Lilian Schiavo: Flores para homens.

“Eu sou uma mulher que dá flores para um homem. Ele é um homem que recebe flores de uma mulher. E isso deveria ser comum.”

Esta frase foi escrita por minha filha.

Fui criada numa família de mulheres atípicas, a avó materna estava prometida para casamento e foi se despedir do irmão que estudava na universidade em Tóquio, conheceu e se apaixonou pelo melhor amigo dele, um mestiço de chinês com holandês… o amor fulminante venceu e eles fugiram para o Brasil.

A outra avó priorizava a educação, era muito culta e formada em literatura japonesa. Ao ficar viúva, assumiu a direção da empresa, uma farmácia fundada pelo marido. Imagino as dificuldades dela que falava um português precário, uma empresária mulher negociando e atendendo fornecedores e clientes no século passado, anos 40 e 50.

Minha mãe cismou que seria médica numa época em que a maioria das mulheres escolhiam outras profissões, conseguiu se formar em medicina em 1954 e viveu rompendo barreiras e preconceitos. Ela me dava livros da Simone de Beauvoir para ler, falava sobre a importância da independência e só quando me tornei adulta percebi que fui criada por uma feminista ativista.

Meu pai contava histórias da Madame Curie, Florence Nightingale, Frida Kahlo, Cleópatra e Anne Frank… dizia que as mulheres eram extraordinárias e podiam chegar onde quisessem.

Sou casada há 35 anos com um homem que sabe cozinhar, que divide as tarefas domésticas, que me incentiva a aceitar desafios, que quando percebe que estou com medo me diz que vou conseguir, que me apoia, um marido e pai amoroso, um exemplo para nossos filhos.

Segundo o “Relatório Mundial sobre a Desigualdade de Gênero 2020” do Fórum Econômico Mundial o Brasil ocupa a 92° posição num ranking de 153 países.

Veja Também  Lilian Schiavo: Autoconhecimento

A previsão é que a América Latina e Caribe levarão 59 anos para atingir a igualdade de gênero, sendo que o Brasil precisará de mais tempo pois ocupa o 22° lugar entre 25 países.

As mulheres representam maioria na população do país, nos bancos das universidades, nas decisões de compra e minoria nos postos de liderança, no Legislativo, no Executivo, no Judiciário.

Costumo dizer que lugar de mulher é onde ela quiser mas para isso a mudança deve começar em casa, na criação dos filhos, na nossa própria vida.

Nesta semana, numa conversa sobre inclusão, ouvi a teoria do banquinho… temos um muro alto, 2 pessoas, uma com 1,50m e outra com 1,80m de altura, 2 banquinhos de 0,60m.

É óbvio que assim não há igualdade de oportunidades, o mais baixo precisa de um banquinho mais alto para enxergar do outro lado do muro.

A igualdade de gênero se refere a 4 áreas: educação, saúde, trabalho e política sendo que os índices que se referem a saúde e educação demonstram bons índices de paridade.

A maior desigualdade é em relação a desigualdade salarial, postos de liderança nas empresas e participação na política.

Precisamos continuar, é uma longa caminhada com passos firmes e lentos, mas com muita esperança que unidas possamos derrubar muros, abrir portas, construir pontes, abrir asas e voar para onde quisermos.

Só para terminar, eu também sou uma mulher que dá flores para um homem. Ele é um homem que recebe flores da mulher. E isso é comum entre nós.

 

Lilian Schiavo

 

 

Imagem: Freepik

Loading

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Compartilhe esta notícia

Mais postagens