Pensei muito antes de escrever sobre o assunto de hoje, é que vai doer em mim e talvez em você também, a certeza que tenho é que vou incomodar muita gente, mas paciência, o mundo não é cor de rosa e fingir que somos avestruzes enfiando a cabeça no buraco não vai solucionar problemas, e esse definitivamente não é o meu estilo.
Num congresso sobre inclusão e diversidade a palestrante iniciou perguntando se sabíamos quem eram as minorias, ela é afrodescendente, de origem humilde e galgou postos de liderança, chegou onde ninguém imaginava… Era uma terça-feira e o relógio marcava 11:00 horas, a resposta dela foi que a minoria éramos nós, o público composto de CEOs e diretores de empresas multinacionais que podiam estar sentados num auditório naquele dia e naquele horário.
A “maioria” tinha batido ponto ou estava trabalhando no seu próprio negócio, formal ou informalmente, mas sem a opção de escolha, precisavam trabalhar e ponto.
Literalmente foi um tapa na cara e um dia inesquecível onde transitaram naquele palco quase a totalidade da diversidade.
Cheguei a uma conclusão: somos todos minorias!
Afinal, quando falamos em inclusão quer dizer que aquela pessoa se sente excluída, diferente das outras… mas quem nunca se sentiu um peixe fora do aquário? Pode ser que falaram que você é feia, gorda, quatro olhos, burra, esnobe, sardenta, verde, azul, deficiente, incapaz, tímida, exibida, esquisita, LGBT e por aí vai. Quem nunca sofreu bullying?
Falaram do seu cabelo, seu sotaque, suas roupas? Bem-vinda ao time!
A maioria das pessoas pode te ofender até sem perceber. Eu sou descendente de japoneses e quando era criança e me chamavam de japonesa eu chorava, respondia que tinha nascido no Brasil e me considerava brasileira, sangue verde e amarelo, voltava para casa e perguntava para os meus pais se não tinha um jeito de transformar a minha fisionomia, queria virar ocidental, com olhos grandes para ninguém dizer: abre o olho japonesa!
Outro dia estava numa praça de alimentação e a criança ao me ver puxou os olhos e rindo dizia que tinha virado japonesa, a mãe dava risadas achando uma graça a filha tão pequena imitando os gestos aprendidos com os adultos. Para mim não tem a menor graça, assim como não tem graça imitar um gago, um deficiente visual ou dizer palavras ofensivas para jogadores negros nos campos de futebol.
Ser asiático pode parecer um privilégio, imaginam que são todos educados, com inteligência acima da média e com poder aquisitivo elevado. Ledo engano, existem muitos com dificuldades de aprendizado e isso pode ser comprovado com o alto índice de suicídio entre os jovens orientais. Os asiáticos não são iguais, existem muitas diferenças entre os japoneses, coreanos e chineses só para citar alguns povos.
O Japão teve um histórico de guerra que gerou mágoas e relatos de atrocidades, e mesmo assim, convivemos pacificamente sabendo que é muito difícil para os ocidentais distinguir a diferença entre nós.
Sabe porque os chineses falam pastel de flango? Porque não existe o som do R no alfabeto chinês, e se nós tentarmos falar chinês com certeza teremos o mesmo grau de dificuldade e falaremos errado, a diferença é que eles não vão te imitar, pode ser que fiquem agradecidos por você ter escolhido aprender o mandarim.
Já me chamaram de Ling Ling… você sabia que os japoneses não falam o L? Já ouviu um japonês falar que gosta de raranja e mora no Burajiro? A maior barreira encontrada pelos imigrantes é o idioma, pode ser que seus antepassados tenham vindo da Rússia, da Itália, de Portugal, França, Israel, Grécia, Líbano… todos eles sem exceção carregaram sotaques estranhos e demoraram para ser compreendidos, lutaram muito e passaram muitas dificuldades para se adequar à nossa amada Terra Brasilis.
Imitar, caçoar ou rir do outro é extremamente ofensivo. Quantos de nós já passamos pela experiência de chegar num país estrangeiro e quando dizemos que somos brasileiros perguntam se existem animais selvagens cruzando os semáforos, se já comemos hambúrgueres ou se a capital do Brasil é Buenos Aires? Ficamos tristes quando imaginam que aqui só tem carnaval e futebol, somos um país com dimensões continentais e riquezas naturais, grande exportador de minérios e produtos do agronegócios, com pesquisadores científicos e muitos estudantes de mestrados.
Sou casada com um italiano e meus filhos são mestiços. O Gianmarco nasceu com pele branca, olhos redondos e gigantes como um farol e um nariz europeu, quando era pequeno perguntavam se aquele menino estava me acompanhando e eu respondia que aquele menino tinha saído da minha barriga, é o meu filho. A Alessia nasceu com olhos amendoados, nariz pequenino e bochechas grandes, parecia uma bonequinha de mangá, quando tinha 14 anos viajou com meu marido para visitar os avós paternos e foram barrados no aeroporto porque achavam que se tratava de pedofilia. Não é fácil ser julgado pelas aparências.
Se você olhar no espelho certamente vai se lembrar de algum dia em que se sentiu excluída, diferente dos outros, pode ser que você também quis ficar igual a todo mundo… mas preciso te alertar que esse “todo mundo” na verdade não existe. Somos todas únicas, cada uma do seu jeito, com um modo de pensar, de agir e com uma individualidade, uma marca registrada que pode ser o sorriso com covinhas, o cabelo cacheado ou um jeito de pensar olhando para o alto como que buscando a resposta dos céus.
Então, vamos aprender a conviver com as minorias e as maiorias, com os pequenos e os grandes, com respeito, transformando desigualdades em aprendizado, sem julgamentos mas com empatia. Vamos viver e conviver em harmonia e paz.
Uma resposta
Amiga querida , como sempre amei amo seus textos !!! Parabéns mais uma vez pela abordagem natural de um tema muito delicado . Bjs e parabéns .