Lilian Schiavo: Com carinho e com afeto

Na semana passada fui surpreendida com dois presentes que me fizeram refletir sobre sororidade, recebi mimos fora de época e como efeito colateral percebi um aumento no nível dos hormônios da felicidade, uma verdadeira injeção de dopamina, serotonina, endorfina e ocitocina.

Gosto de contar histórias, mas também gosto de prestar atenção nas histórias de outras pessoas, e nesse ponto, devo dizer que as mulheres são dotadas de uma sensibilidade especial e um modus vivendi totalmente particular.

Quantas de nós já saiu de casa especificamente para comprar um sapato preto e voltou para casa com uma blusa verde abacate linda e sem o bendito sapato preto?

Somos capazes de passear com as filhas ou amigas durante horas, andar sem rumo, jogar conversa fora e tomar litros de café enquanto descobrimos parques, livrarias e confeitarias.

Voltando ao foco, uma amiga malaia voltaria para seu país natal e antes de partir contou que preparou uma surpresa, um presente especial, algo que ela mandou fazer para nosso grupo de amigas, um caftan pintado à mão, totalmente handmade. Quando recebemos, percebi que ela havia escolhido desenhos e cores diferentes para cada uma de nós, então pude sentir o carinho e amizade que vieram embutidos na roupa, peças únicas para pessoas únicas!

Outra amiga mora na Europa, trabalhamos juntas como voluntárias numa rede global de mulheres, nunca tivemos a oportunidade de nos conhecer pessoalmente, mas ao final de uma reunião virtual ela pediu meu endereço, disse que era para enviar algo pelo correio, imaginei que fosse algum documento, mas errei redondamente.

Na verdade, era um mimo, um prendedor de cabelo feito com uma técnica singular, típica da cidade de Toledo, na Espanha, o damasceno, uma arte milenar que consiste na incrustação de ouro 24 K, ouro 18 K e prata numa base de ferro talhada por cinzel e martelo.

Então ela me conta a história deste presente…

Era um dia de verão, ela deixou o filho na escola, entrou no carro e partiu para visitar Toledo sozinha…fazia anos que ela não ia para lá, seria uma viagem de 2 horas, um mergulho em ruas medievais, igrejas antigas, museus, caminhos estreitos de paralelepípedos que contavam histórias em cada esquina, em cada construção.

Uma mistura das culturas árabe e espanhola que transforma a arte em mistério, uma beleza estética que vai além da arquitetura, um lugar onde você respira cultura.

Ao chegar na cidade ela viu este prendedor numa loja e achou um presente perfeito.

Com certeza existem coisas que não tem preço, mas tem valor inestimável e a amizade é uma delas.

Esta amiga é uma analista política, uma escritora que tem o hábito de buscar inspiração para seus artigos em exposições de arte e igrejas onde aproveita o silencio para agradecer e meditar.

Ao voltar para casa me avisou que havia me enviado um presente pelo correio, então passei semanas feito criança esperando o Papai Noel, todos os dias acompanhava a chegada do carteiro… até que finalmente meu pacote chegou e eu me emocionei muito quando ela me contou essa história.

Convivendo com tantas mulheres, é comum me perguntarem se somos rivais ou concorrentes, se temos inveja umas das outras, se puxamos o tapete, se brigamos, se fofocamos, se criamos intrigas. Respondo que mulheres inteligentes não competem entre si, mas se apoiam, ajudam a outra a subir de patamar, criam laços de amizade e solidariedade.

Quando mulheres se reúnem numa roda de conversa é possível sentir a empatia no ar, a vergonha vai embora e somos capazes de contar nossas dores, dizer que estamos tristes, que passamos por dificuldades, somos capazes de chorar no ombro da amiga, pedir um abraço, relatar segredos que estavam escondidos.

No nosso grupo somos mulheres reais, que já passaram por altos e baixos, mergulharam em abismos, enfrentaram portas fechadas e humilhações, ganharam títulos e prêmios, tiveram fracassos e sucessos, caíram e levantaram, como fênix.

Quando estamos juntas não adquirimos superpoderes, mas ganhamos asas para voar.

” A humanidade sempre teve medo de mulheres que voam. Sejam elas bruxas, sejam elas livres.”

 

Lilian Schiavo

 

**O conteúdo e informação publicado é responsabilidade exclusiva do colunista e não expressa necessariamente a opinião deste site.

 

Imagens: Arquivo pessoal da colunista

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