Desta vez vou fazer diferente, este é um texto escrito a 4 mãos, como aquelas partituras de piano onde 2 pessoas se sentam para tocar a mesma música em conjunto, em harmonia.
A diferença é que será em partes, como numa peça de teatro com 2 atores fazendo monólogos.
Parte 1: Diário da minha filha Alessia Schiavo:
“Hoje é um dia muito importante para mim!
04 de janeiro
O dia que renasci.
Meu segundo aniversário!
Nem todo mundo conhece a minha história, então vou contar brevemente!
No dia 13 de novembro de 2018 eu fui internada.
Fui para o pronto socorro por conta de uma dor de cabeça que estava me incomodando há dias e de lá fui encaminhada para internação.
Para minha surpresa, encontraram uma “mancha” na minha tomografia de crânio.
“Mancha”. Nunca vou me esquecer das exatas palavras que o médico plantonista me disse quando comunicou minha internação.
Apesar de muito assustada, e sem fazer ideia do que seria essa tal “mancha”, no fundo estava preocupada com minha viagem que estava marcada para o dia seguinte e eu não queria perder.
Mal sabia eu o que está por vir.
E após fazer a ressonância, veio o meu diagnóstico.
TUMOR CEREBRAL.
Passei por um longo período de choro, de negação, de raiva, de medo, de um mix enorme de sentimentos. Mas graças a Deus, sou uma pessoa muito abençoada e tenho ao meu lado pessoas incríveis que não deixaram minha peteca cair. Meu amor, minha família e meus amigos, minha eterno obrigada!
Não foi fácil, confesso.
Durante a internação, tive bastante tempo para pensar e sentir tudo aquilo.
Foi difícil aceitar que eu, logo eu, tinha um tumor no cérebro.
Mas como? 26 anos, jovem, completamente saudável, me alimentando bem e me exercitando, como?
Pois é, hoje entendo o motivo disso tudo, mas na época só conseguia questionar.
A equipe de neurocirurgiões queria me operar de imediato. E eu, nada imediatista que sou, neguei. (Claro, primeiro fui entender a urgência da cirurgia imediata, fui entender os riscos de vida e consequências).
Queria ir para casa, ouvir outras opiniões, escolher a equipe médica (afinal de contas, estava confiando meu cérebro nas mãos dessas pessoas).
No dia 16 de novembro recebi minha alta. Nesse dia, nasceu uma nova Alessia.
Conheci uma força e uma coragem dentro de mim que não imaginava existir.
Do momento que saí do hospital, não derramei mais uma lágrima sequer por conta do meu diagnóstico. Apenas lágrimas de emoção com tanto carinho e apoio que recebi das pessoas que amo!
Foi ali que entendi que precisava passar por isso. Ao invés de lamentar, precisava agradecer pela oportunidade de viver. Afinal de contas, não é todo mundo que tem essa benção!
Bom, depois de MUITAS consultas médicas, entendi que eu PRECISAVA de fato fazer a cirurgia para remover o tumor.
Foi então na minha consulta com o dr. João que finalmente senti segurança em deixar meu cérebro nas mãos dele. Não podia ter escolhido melhor!
Hoje continua sendo meu médico que faz o acompanhamento dos meus aneurismas (sim, não bastando o tumor, após a cirurgia descobri dois pequenos aneurismas.) Minha eterna gratidão Dr. João!
Durante a consulta, perguntei para o Dr. João se poderia passar o Natal e Ano Novo com minha família e fazer a cirurgia logo após. Ele permitiu e marcamos a cirurgia para o dia 04 de janeiro.
No dia 01 de janeiro de 2019 o dia amanheceu grandioso, com um céu de uma beleza incrível, como um sinal que tudo ficaria bem.
No dia 03 de janeiro de 2019 estava um pouco inquieta e pedi para passearmos de carro, para passar o tempo e distrair um pouco. E presenciei mais um sinal de que tudo ficaria bem, foi o último pôr do sol antes da cirurgia com um céu que parecia uma pintura, bem raro de se ver em SP.
O grande dia chegou. A cirurgia correu bem e haviam removido 100% do tumor, e para confirmação do diagnóstico, o tumor era benigno, e eu já estava curada!
Ao voltar para casa, meu cachorro gigante, meu filhote chamado Tude, que sempre foi muito serelepe, por algum motivo sabia que não podia pular em mim, principalmente na minha cabeça. Vinha delicadamente e deitava ao meu lado.
Dia 10 de janeiro de 2019.
6 dias após minha cirurgia, eu já estava me sentindo muito bem e entediada de ficar na cama o dia todo. Então, minha mamãezinha linda me levou para almoçar fora, dar um respiro.
Estava envergonhada por causa da cicatriz, não queria encontrar ninguém conhecido e passamos o almoço assim, as duas com enormes óculos escuros.
