Lilian Schiavo: Desvendando um congresso de mulheres

Acostumada a frequentar reuniões e congressos de associações de mulheres não tinha percebido como somos diferentes, sempre me perguntam se os homens podem frequentar essas palestras e eu respondo que sim, podem participar dos eventos mas  não podem se filiar como associados,  entretanto, podem ser patrocinadores ou apoiadores.

Convidei um amigo para assistir minha palestra e quando pediram que nos levantássemos avisei que havia muitas atividades interativas, só então percebi o olhar de estranheza dele. Foi a primeira vez que  participou de um evento de mulheres e no final confessou que nunca tinha visto um congresso assim, um mundo novo tinha se aberto diante dele, o mundo feminino.

Pensando nisso, resolvi desvendar os nossos bastidores, contar como é uma reunião só de mulheres, tenho certeza que os homens que lerem vão achar esquisito e as mulheres vão achar divertido.

Era um  Workshop para Mães Empreendedoras, o dia amanheceu congelado e o evento teve duração de 8 horas, com um intervalo para almoço.

As mães foram chegando, algumas com os bebês embrulhados ou amarrados como cangurus, elas carregavam também mochilas gigantes com todo aparato necessário para suportar tantas horas longe de casa, a primeira pergunta que elas faziam é onde ficava o trocador.  Também tinha o time das mães que combinaram com sogras, mães ou vizinhas para ficarem com os filhos enquanto elas participavam do evento, afinal estamos em julho, pleno período de férias e estas mães ficavam atentas ao celular recebendo fotos das atividades dos pequenos.

Lógico que havia mães de todo tipo com filhos de todas as idades, incluindo as gestantes.

Palestrantes fantásticas, com temas diversos como Personal Organizer, Zero Waste – consumo sustentável, Saúde Natural, Sex Coach, Educação, Autoestima, Coach Kids e histórias de mulheres protagonistas.

Durante as palestras algumas crianças surgiam no palco, escapavam das mães e curiosas iam desbravar o território, enquanto outras  amamentavam seus bebês ou ficavam em pé balançando seus filhotes para dormirem.

Fiquei impressionada com a atenção e o  silêncio,  a energia destas mães em conjunto criou um clima mágico onde os bebês não choravam e os que escapavam eram cuidados por outras,  presenciei uma cena em que a fotógrafa do evento pegou no colo o bebê sorridente que tinha atravessado o palco correndo. Tudo muito natural, afinal, somos mães e sabemos lidar com outras crianças também.

Fizemos meditação, cantamos, dançamos, rimos e nos emocionamos com as histórias de vida e como sempre acontece quando um grupo de mulheres se reúne, ficamos íntimas em minutos e dividimos nossas vitórias e derrotas, medos e alegrias. Nós nos abraçamos e olhamos nos olhos umas das outras com muita sinceridade.

No final, algumas vieram conversar comigo e contaram suas histórias… E esta foi a melhor parte do dia, conheci mulheres guerreiras e muito corajosas.

Elas se tornam empreendedoras por vários motivos, algumas porque os maridos perderam seus empregos, outras ficaram viúvas, havia mães que escolheram abdicar da profissão para cuidar dos filhos e as que perderam seus empregos.

Elas contavam que com a maternidade suas vidas mudaram, a prioridade agora são os filhos… quem já passou por isso sabe, bebês têm um sensor que avisa quando as mães entram no banho ou pensam em se alimentar, eles começam a chorar copiosamente e ficamos desesperadas para acudir. Confesso que eu tomava banho de porta aberta para poder ouvir se meus filhos chorassem. Comer? Só se for em doses homeopáticas; é um senta e levanta sem parar. E a hora de sair para trabalhar? Ou deixar na porta da escola? Qual mãe nunca passou por isso? Algumas crianças são bem escandalosas, choram e cortam o nosso coração, ficamos sem saber se podemos ir ou precisamos ficar.

A aparência das mães é um capítulo extra, tem o antes e depois da maternidade. Se amamentamos, nossas roupas tem que ter botões frontais, deixamos de olhar se o sapato é bonito para pensar se ele é estável e confortável, afinal, tropeçar é proibido para mães que carregam filhos nos braços. Nosso equilíbrio tem que ser perfeito!

E tudo isso acontece com uma sensação de felicidade plena, com aquele olhar embasbacado de mãe coruja, com a certeza que tudo vale a pena!

O que me surpreendeu foram as mães de filhos portadores de algum tipo de deficiência física ou mental, ontem conheci várias delas e o que me chamou a atenção foi a resiliência, a disponibilidade de mudar por causa deles, algumas tinham tido cargos importantes em empresas e outras largaram carreiras promissoras, todas com uma serenidade e a capacidade de reiniciar, reinventar uma nova vida e se tornar empreendedoras.

Como se houvesse um imã, elas se conheceram e se reconheceram, trocaram telefones e ideias e eu fiquei olhando, pensando no tamanho desse amor de mãe que faz com que elas sejam tão extraordinárias, donas de uma força incomparável e um poder de dedicação que faz milagres.

Realmente, mulheres empreendedoras são diferentes, mães empreendedoras mais ainda, o que nos move não é apenas o dinheiro, lógico que precisamos pagar as contas, temos ambições, queremos melhorar nossas vidas como todo o mundo, a diferença é como e porque empreendemos.

Conheço engenheiras que viram fotógrafas, arquitetas que viram cozinheiras, contadoras que viram artesãs… São mães que querem ficar perto dos filhos, ter um horário flexível de trabalho, poder levar ao médico e cuidar deles se tiverem febre, ensinar como se alimentar de forma saudável, criar cidadãos éticos e justos.

Por tudo isso somos diferentes, nosso eventos são atípicos, enfrentamos dificuldades inimagináveis e nos reunimos porque acredito no nosso lema:

“Sozinhas invisíveis, juntas invencíveis.”