Kacau: Entrevista com o colunista Fernando Calmon

Essa semana, para a entrevista do Portal News, vamos conhecer um pouco mais da carreira e também aprender um pouco mais sobre automobilismo com o nosso colunista Fernando Calmon.

Fernando é engenheiro e jornalista, com 52 anos de carreira, foi diretor de redação da revista “Auto Esporte”, editor de Automóveis de “O Cruzeiro” e “Manchete”. Produziu e apresentou o programa “Primeira Fila” em cinco redes de TV. É colunista de automobilismo, Alta Roda desde 1999. É diretor de redação da revista “Top Carros”. Correspondente para a América do Sul do site Just-auto (Inglaterra). Exerce consultoria técnica em automóveis, em assuntos de mercado na área automobilística e também em comunicação.

  1. A paixão pelo automobilismo, surgiu em que momento da sua vida?

Surgiu exatamente quando eu assisti minha primeira corrida na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Era o circuito de rua, e fiquei realmente estonteado por aquilo que eu estava vendo e cada vez passei a gostar mais. Na época, eu gostava muito de futebol, mas passei a não assistir mais aos jogos, e sim a procurar avidamente pelas corridas de automóveis. Foi assim que tudo começou. Eu ainda estudava engenharia e me formei, mas não imaginava que me tornaria um jornalista, por causa do automobilismo. Quando o autódromo do Rio de Janeiro foi inaugurado, como todo fissurado, eu invadia a pista pra ficar na beira, vendo os carros passando mais perto, e fui expulso dali pelos organizadores pois era perigoso, mas como éramos muito jovens, não avaliávamos os riscos, e tínhamos que ficar na arquibancada mesmo, e foi lá que eu decidi ser jornalista, e descobri que na arquibancada, eu captava muito mais do que os jornais transmitiam. Percebi também que o box era uma área privilegiada, mas o acesso ao box era só para pilotos, mecânicos e jornalistas, e foi assim que transformei minha vida.

  1. Relembrando os velhos tempos, conte pra gente um pouco dos tempos do programa “Grand Prix” na TV TUPI.

Eu fazia o programa Grand Prix na TV Tupi, e logo depois comecei a escrever sobre automóveis para o “Jornal do Comércio”, e aí comecei uma carreira longa que hoje já tem 52 anos. Fiquei no Rio fazendo o programa de 1967 até 1975. Na época, eu já estava além do programa, eu também escrevia sobre automóveis no “O Cruzeiro” que fechou em 1975, então decidi vir para São Paulo, pois já não tinha mais como reverter minha opção pelo jornalismo, e foi uma decisão acertada. Cheguei em São Paulo em março de 1976, e no final do ano em dezembro, fui convidado para ser redator chefe da revista “Auto Esporte”, que era minha leitura de cabeceira, e as coisas foram sempre sendo conquistadas pelo lado do esporte automobilístico. Fiz também cobertura de muitas provas históricas, como o primeiro campeonato mundial do Emerson Fittipaldi, no grande prêmio da Itália em 1972, onde eu estava em uma missão tripla, pois eu estava fazendo cobertura para a TV Tupi, escrevendo para o “Jornal do Comércio” e ainda para a revista “O Cruzeiro”. Eu pensei que minha vida ia mudar no primeiro campeonato de Fórmula 1, mas vi que as coisas não eram tão fáceis, pois o Brasil era o país do futebol e mesmo sendo o primeiro campeão de Fórmula 1, eu não via muitas chances para jornalistas que se dedicavam a esportes motorizados, então fui tocando a vida.

  1. Um ídolo e uma marca favorita no automobilismo.

Sem dúvida, Ayrton Senna. Sempre o achei um piloto excepcional, era inacreditável vê-lo dirigindo. Me chocou bastante a morte dele em 1994. Foi uma passagem prematura para o paraíso e isso me afetou um pouco, abalou um pouco minha convicção com o esporte automobilístico. Aos pouquinhos eu fui me afastando. A partir de 1996 e 1997, eu já não acompanhava mais o automobilismo, até porque se eu continuasse assistindo ou frequentando o autódromo, eu acabaria querendo voltar a escrever sobre corridas e hoje é muito difícil, eu diria quase impossível, porque não dá para você colocar dois pés em áreas tão diferenciadas, como a área da competição e a da indústria automobilística, então eu optei pela indústria e estou nessa estrada há 52 anos, sem arrependimentos, embora eu tenha uma vida desgastante pelas viagens e pelos eventos frequentes. Para viver do jornalismo automobilístico é preciso muita força de vontade.