Meio rabo de cavalo foi meu único penteado possível pelos próximos 4 meses, até meu cabelo começar a crescer e esconder a cicatriz.
Dia 11 de janeiro de 2019.
Dessa vez, foi meu amor que percebeu minha inquietação em ficar de repouso o dia inteiro e me levou para o shopping para vermos nossas alianças.
Nosso casamento estava marcado para 2020, mas por conta da pandemia tivemos que adiar mas finalmente iremos casar neste ano!!
22 de janeiro de 2019.
Com o passar dos dias estava cada dia melhor! Então decidimos fazer nossa primeira viagem pós cirurgia, com apenas 18 dias. E teve médico (o primeiro que queria me operar de imediato) que falou que teria que ficar 30 dias sem levantar da cama.
Enfim, toda essa retrospectiva para me lembrar mais uma vez como temos que agradecer pela nossa maior riqueza, a vida!
E a pane.ria provavelmente não existiria se eu não tivesse vivido tudo isso e passado a enxergar a vida de outra perspectiva.”
Parte 2: Relato de uma mãe
Quem olha para a minha filha nem imagina a força e a coragem escondidas atrás desta carinha de menina.
Ela é um grande exemplo de superação!
Confesso que nunca imaginei que passaríamos por essa experiência, mas sem dúvida, deixou grandes lições para todos nós.
Costumo falar sobre coragem, resiliência, empatia…passo boa parte do tempo apoiando as mulheres a seguirem seus sonhos, a serem protagonistas da própria vida, a não se deixarem abalar pelas más notícias.
Encorajo o empreendedorismo feminino e a independência financeira, incentivo as mulheres a acreditarem em si mesmas, que abandonem o papel de vítimas, que deixem de reclamar, de culpar os outros e o mundo, que tenham coragem para enfrentar os inúmeros desafios que surgem.
Quem me ouve deve pensar: falar é fácil, quero ver como isso funciona na vida real…
A Alessia encarou o tumor, um burnout, descobriu mais 2 aneurismas, preparou o casamento e quando estava tudo pronto: vestido, festa, madrinhas e padrinhos, viagem de lua de mel, etc e tal veio a pandemia e o sonho teve que ser adiado.
E com esse pacote de surpresas e incertezas, ela se reinventou, largou o trabalho, abriu seu próprio escritório de arquitetura, fez cursos, virou padeira artesanal e abriu a segunda empresa: a pane.ria.
Já que é para empreender e trabalhar, ela foi com tudo! Sem medo de ser feliz!
Sim, durante a pandemia ela viu novas oportunidades, e para quem pensa que foi fácil, que ela teve ajuda de uma equipe de marketing, finanças, administração…ledo engano, a Alessia fez tudo sozinha!
Lembro do dia em que desenhou o logo, escolhendo as cores, as letras, depois contou as receitas que faria. Bom mesmo foi o momento de provar os sabores, conhecer as delícias e parabenizar.
Olho para ela e sinto um imenso orgulho da guerreira inspiradora que ela se tornou, da sua capacidade de lidar com as dificuldades e dores, da forma como encontra soluções, transformando ideias em realidade.
Sem dúvida ela é uma vencedora e eu sou uma mãe babona que agradece a Deus pelos milagres vividos, pelas bençãos recebidas e principalmente por nossas vidas!
A moral da história vocês já conhecem: nada é impossível e o amor sempre vence!
Lilian Schiavo
**O conteúdo e informação publicado é responsabilidade exclusiva do colunista e não expressa necessariamente a opinião deste site.
Imagem: Arquivo pessoal da colunista (publicação reliada Intagram)
Uma resposta
Lilian, que historia comovente! E particularmente uma lição de moral pra mim … Desde a madrugada de quarta para quinta feira tendo tido crises de Exaqueca e fiquei protelando por dias minha ida ao hospital, pq tinham muitas tarefas profissionais para fazer … mesmo passando mal segue realizando as … porem na sexta o quadro ficou cada fez pior, então ao final do dia resolvi ir quase que não por conseguir nem dirigir até la. fui atendida, medicada e fiz tomografia e pra mim supresa teria que ficar em observação por mais algumas longas horas. No dia seguinte a noticia de que iria para semi UTI para ser monitorada e tomar betabloqueadores e fazer mais uma tomo e como tenho alergia ao camarão precisaria fazer a desensibilização do iodo com medicação para fazer a tomo com contraste. enfim… passou mais 2 dias e fiquei estremamente nervosa ao ponto de ter uma crise pq tinha compromissos profissionais que tinham prazo e eu não podia nem ficar com o cel e muito menos com o note. Estava puta comigo mesmo por ter ido o PS e causado td esse transtorno profissional… e ai hj vim editar tds as materias pentendes e deparei com a sua. Nossa que “tapa” na cara … Apenas digo obrigada por compartilhar !!!