Paty Moraes: Amiga, sai do Tinder!

Uma década após Zygmunt Bauman escrever sobre nossos “Tempos Líquidos” – pra quem não conhece, vale muito a leitura – , começo a perceber que vivemos hoje a possibilidade de um caminho sem volta. Não estou pessimista sobre as relações humanas, ao contrário. Sou e sempre serei uma otimista nessa vida, mas está difícil conversar. Aquele papinho gostoso de calçada só é possível se a turma desligar os celulares. E isso não é exagero meu porque converso (de verdade!) com muita gente e a reclamação é geral; até mesmo os superconectados estão incomodados com a superconexão de quem está a sua volta.

 

Dia desses, abri a minha casa para uma amiga vir direto do trabalho. Poxa, a gente tinha muita atualização uma sobre a outra: trabalhos novos, relacionamentos, juros do cartão de crédito rotativo, nova dieta… Acontece que, entre os assuntos listados acima, ela tinha uma confissão a fazer: “Amiga, entrei no Tinder”.

 

Adorei! Festejei! Quis saber como iam os dates em uma semana de testes com o aplicativo. Fiquei chocada quando soube que, na maioria das vezes (no caso dela, pelo menos), os pretendentes perguntavam logo de cara: “Onde você mora?”. PQP, o que isso tem a ver? Me irritou! Depois, rimos quando ela contou que inventou para um deles que morava em um lugar bem longe do centro, na periferia de São Paulo. kkkk… O cara sumiu, e ela também nem se atreveu a dar corda para esse babaca. Teve outro que, ao saber que ela morava na região dos Jardins, soltou um “rica”.

 

Por fim, três matchs evoluíram para conversar fora do aplicativo e, até o momento, apenas um encontro saiu disso. Em tempos líquidos nas relações, muito se fala virtualmente, pouco se realiza fisicamente, observei!

 

E qual o problema? Nenhum se minha amiga não tivesse passado duas horas interrompendo a nossa conversa para responder os caras. E sabe do pior? Ela não percebeu. Nem eu. Depois é que me dei conta da quantidade de vezes em que não conseguimos concluir nosso papo. Ela dormiu em casa, foi embora e ficou nisso.

 

Não quero criticar os superconectados. E também não quero ser a chata que fica fazendo cara feia quando alguém interrompe o que estou falando para dar uma olhadinha no zapzap ou nem sequer me interrompe, simplesmente abaixa a cabeça e começa a fuçar no aparelhinho sem dar a menor satisfação. É que me veio uma vontade louca de dizer (pra ela, pra mim e para muita gente): “amiga, sai do Tinder!”, mas não disse. Ops, acabei de dizer!

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