Lilian Schiavo: Uma aula de humildade

Faço parte de um grupo de mulheres que está em constante movimento, se reinventando e se virando, visto que o planeta não para de girar e nós precisamos continuar em frente.

Quando digo que estamos nos movendo, pode ser até mesmo sem sair do lugar, viajando em pensamentos ou na frente da tela do computador, já que durante muito tempo não tínhamos mesmo para onde ir , o jeito foi usar a imaginação e a internet para aprender novas coisas e conversar com o mundo todo.

A nossa última invenção foi um curso de inglês, gratuito e entre amigas.

A maior parte de nós já estudou, algumas até moraram no exterior, outras viajaram muito, e agora, após tantos anos passados, conseguimos ler e entender mas temos uma grande dificuldade no falar.

Primeiro dia, imagina que mico quando suas amigas descobrirem que na hora que abre a boca surge um inglês macarrônico ou, pior ainda, surge um vazio gigante no cérebro e você nem consegue lembrar como era o bendito “the book is on the table”?

O que nos moveu foi a possibilidade de uma viagem para um país distante num congresso internacional…então lá fomos nós com a cara e coragem para nossa aula inaugural.

Descobrimos como é difícil se apresentar na frente umas das outras…parecíamos estudantes do ginásio, com aqueles uniformes engomados e uma timidez absurda. As palavras sumiam da memória, a língua travava e você sentia o rosto corando de vergonha.

Então, aconteceu uma mágica, olhei e todas se solidarizavam, acenando com a cabeça e sorrindo para incentivar a outra a continuar, sem se importar com os erros.

Para ser uma boa aprendiz é necessário ser humilde, então fui procurar no dicionário a definição de humildade…é a virtude caracterizada pela consciência das próprias limitações, modéstia, simplicidade. É a característica das pessoas que sabem assumir as suas responsabilidades, sem arrogância, prepotência ou soberba.

Observei o que acontecia quando uma de nós errava, ao invés de uma bronca, éramos corrigidas com empatia e amor.  Sem stress, sem olhares de reprovação, muito pelo contrário, cientes que é bom errar agora para fazer bonito depois.

Fiquei com pena daquelas que preferem fingir que sabem tudo e na hora H não conseguem sequer pedir um copo de água, as que pedem para você escrever e dão a desculpa que estão sem óculos… elas perdem a grande chance de aprender, se aperfeiçoar e principalmente de se divertir em grupo.

São as solitárias, as que não conseguem ter amigas, as que imaginam que estão num patamar acima da humanidade, as que querem se exibir como se já soubessem tudo, as que não se misturam, não socializam.

Sou do tipo que prefere pedir ajuda quando necessário, admito quando não sei, olho no espelho e reconheço que não sou perfeita, não sou um ET, sou igual a todo mundo, com altos e baixos, qualidades e defeitos, com dias em que acordo sorridente e feliz como um personagem de uma fábula e outros em que estou cabisbaixa como aquela hiena do cartoon que dizia oh dia, oh azar!

Aprender é um exercício de humildade e isso serve para a vida!

A questão não se restringe aos conhecimentos escolares, ser humilde diz respeito também ao convívio com os outros, e cabe salientar que o humilde não é um tolo e nem um coitado, não é vítima nem ignorante.

Uma pessoa com humildade age com empatia, é capaz de aceitar e entender o outro, tem atitudes altruístas e dignas, se posiciona sem se achar superior, tem gratidão e reconhecimento aos que a ajudaram a adquirir conhecimentos, títulos e posições de liderança.

São virtudes dos humildes: sabedoria, nobreza, tolerância, cordialidade e respeito. Lembro dos monges com sua sabedoria milenar e postura servil e humilde, dos sentimentos nobres que te impulsionam a ser solidário com a dor alheia, da empatia necessária para viver a inclusão e diversidade, da necessidade de sermos cordiais com todas as pessoas para pregar a paz, do respeito que devemos ter com os que divergem da sua opinião, da sua crença ou do seu posicionamento político.

Uma das características dos humildes é se alegrar com coisas simples e pequenas, isso é excelente pois te faz sorrir e ser feliz facilmente, afinal, a vida não é feita só de grandes momentos, mas da soma de instantes, sabe aquela sensação boa de ver um arco íris, sentir o sol batendo no seu rosto ou do cheiro de grama molhada depois da chuva?

Conclusão, se você conhece alguém que vive com o rei na barriga, se achando a última cereja do bolo, tente explicar para ela as vantagens de calçar as sandálias da humildade e ser livre. Com certeza, tentar se manter num pedestal inatingível suga a energia e pode te deixar doente física e mentalmente.

Quem sabe ela te escute e aprenda a ser mais leve, capaz de abandonar todo esse peso supérfluo e comece a alçar voos altos e colecionar amigos e amores.

“Quanto maiores somos em humildade, tanto mais próximos estamos da grandeza.”  Rabindranath Tagore

Lilian Schiavo

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Imagem: Freepik

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