e, tudo indica, que a etapa de simples SKD (agregação de conjuntos semidesmontados) de veículos importados vindos praticamente prontos da China será longa ou, no mínimo, pouco animadora.
Sinal disso, no mesmo tom da Anfavea, foi a crítica do Sindipeças que reúne produtores de componentes, em grande parte de capital nacional, até agora nem ao menos sondados sobre possíveis contratos de fornecimento. O presidente do sindicato, Cláudio Sahad, disse que “países com indústria automobilística instalada não praticam imposto tão baixo para importações de elétricos e híbridos, tornando o mercado brasileiro um alvo fácil”.
GWM, segunda marca chinesa em vendas aqui, que adquiriu a fábrica da Mercedes-Benz, em Iracemápolis (SP), evidencia transparência. Começará a operação local no próximo trimestre apenas comprando de fornecedores locais rodas, pneus, bancos e vidros (para-brisa continuará importado, a exemplo do restante do carro).
BYD serve à estratégia de “campeã nacional” do governo central chinês e isso fica longe de surpreender. De fato, fora de tom é rufar tambores de novo para o desembarque numeroso de veículos importados, quando em contraste exportar se enquadra em algo mais digno de atenção. Faltou sensibilidade para compreender coisa tão simples. Soa como provocação e iniciativa nada a agregar.
Bom bimestre não muda projeções 2025 da Fenabrave


Os dois primeiros meses do ano somaram 332,5 mil unidades vendidas entre automóveis e comerciais leves e pesados, crescimento de 8% sobre o mesmo período de 2024. É um bom resultado, contudo influenciado pelo número de dias úteis de fevereiro que este ano não teve Carnaval, embora as duas últimas quinta e sexta-feira tenham sido às vésperas da longa festa nacional, responsável por afastar compradores das concessionárias.
De acordo com Arcelio dos Santos Jr., presidente da Fenabrave, os números são animadores — melhor primeiro bimestre desde 2014, se somadas também as motocicletas —, entretanto ainda cedo para pensar em revisão. A federação espera em 2025 crescimento de 5% sobre o ano passado para automóveis e veículos comerciais. Anfavea projeta praticamente o mesmo resultado: aumento de vendas de 6%.
Automóveis cresceram 9% em fevereiro sobre janeiro, acima dos comerciais leves (picapes e furgões, basicamente), cujo resultado foi de 7%. Permanece também o avanço nas vendas de modelos híbridos que progrediram 69% em relação ao primeiro bimestre de 2024, sem esquecer de que percentuais elevados refletem uma base comparativa muito baixa. Quanto aos 100% elétricos, houve quase estagnação — apenas mais 2% sobre o mesmo período do ano passado. Reflete exatamente o cenário externo atual de acomodação ou recuo da demanda.
A observar os próximos meses e sentir quanto inflação e juros, ambos ainda em ascensão, poderão mudar o humor e em especial pesar no bolso daqueles que ambicionam comprar ou trocar de carro.
Segurança impõe volta aos botões físicos tradicionais


As telas de toque pareciam uma solução elegante e atraente, sem volta aos tradicionais botões que nasceram juntamente com os automóveis há 140 anos. A influência de celulares e tabletes chegou de forma avassaladora e exagerada. Entretanto, logo ficaram claras as sérias limitações ao desviar o olhar e/ou a atenção dos motoristas. Há de se reconhecer que também o fator custo, em geral mais baixo, pode ter levado aos exageros observados quase como regra.
Isso começou a ser mais bem pesquisado. A entidade Euro NCAP que executa testes de colisão desde 1997 e classificação por estrelas, ampliou os estudos para outros aspectos da segurança veicular. E vai limitar a quatro estrelas, do máximo de cinco, os modelos que por critérios objetivos exagerem nos comandos por toque e não apenas em telas.
Renault foi uma das primeiras, no final de 2024, a reconhecer que certas funções não podem depender de tato ou de desvio do olhar. Nos próximos lançamentos vai mudar. Por outro lado, a VW acaba de anunciar uma revisão total dos conceitos atuais em vários de seus modelos que incorporam controles deslizantes e comandos táteis. O chefe de projetos, Andreas Mindt, foi taxativo à Autocar inglesa:
“Nunca mais cometeremos esse erro. Volume de multimídia, pisca-alerta e controles de ar-condicionado central e laterais terão apenas botões. No volante e na coluna de direção só botões e alavancas. Acabará a adivinhação. Honestamente, carro não é telefone”, reconheceu.
Taycan Turbo GT tem aceleração quase de F-1


Com a gama 2025 de 10 opções, inclusive de carrocerias, o primeiro carro elétrico da Porsche lançado em 2019 demonstra como um mero sedã de quatro portas pode surpreender. Aceleração de 0 a 100 km/h (com controle de largada) começa em 4,8 s (408 cv) e vai à estonteante versão de topo (e pacote Weissach) que entrega até 1.034 cv, 126 kgf·m e acelera de 0 a 100 km/h em 2,2 s. Em certas condições este tempo pode baixar de 2 s, o que ocorreu no teste da revista americana Car and Driver.
Um dos destaques, o novo motor elétrico traseiro entrega 109 cv a mais que a geração anterior e ainda é 10,4 kg mais leve. No pacote Sport Chrono, ao toque de um botão a potência aumenta até 95 cv durante 10 s (como referência um ótimo motor a combustão de 1 litro produz 80 cv). O desempenho máximo é garantido pelo pacote Weissach. Este inclui a redução da massa total em 75 kg pela utilização de compósito de fibra de carbono e substituição do banco traseiro por uma tampa bem desenhada, o que melhora a relação massa-potência.
No modelo de primeira geração, o tempo de carregamento de 10 a 80%, a 15° C, era de 37 minutos. Sob as mesmas condições, o Taycan atualizado leva apenas 18 minutos, apesar de sua maior capacidade de bateria (passou de 93 para 105 kW·h), um grande avanço. Porém, é bom lembrar, que a recarga até 100% pode levar o dobro do tempo ou mais em função de temperaturas muito altas ou muito baixas. Sem esquecer: só em raras estações de recarga DC, de 800 V, muito caras.
Também recebeu retoques de estilo nos para-lamas dianteiros, faróis de matriz HD, lanternas e novas rodas em todas as versões. Segue a filosofia da marca alemã de evoluir continuamente ao longo das gerações, sem romper com aspecto geral do modelo cujo exemplo (incomparável) é o 911.
Uma experiência impressionante: a volta completa no autódromo Velocittà, em Mogi Guaçu (SP). Além da nova suspensão pneumática evoluída que controla rolagem da carroceria de modo surpreendente, a capacidade de acelerar é quase indescritível em especial nas saídas de curvas e na reta principal relativamente curta, porém em descida. A potência dos freios faz até “esquecer” dos 2.305 kg de massa.
Em Interlagos, o piloto Felipe Nasr, com o Turbo GT, conseguiu baixar agora em 7,7 s o tempo de volta anterior (2022).