  1. Na sua concepção, com todo o seu conhecimento, qual o melhor carro para rodar dentro de uma cidade como a grande São Paulo e o melhor carro para pegar a estrada?

Eu não teria a pretensão de apontar um carro para a cidade ou estrada, mas posso apenas dizer o que seria mais ou menos óbvio.

O carro para uma cidade tipicamente grande, deve ser um carro compacto, particularmente ainda prefiro os hatchs, embora muitas pessoas prefiram os SUVs, por facilitar o deslocamento e a visibilidade, o que é um fato, mas ainda prefiro o compacto que tem mais agilidade, gasta menos combustível e coloca menos poluentes no ar. Um carro compacto moderno e espaçoso, de preferência com motor turbo que é mais econômico. Para a estrada, um sedã, com um bom espaço no porta-malas. Há um conflito entre os sedãs que foram superados pelo SUVs, que são os carros da moda. Mas os SUVs têm defeitos, a estabilidade não é a melhor pois o centro de gravidade é muito alto, eles exigem motores mais potentes e gastam mais combustível. Eventualmente poderia ser uma perua, mas essa nem encontramos mais para comprar, foi tirada do cenário. Então, um carro compacto para a cidade e um sedã para a estrada.

  1. Qual sua opinião sobre os carros fabricados no Brasil?

Temos hoje uma situação de progresso, os carros já tiveram menos segurança, gastavam mais combustível, bem como no mercado exterior, mas de uns tempos para cá, com esse novo Programa “Rota 2030”, temos uma mudança substancial não só em termos de segurança mas de economia de combustível também.

  1. Qual o melhor carro com fabricação nacional?

Eu não poderia apontar, pois é uma escolha pessoal, eu diria que o melhor carro é o melhor do momento. A cada ano temos novidades recentes que tendem ser melhores do que as do ano anterior, então cada fábrica tem seu plano de lançamento que fica para trás quando algo ainda mais novo é lançado, e assim a concorrência estabelece o melhor carro. Melhor carro é o carro do momento, é difícil apontar, procuro ser neutro, essa análise deve ser técnica e imparcial.

  1. Como está o mercado nacional para os colecionadores?

Esse mercado eu não acompanho muito de perto. Conheço alguns colecionadores, mas é um mundo à parte dentro do automobilismo. Existem muitos clubes, pessoas apaixonadas por esses carros e marcas, fazendo um mundo à parte. É um mercado que tem sua atratividade. Lá fora existem bem mais colecionadores do que aqui no Brasil, mas reconheço que temos colecionadores de nível internacional, com coleções realmente espantosas e fabulosas.

  1. Quais as grandes novidades que o mercado automobilístico promete para 2020?

O ano de 2019 foi um ano forte em termos de lançamento, com renovações de vários carros, mas essas novidades são mais ou menos previsíveis, pois quando se lança um carro novo, existem dois períodos em que devemos ficar de olho, o quarto ano depois do lançamento, quando se faz uma atualização, e o sétimos ano, quando se tem uma mudança de geração, aí sim, dependendo do carro, você aproveita para acrescentar novos motores, e assim são os ciclos. Então, 2020 vai depender do que temos vencendo neste ciclo.

Todas as fábricas tem planos de lançamento para novos produtos, a GM Volkswagen, Fiat, Ford, mas todas têm prioridades. Não faltará opção para quem compra e gosta de carros.

