César Romão: A felicidade existe!

São tantas as coisas que julgamos que compõem a felicidade, que a maioria das pessoas acredita que nunca será possível desfrutá-la.

Vivem apenas momentos e instantes felizes, mas não uma vida feliz, sentindo apenas uma parte da magia da felicidade.

Muitos atribuem sua infelicidade à “falta de…”. Sempre falta algo: o carro novo, a casa nova, o barco, o reconhecimento, o bom marido, a boa esposa, o bom governo, roupas de grife, a oportunidade… sempre falta algo.

Uma história antiga fala de Alexandre, o Grande, retornando de uma conquista em suas batalhas na Índia quando encontrou Diógenes, um cavaleiro imbatível em suas batalhas.

Bastante interessado no tratamento que Alexandre dava às suas conquistas, quis conhecê-lo melhor e passou a acompanhar suas ordens ao exército que o ouvia atentamente.

Sentou-se ao lado de Alexandre e, após este ter dado as ordens, perguntou:

– O que você faz com este exército, dando-lhe tantas ordens apressadas?

Alexandre, vendo-o tão entusiasmado com suas enérgicas ordens responde:

– Preciso conquistar o mundo!

Diógenes, confuso com tanta pressa e ordens que mal pareciam vindas de um grande conquistador diz:

– Porque você não descansa um pouco, antes de empreender uma nova batalha?

– Só depois que conquistar o mundo, responde Alexandre.

Nesse momento, Diógenes encosta-se em uma árvore quando Alexandre o interrompe bruscamente:

– E porque você não faz algo em vez de ficar aí sentado e depois descansa?

– Mas, agora eu estou descansando, responde Diógenes. Depois de ter o espírito bem repousado o meu corpo estará pronto para travar qualquer embate e assim terei maior certeza de vitória!

Para alguns a felicidade só é encontrada depois de muito ter.

Na realidade, a felicidade só existe se você consegue ser o que você é, sem meios termos, encarando-se frente a frente, sem medo de ser feliz.

Ninguém é feliz por aquilo que possui, mas sim por aquilo que tem dentro de si.

A felicidade não é exclusividade daqueles que possuem poder financeiro, tampouco um determinado produto: ela está no ar que você respira e leva para seus pulmões, está no olhar que você lança à própria vida e como armazena este olhar em seu coração.

Felicidade é um estado de espírito e não de corpo, portanto está dentro de nós e não fora dele. É uma manifestação de seu íntimo e não do mundo. O mundo não lhe dará felicidade, é você que tem de descobri-la no seu interior e tornar-se feliz.

A tradição sufi conta a história de um homem que vivia numa situação confortável e foi certo dia visitar um sábio que tinha fama de possuir grandes conhecimentos.

– Grande sábio, disse ele, não tenho problemas materiais. Contudo não estou satisfeito. Durante anos tenho procurado ser feliz, encontrar uma resposta para meus pensamentos, estar em paz com o mundo. Por favor, aconselhe-me: como posso curar-me desse mal?

– Meu amigo, respondeu-lhe o sábio, o que está oculto para uns é evidente para outros. Tenho a solução para o seu mal, embora não seja um remédio comum. Você deve empreender uma viagem, que acredito seja longa, e procurar o homem mais feliz do mundo. Quando o encontrar deve pedir sua camisa e vesti-la.

Incansável e com seu objetivo definido, aquele buscador começou a procurar homens felizes. A cada um que encontrava fazia sempre a mesma pergunta.

– Você é feliz?

E, todos, sempre respondiam:

– Sim, sou feliz, mas há alguém mais feliz do que eu.

Depois de viajar de país em país, por muito tempo, chegou a um bosque onde diziam viver o homem mais feliz do mundo. Ouviu o som de uma risada atrás das árvores e apressou o passo até chegar perto de um homem que estava sentado numa clareira.

– Você é o homem mais feliz do mundo como dizem? – perguntou-lhe.

– Sou, com certeza – disse o homem.

– Meu nome e minha condição aqui estão. Meu remédio, receitado pelo maior sábio, é usar sua camisa. Por favor, poderia dá-la para mim? Em troca eu lhe darei tudo o que possuo.

O homem mais feliz do mundo olhou-o bem de perto e riu. Riu e riu.

Quando o homem se acalmou um pouco, o inquieto viajante, um tanto aborrecido com sua reação disse:

– Você deve estar fora do seu juízo para rir de um pedido tão sério!

– Quem sabe? – disse o homem feliz – Mas se você apenas tivesse tido o trabalho de olhar-me teria visto que não possuo camisa alguma.

– E agora, que faço então?

– Agora você ficará curado. Esforçar-se por uma coisa inatingível leva-nos à prática de conseguir o que se é necessário. Assim como um homem reúne todas suas forças para saltar sobre um rio como se fosse mais largo do que realmente é, certamente ele atravessa o rio.

Então, o homem mais feliz do mundo tirou o turbante cuja ponta escondia seu rosto. O homem inquieto viu que ele não era outro senão o grande sábio que o tinha aconselhado no início.

– Por que não me disse isso quando fui procurá-lo? – perguntou o viajante, desconcertado.

– Porque naquela época você não estava pronto para compreender. Precisava de certas experiências e elas tinham de ser proporcionadas de um modo que garantisse que você passaria por elas.

Viver as experiências que a vida nos propõe é estar no caminho da felicidade. Interpretá-las como impõe o mundo e não como indica o nosso coração é afastar-se do caminho da felicidade. Por diversas vezes agimos de acordo com procedimentos de sobrevivência e defesa, que deturpam nossa verdadeira intenção para não sermos vulneráveis a fatos que já nos atingiram, pois já não estamos mais agindo como realmente somos.

