Na semana passada, começamos a explicar o papel fundamental dos Aderecistas na Produção de Arte. Mostramos, principalmente, o processo de rotulagem de bebidas e produtos alimentícios, que foi de “dar água na boca”. Hoje, continuaremos nossa promenade, ampliando um pouco mais o universo dos rótulos, já que quase tudo à nossa volta é rotulado, no sentido original da palavra.
Pensem nos aparelhos eletrônicos (televisores, celulares, computadores), materiais de construção (latas de tinta, tinta spray, sacos de cimento, pacotes de parafusos), produtos de limpeza (sabão, amaciante, álcool, multiuso, limpa-vidro), cartões de crédito, produtos de higiene pessoal… enfim, tudo o que possui uma marca comercial no mercado. Todos estes itens, quando não fazem parte de ações de merchandising ou facilidades de produção, passam pela mão dos Aderecistas para receberem nova roupagem e serem cenografados.
O começo de todo o processo, como explicado em colunas passadas, é no Departamento de Design Gráfico. Os Designers captam a essência da história, do produto e do personagem, e criam marcas e rótulos que os complementam perfeitamente. Depois de impressos, é a vez dos aderecistas transformarem o virtual e digital em realidade. É uma verdadeira fábrica de produção.
Lembram da Bastille da novela “Totalmente Demais”, 2016? Presidida por Germano (Humberto Martins) que a gerenciava a pedido da sua verdadeira proprietária, sua esposa Lili (Viviane Pasmanter), a Bastille era uma conhecida e renomada empresa de cosméticos de luxo.
Sala de Germano (Humberto Martins) na empresa “Bastille” de “Totalmente Demais”, 2016.
Observem o desdobramento da marca nos mais variados rótulos e suas aplicações. Lembrem-se que o processo é feito manualmente, produto a produto, embalagem por embalagem, cada rótulo recortado e colado individualmente pelos aderecistas.
Em um aproveitamento inteligente e criativo, a mesma marca Bastille está sendo usada nos amenities que ficam à disposição dos hóspedes nas suítes e banheiros do luxuoso Carioca Palace Hotel da novela “Pega Pega”, 2017.
São milhares de mini sabonetes, xampus, condicionadores, sabonetes líquidos, loções hidratantes, sais de banho, caixinhas de touca de banho, cotonetes e discos de algodão, cenografados um a um. Imaginem o trabalho da colocação dos adesivos em vinil e papel nos frascos, o corte e a montagem das caixinhas, tudo com um precioso detalhismo que culmina em um lacre individual selando cada produto.
Amenidades do “Carioca Palace Hotel” da novela “Pega Pega”, 2017.
Imagino que vocês nunca mais olharão para um carrinho de camareira de hotel de televisão da mesma forma como antes, principalmente quando lembrarem do trabalho no adereçamento dos milhares de mini produtos de toilette.
Carrinho de Camareira e Amenidades para “Salve Jorge”, 2013.
Ainda no mundo da beleza, em “Malhação, Seu Lugar no Mundo”, 2015, a Vegetable Life foi uma empresa popular de cosméticos de venda direta por meio de representantes e consultores, que atraiu os personagens Vanda (Solange Couto) e Sueli (Inez Viana) como forma de enriquecimento rápido. Apesar de ter vida curta na história do folhetim (a Vegetable Life vai à falência nos primeiros vinte capítulos), a produção dos diversos itens de beleza foi bastante trabalhosa para os Designers e Aderecistas.
Alguns dos produtos, embalagens, e sacolas dos produtos “Vegetable Life” de “Malhação, Seu Lugar no Mundo”, 2015
Em detalhe, alguns produtos da “Vegetable Life” de “Malhação, Seu Lugar no Mundo”, 2015
Pastas, catálogos, embalagens e produtos da “Vegetable Life” de “Malhação, Seu Lugar no Mundo”, 2015
Em um mundo de set de gravação com milhares de marcas que não podem aparecer, é muito comum Produtores de Arte e Aderecistas carregarem “tapa-marcas de emergência” em seus bolsos e material de trabalho. Consideradas etiquetas genéricas, salvam a pátria quando surgem elementos ou objetos no set que não tenham sido cenografados anteriormente, ou que não tenham passado pela base de pré-produção. Isso, sem contar que são demasiadamente melhores e mais eficazes que o velho rolo de adesivo Contact, aquele mesmo, que usávamos para encapar os cadernos das crianças na escola. Em uma era da televisão sem computadores ou Designer Gráficos, os Produtores de Arte e Aderecistas abusavam deste recurso para esconderem as marcas dos objetos de cena, sem esquecermos de mencionar a famosa fita isolante e o durex colorido. Felizmente, isto são águas passadas, e hoje conseguimos burlar os olhos atentos e exigentes dos telespectadores com “tapa-marcas” mais do que eficientes. Vejam alguns dos exemplos de etiquetas genéricas abaixo:
Tapa-marcas genéricos da Produção de Arte
Para finalizar o capítulo sobre adereços de hoje, que tal aproveitarmos para falarmos sobre as sacolas? Sim sacolas, sejam elas plásticas, metalizadas ou de papel. Hoje em dia, o comércio investe na produção de sacolas cada vez mais atraentes, sofisticadas e criativas, pois sabem que são um cartão de visita por onde passam. Trata-se de uma propaganda grátis que o consumidor carrega consigo. Esta propaganda real não pode existir no nosso mundo da fantasia da televisão. Nele, as sacolas de shopping e supermercado (com marcas fictícias) são fabricadas pela Produção de Arte, juntamente com os talentosos Designers e Aderecistas.
Algumas são marcações de cena e pertencem a importantes estabelecimentos comerciais de personagens do folhetim, como as belas sacolas da requintada loja de departamento Charlo’s da novela “Guerra dos Sexos”, 2013.
Sacolas da loja de departamento Charlo’s, “Guerra dos Sexos”, 2013.
Já a grande maioria é produzida para aparecer na mão de transeuntes e figurantes em cenas de rua das Cidades Cenográficas ou em gravações de Shoppings e Externas. Cada uma é carinhosamente adesivada pelos Aderecistas, que podem incrementá-las com novos contornos, fitas e barbantes.
Exemplos de sacolas variadas com marcas fictícias preparadas pelos Aderecistas e a Produção de Arte.
Na semana que vem, viremos com mais truques mágicos dos Aderecistas da televisão. Aguardo vocês. Até a próxima!