A cada dia que passa somos provocadas por novas questões que nos obrigam a chacoalhar os pensamentos.
Num seminário sobre liderança feminina ouvíamos os resultados das pesquisas e cases de sucesso quando fomos surpreendidas por uma fala de um diretor de uma grande empresa, o Guilherme Martins vai ser pai pela segunda vez e corajosamente solicitou a licença parenteral que no caso dele são 6 meses ininterruptos.
Nem preciso explicar o tamanho de nosso espanto, uma executiva grávida também estava na mesa e percebi um olhar de empatia ao ouvir o futuro pai.
Sim, ele estava com medo!!! Como muitas de nós quando saímos para uma licença maternidade e temos medo de perder o lugar ao voltarmos… Temos dúvidas se saberemos cuidar do bebê de forma correta, se estamos preparadas para enfrentar noites sem dormir, situações sem manual de instruções, afinal, ainda não criaram a tecla tradutor para choros, e se o umbigo do bebê cair na minha mão? E se o bebê escorregar da minha mão enquanto estiver dando banho? Quem nunca ficou acordada vendo o bebê dormir preocupada se estava tudo bem?
A empresa onde trabalha já testou este modelo com um trabalhador da fábrica, mas esta será a primeira vez que um homem que acabou de assumir um cargo de direção opta por ficar em casa para dividir os cuidados com a esposa. No departamento financeiro existem 3 futuros pais que já o interpelaram para saber se a decisão é definitiva, eles estão em dúvida se aderem ou não à licença parental.
Antes dele, o Theo Van Der Lo já havia citado a dificuldade dos homens que ocupam cargos de presidência demonstrarem sentimentos, como se fosse proibido ter fraquezas ou dúvidas, afinal, neste caso o vice estaria lá pronto para ocupar sua cadeira ao menor sinal de debilidade. Ao contar a história da sua vida, criado numa família holandesa que sofreu os horrores da guerra, seu pai foi escravizado pelos japoneses e sua mãe viu sua cidade ser destruída num bombardeio, salienta que por causa da sua educação aprendeu a se cuidar, a cozinhar e viver de forma independente. Ao escrever um texto no Linkedln sobre o preconceito racial sofrido por um colega numa seleção de emprego ele viralizou e se tornou um ícone na luta contra a desigualdade nas empresas e no mundo. Sem dúvida sua forma amorosa de olhar para o outro é resultado dos valores aprendidos com seus pais.
Era um evento para mulheres onde os homens haviam sido convidados mas compareceram em número baixíssimo, percebi que os que ali estavam já tinham aberto caminhos para a inclusão e diversidade.
A questão da primeira infância também foi abordada pois os primeiros anos de vida são fundamentais para definir o futuro, criar bases e valores, daí a importância da atuação dos pais no desenvolvimento intelectual e social da criança.
O futuro pai ouvia com atenção, a esposa vai voltar ao trabalho antes dele, para ela serão 4 meses de licença maternidade, aparentemente ele está feliz com a oportunidade de usufruir do primeiro banho, do primeiro dente, da primeira vez de uma série de conquistas e descobertas do bebê. Sugerimos a ele que fizesse um diário de bordo, onde relatasse essa fantástica experiência de ser pai em tempo integral.
Sem dúvida nenhuma os homens presentes pertenciam a uma nova geração, onde reconhecem que as empresas e o mundo seriam muito melhores se as mulheres ocupassem mais cargos de presidência, eles quantificam o lucro que teriam se as empresas tivessem mais diversidade.
Sou uma otimista por natureza e saí do evento conjugando o verbo esperançar.
O mundo está mudando! Ainda bem!