Olê muié rendera
Olê muié rendá
Tu me ensina a fazê renda
Que eu te ensino a namorá…
O ofício de rendeira permite um mergulho no íntimo feminino. As rendeiras “são mulheres que tecem o dia a dia com finos fios … E o fio que conecta essas mulheres, entre gerações de uma mesma família, é que parece torná-las o que são: mulheres que lutam bravamente e que, ao mesmo tempo, desempenham um ofício minucioso e delicado. Com paciência e maestria, seguem fazendo a renda da mesma forma que outras muitas gerações de mulheres de sua família já faziam, mas revisitam e atualizam as formas e os pontos de hoje. Deste modo estão, ao mesmo tempo, com um pé no passado e outro no presente” (Jefferson Duarte, Rendeiras, as mulheres que tecem o dia a dia com finos fios, 2011).
E esta passagem da tradição familiar do tecer e fiar se repetiu também em “Velho Chico” no núcleo dos Dos Anjos, onde Isabel (Raysa Alcântara) decide aprender o ofício de sua avó Piedade (Zezita Matos), e se interessa pelos bilros. Isabel dá um passo à frente e incorpora a renda a vestidos e figurinos, não se limitando somente aos paninhos e toalhas tradicionais. Juntamente com a francesa Sophie (Yara Charry), avó e neta montam e fundam a Associação das Rendeiras (Casa das Rendeiras) de Grotas e passam a vender para todo o Brasil e internacionalmente através do site e rede social que criaram na internet.
Montar o cenário da Associação das Rendeiras foi um presente para a Produção de Arte e para a Cenografia de “Velho Chico”, 2016. Os departamentos brincaram com as texturas das rendas, que figuravam por toda a parte do cenário: tecidos rendados presos a bastidores de costura emolduravam as paredes do casarão e forravam um biombo no hall de entrada; rendas encapavam luminárias, garrafas e vasos; como obras-de-arte, rendilhados ora eram enquadrados em sanduíches de vidro, expostos nas paredes, ora emprestavam sua beleza às cortiças repletas de referências de trabalho. Enfim, o cenário era uma verdadeira “Exposição de Adereços”. E para remeter à nacionalidade da personagem francesa Sophie (Yara Charry), uma das fundadoras da associação, a decoração foi amplamente pontuada pelas cores vermelha, azul e branca.
Todos os ambientes do casarão da cooperativa respiravam romantismo. Além das referências francesas, que exalam visivelmente este sentimento, a própria natureza e origem da renda é romântica. Reza a lenda que o primeiro rendado teria surgido das mãos trabalhadeiras de uma donzela apaixonada, sofrendo de saudade do seu amado que partira para navegar os mares orientais distantes. Para preencher o tempo e solidão da espera, a dama teria tentado tecer a cópia de um coral que seu estimado havia lhe dado de presente. O resultado foi uma renda maravilhosa, fruto do amor e da esperança, misturados a retalhos de melancolia e saudade.
E por falar em amor, para o cenário da associação foi feito um desenho de coração humano com recortes de acetato, rendas e outros materiais do nordeste brasileiro, representando o poder apaixonante da criação através de referências regionais e artesanais.
Deixando o lindo mundo do ateliê rendeiro para trás, aproveitamos esta coluna para também dissertar sobre a utilização do adereço na decoração das festas e eventos regionais. Não nos aprofundaremos tanto, pois já foram reservadas inúmeras colunas ao tópico “Eventos” a ser abordado no futuro.
Hoje, mostraremos como um simples adereço é eficaz na sua tradução da “Festa” ou “Comemoração”.
Flores e pompons de papel, juntamente com bandeirinhas dos mais diversos materiais, são sempre uma solução prática, eficiente e econômica para decorar grandes espaços.
A novela “Velho Chico” é um verdadeiro baú de tesouros dos adereços. Esta foi só uma pequena introdução.
Na semana que vem, abordaremos um outro setor desta produção artesanal. Imperdível!