Quando um romance tem início ele não é uma emoção, é um estado motivacional que dá coragem para alguns tipos de nossos comportamentos vitais.
O fato de esta sensação ocorrer é uma recompensa produzida por caminhos antigos de nosso cérebro, assim como temos as sensações que nos motivam a comer e beber. Esta sensação se torna algo que nos arrasta e a pessoa do outro lado agora é o objetivo de nossa vida.
Uma experiência realizada por Lucy L. Brown, neurocientista da Faculdade de Medicina Albert Einstein, New York e o psicólogo Arthur Aron, usou imagens de ressonância magnética funcional para ver como os cérebros respondiam a imagem da pessoa amada, em contraste com a figura de uma pessoa conhecida. Ao observar a pessoa amada ativava nos apaixonados o sistema neural inconsciente associado à recompensa, o qual surgiu no início dos mamíferos para encorajar comportamentos vitais, alguns com sinais mais fortes que outros nas áreas corticais envolvidas na cognição e na emoção.
Apaixonar-se, portanto encoraja nossos comportamentos vitais.
Por outro lado o fim de uma relação amorosa cria uma sobrecarga psíquica e física, que parece nos destruir e no final nos prepara para recomeçar de alguma maneira.
Todo final sempre faz uma revolução em nossa conduta emocional, ainda mais se formos pegos de surpresa pela outra parte.
O que era um encorajamento de nosso comportamento vital se transforma muitas vezes em raiva, insegurança, carência, saudade, dor e uma vontade de vingança para dar um toque final neste coquetel de emoções degenerativas.
Não interessa qual seja a reação, o laço do sofrimento nos aperta, nos bloqueia e vai nos tirando de nossa linha de conduta.
Se um final nos traz tantos problemas, deveríamos ter forças para esquecê-lo e recomeçar outro, mas não é bem assim.
Quando nos apaixonamos por alguém criamos uma atividade cerebral e duas regiões cerebrais: nas partes do núcleo caudado e da área tegmentar ventral direita no mesencéfalo.
Em ambas as regiões há células neurais que se comunicam através da substância mensageira, a dopamina, e reagem de forma sensível àquilo que causa bem-estar – como alimentos que gostamos, ou mesmo diante apenas da chance de prová-los. O fato de a paixão estar relacionada a esse “sistema de recompensa”, mostra que o que estamos habituados a conhecer como “sentimento” é um estado de motivação. Um cenário não tão romântico. Preferimos as tramas do destino que nos unem e nos separam aos mecanismos neurológicos cuja função é aplacar uma necessidade biológica e garantir a sobrevivência de uma maneira melhor.
Esta mesma equipe de cientistas estudou a atividade cerebral de pessoas apaixonadas, porém infelizes por terem perdido a pessoa amada. Embora os pesquisadores reconheçam não saber com precisão o que se passa no cérebro das pessoas nestas situações, admitiram que aparentemente a elevada atividade na área tegumentar ventral direita no mesencéfalo e em regiões do núcleo caudado ligadas a ela, continuam ativas como se o relacionamento estivesse indo bem, mesmo tendo terminado.
Eis talvez o segredo da paixão, e a razão de quando ela acaba nos causar dor: nosso cérebro continua amando em conflito e ao inverso de nosso corpo que experimenta a realidade de sofrer.
Numa separação primeiro vem o protesto, em seguida o desespero. No protesto a pessoa tenta obstinadamente recuperar seu amor, tenta entender o que deu errado e como poderia recuperar e acertar as coisas. Esta reação está conjugada com dopamina e noradrenalina, neurotransmissores que aumentam o instinto de vigilância, fazem com que a pessoa solitária reconheça a falta e busque o que necessita. Isto explica cientificamente, o fato de logo após o abandono o aumento do interesse pela pessoa perdida ficar mais intenso.
O amor também tem esta característica de nos causar uma travação neuronal.
Melhor que sofrer por amor, é aprender a ser feliz por amor, a natureza humana nos dá estas duas possibilidades, nosso empenho no desenvolvimento de competências sentimentais vai definir com qual das duas teremos de conviver.
Existem coisas muito difíceis de serem praticadas num relacionamento, mas são extremamente necessárias.
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