A vida não começa quando você vive, mas sim quando decide vivê-la. É preciso que você decida ser feliz para encontrar a felicidade, sem sua decisão ela não acontece.

O que lhe faria feliz?

Você tem a resposta agora?

Viver por viver é o mesmo que não existir.

Se você deseja ser feliz, tem de descobrir sua trilha individual da felicidade, deixar nela sua pegada, sua marca e seu coração.

Tudo tem um preço, ser feliz também tem o seu. O preço de romper dogmas, barreiras familiares, normas, conceitos e preceitos, as mesmas regras que lhe fizeram estar como está agora.

Casamento mantido pela instituição; amizades por interesse; emprego por salário; carreira por vontade alheia; postura para manter aparências; um amor abandonado; perdões não concedidos; a necessidade de posse; uma família magoada, eis algumas máscaras que o isolam de ser aquilo que realmente é, tornando-o uma presa fácil da infelicidade.

Aí você me diria:

“Ah! Essas coisas levam tempo, eu preciso de tempo!”.

É isso que responderia?

Engana-se, então, você não tem muito tempo!

Todos pedem um tempo, e quando vêem o tempo passou, antes eram jovens infelizes que se tornaram pessoas maduras infelizes e no futuro serão pessoas idosas infelizes.

Em sua obra, Famosas Últimas Palavras, B. Conrad cita que “ao fazer uma retrospectiva de sua vida, o pintor Hokusa disse que as obras por ele produzidas até os 50 anos não tinham valor algum, mas que somente aos 70 tinha começado a criar algum trabalho de valor”. Aos 89, já em seu leito de morte lamentou: “Se o céu me tivesse dados mais anos, poderia tornar-me um pintor de verdade”.

Não passe a vida inteira pedindo tempo, o tempo não chega e nada o traz, você o constrói e ele carrega aquilo que você lhe deu para carregar, seja feliz agora, já…

Muita gente acredita ser um verdadeiro leão, pela sua posição de conquista ou por sua capacidade de luta com a vida, esquecendo-se da felicidade.

Por se acreditar superior tratando-a como um ratinho, acham-na uma amizade dispensável e nem percebem que são infelizes e que esta amizade, de igual para igual, com a felicidade poderia salvá-los.

Ao sair do buraco, um ratinho viu-se entre as patas do leão. Estacou de pelos em pé, paralisado pelo terror. O leão, porém, não lhe fez mal algum.

–  Segue em paz, ratinho, não tenha medo do teu rei, sou teu amigo!

Dias depois, o leão caiu numa rede de caçadores e urrou desesperado, debateu-se, mas, quanto mais se agitava, mais preso no laço ficava.

Atraído pelos urros, surgiu o ratinho.

– “Amizade com amizade se paga”, pensou o ratinho consigo mesmo.

E passou a roer a rede, a primeira malha foi rompida, as outras cordas se afrouxaram, o leão pôde soltar-se e fugir.

Monteiro Lobato

Tenha uma boa amizade com a felicidade, um dia ela poderá salvá-lo da rede que a existência lançar sobre você, para imobilizar-lhe diante da oportunidade de caminhar livre por nosso próprio reino, composto por nossa crença, nosso trabalho, nosso lar, nosso amor pela vida…

Quando a felicidade chega, não traz consigo uma enorme tabuleta ou uma banda tocando tambores, ela não se anuncia, tem de ser reconhecida.

E por quantas vezes ela já nos rodeou e até sentou em nosso colo, mas estávamos ocupados demais para notar?

Depois que ela parte, dizemos: “Ah! aquele era o amor de minha vida, nunca mais terei outro; aquele era o emprego dos meus sonhos; aquilo era tudo o que realmente queria…”.

Esteja alerta aos fatos que lhe pareçam como os mais comuns em sua vida, pois ali podem estar uma das pontas de uma longa linha de felicidade.

Harvey Firestone, Thomas Edison, John Burroughs e Henry Ford viajavam sempre juntos, por serem muito amigos. Certa vez, quando seguiam para a Flórida, durante o inverno, pararam num posto de gasolina e ao serem atendidos pelo frentista disseram:

–  Queremos algumas lâmpadas para nossos abajures – disse Ford. – E, a propósito, aquele é Thomas Edison sentado lá no carro e eu sou Henry Ford.

O frentista do posto sequer ergueu os olhos e cuspiu seu tabaco mascado, com claro desprezo.

– E – disse Ford – gostaríamos também de um pneu novo, caso você tenha aí um Firestone. O outro que está no carro é o próprio Harvey Firestone.

O frentista continuou sem falar absolutamente nada.

Enquanto ele colocava o pneu na roda, John Burroughs, com aquela sua longa barba branca, colocou a cabeça para fora do carro e disse:

– Como vai meu bom homem?

Finalmente o frentista do posto de abastecimento resolver dar a graça de sua palavra.

Olhou diretamente no rosto de Burroughs e disse:

–  Se você disser que é Papai Noel, não duvide que eu estoure seu crânio com esta chave de roda!

Uma felicidade para poucos: estar com pessoas tão ilustres de uma só vez. Era difícil para o frentista acreditar, por isso não desfrutou a oportunidade. Ele não estava alerta, mas cheio de dúvidas e ocupado demais ou até mesmo infeliz para dar o devido valor àquele momento.

A felicidade aparece e quando isso acontecer, não duvide! Acredite e poderá desfrutá-la.

 

A felicidade depende mais da idéia que temos

das coisas do que das próprias coisas.

Thomas Fuller

César Romão

 

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Imagens: Freepik

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