Lilian Schiavo: Mulheres e espaços de poder

O que esperar de uma arquiteta? Passo o tempo desconstruindo preconceitos, derrubando muros e paredes, erguendo pontes, abrindo portas e janelas, conectando pessoas.

Tenho a felicidade de participar de fóruns internacionais que proporcionam debates incríveis, cada speaker de um país diferente, com culturas diferentes, discutindo de forma civilizada temas relacionados à economia, empresas e poder.

Desta vez, debatemos sobre a presença feminina na política e nos negócios, inclusão e diversidade, experiências vividas, meritocracia, talentos escondidos, conciliação familiar e laboral.

Na Espanha existe um plano de igualdade de gênero onde o sistema de cotas está incluso, a Argentina é pioneira na política de cotas e já atingiu a paridade em alguns setores, uma palestrante salientou que os direitos das mulheres são direitos humanos, o problema é que a teoria na prática é outra.

Uma diplomata relatou que durante uma reunião onde era a única mulher, perguntaram se ela poderia fazer um café para eles… óbvio que ela nem se levantou, mas sentiu na pele a discriminação, lembrei de uma situação onde um por um erro de protocolo a presidente da Comissão Europeia ficou sem lugar para sentar numa reunião com autoridades.

Shirley Crisholm, a primeira deputada negra dos EUA, em 1968 deixou algumas declarações inesquecíveis: “Se eles não te oferecem um lugar à mesa, traga uma cadeira.

“Talentos imensos são perdidos em nossa sociedade pelo simples fato de estarem vestindo saia. ”

Outro assunto foi o recrutamento às cegas, um método de seleção que analisa apenas as competências dos candidatos nas primeiras etapas, onde a escolha independe da idade, gênero, aparência, universidade, experiências passadas e local de domicílio.

Imaginem quantos talentos são descobertos numa seleção às cegas, o normal é passar um pente fino, verificar se a mulher está em idade fértil, se pretende engravidar, se tem filhos, se é idosa, gorda, onde mora, onde estudou, verificar as redes sociais, vasculhar a vida pessoal, e quando não te aceitam inventam até a desculpa da aura que não combinou com a do contratante.

Segundo levantamento do Fórum Econômico Mundial, as mulheres ocupam 37% dos cargos de liderança em 2022, sendo que em ONGs e associações 47%, em educação 46%, em serviços pessoais e de bem-estar 45%, em tecnologia 24%, em energia 20% e em infraestrutura 16%.

 A União Parlamentária estimou uma cifra global de 25% a 5%, ou seja, existe um enorme desequilíbrio, uma necessidade de impulsionar a participação feminina na política.

Até agora nenhum país atingiu a paridade de gênero, sendo que a Islândia lidera o ranking global com 90,8%, seguido pela Finlândia 86%, Noruega 84,5% e Suécia 82,2%.

O Brasil ocupa o 94º lugar com 69,6% entre os 146 países avaliados.

Entrei na faculdade de arquitetura em 1977, minha filha ingressou na mesma universidade em 2011, uma diferença de 34 anos e para minha surpresa quando fui assistir a apresentação da tese de graduação dela me deparei com uma parede escrita com depoimentos das alunas.

Uma tristeza, eram histórias iguais à que tínhamos passados décadas atrás, quase nada havia mudado, as barreiras eram as mesmas.

Escutávamos homens, inclusive professores, que duvidavam que mulheres eram capazes de realizar cálculos integrais e estruturais, diziam que somos emotivas e beiramos a histeria, que iríamos de salto alto visitar a obra, que mulher com saia curta e decote não é levada a sério, que não suportaríamos a poeira e teríamos receio de entrar num galpão abandonado para fazer medições em meio a baratas e ratos.

Na verdade, as dúvidas não são sobre as arquitetas, mas sobre as mulheres que decidem fazer algo diferente, ocupar espaços, desafiar as convenções, inventar, reiniciar a vida.

No fórum escutamos relatos de mulheres que sofreram todos os tipos de violência, inclusive violência política, que envolvem comportamentos para humilhar, constranger, ameaçar ou prejudicar uma candidata ou mandatária em razão de sua condição feminina.

É por tudo isso e mais um pouco que as mulheres se unem em redes, se apoiam, falam sem parar, até serem ouvidas, até serem respeitadas.

 

 

 

**O conteúdo e informação publicado é responsabilidade exclusiva do colunista e não expressa necessariamente a opinião deste site.

Imagem: Freepik

Uma resposta

  1. Excelente matéria Lilian!
    Nós mulheres temos que nos unir para defendermos nossos direitos!
    Chega de preconceitos, assédios morais e sexuais👏👏👏👏👏👏👏👏

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