  1. Algo na legislação brasileira de trânsito que você acha que deveria mudar?

Algumas coisas poderiam ser melhor observadas, por exemplo, seria necessário rever o sistema de pontuação. Não sou contra, acho correto, mas o tempo da suspensão foi mudado. Antes, a suspensão era de 30 ou 60 dias, agora são 6 meses, isso é algo extremamente rigoroso e as vezes injusto. Então, acho que deveríamos voltar ao sistema anterior, reduzindo esse tempo. Não faz sentido uma suspensão de 6 meses ou de um ano com 20 pontos na carteira, considerando que existem algumas aberrações maiores na legislação, assim como o sistema de rodízio em São Paulo, onde você recebe pontuação por algo que não é uma infração. O rodízio em São Paulo é uma coisa absurda. O rodízio é feito basicamente em poucos países onde se tem gravíssimos problemas de poluição, o que não é o caso de São Paulo. São Paulo tem problemas de poluição, mas o rodízio não é feito para isso, e sim para melhorar o trânsito, então ficaremos eternamente nesse atraso, onde é preferível fazer um sacrifício com as pessoas para deixarem de usar o carro obrigatoriamente pelo qual pagaram com impostos altos e agora não podem usar. É preciso melhorar o trânsito de maneira mais criativa. A cidade do México, por exemplo, tem rodízio para carros antigos, muito antigos, o único país que imitou o Brasil foi a Colômbia, mas não resolveu a situação, e aqui continua pior, pois corremos o risco de perder a carteira em questão de minutos, podemos ficar presos em um engarrafamento e sermos multados, além de levarmos pontos, não faz sentido.

  1. O brasileiro compra carro por necessidade ou por status?

Eu acho que pelas duas coisas, mas mais por necessidade. Dependendo da época quando você tem um crescimento econômico mais robusto, a parte do status pode melhorar um pouco, para entrar na equação de compra, mas em geral, a necessidade é que se faz fundamental para você comprar um carro. Com a crise que passamos nos últimos 4 anos, da qual já começamos a sair lentamente, muitas pessoas ficaram fora do mercado, as pessoas com poder aquisitivo mais alto que ficaram, foram as que exigiram equipamentos mais caros para seus carros. Hoje, praticamente não se vende carro sem ar condicionado no Brasil, trata-se de uma necessidade, mas tem custo e durante anos os brasileiros não compravam o ar condicionado porque não tinham como pagar, então, esse ticket médio de venda subiu, os carros ficaram mais completos e seguros e isso tem um custo, mas esse custo tem sido menor do que a variação da inflação. As pessoas costumam comparar um carro pelo preço nominal, mas esse preço não quer dizer nada, é preciso saber qual foi a variação real do preço e se o carro é igual a 10 ou 20 anos atrás. A verdade é que quando se compra um carro de hoje, se compra um carro mais equipado, mais seguro e mais barato em termos reais quando se desconta a inflação, uma conta que poucos conseguem fazer. Mas ainda temos muito a crescer, temos uma população grande, a quinta maior do mundo, temos um índice de 5 habitantes por veículo, um pouco menos do que a média mundial, que é em torno de 6, e se baixarmos para 3, prova que ainda temos muito para crescer. Esse crescimento vinha em um embalo bom, mas foi interrompido em termos economicamente políticos. Em tempos de recessão a indústria automobilística é a que mais sofre, mas estou otimista de que isso vai mudar, pois nos últimos 3 anos a recuperação já começou, e ao lado disso é importante salientar que em todos os países, no caso da indústria automobilística, o crescimento é sazonal, em um período cresce e depois reduz as vendas, o que é normal. Estamos em um processo de ampla recuperação, acredito que até 2023 no máximo 2024, voltaremos ao mesmo nível de comercialização que tivemos em 2012 e 2013. Perdemos 10 anos, mas não é a primeira vez que isso acontece. Em toda a história automobilística, tivemos 4 ciclos de muito crescimento e depois uma queda substancial. Nos países que tem alta taxa de motorização, esses ciclos são menos amplos, a variação é menor. No Brasil, que ainda tem muito para crescer, podem acontecer essas situações de crescimento e queda muito rápidos. Mas acredito que agora vamos entrar em uma fase da economia mais sustentável, e autossustentável, que seria o ideal, onde não passaremos por grandes sustos de tempos em tempos.

 

Esperamos que tenham curtido a entrevista. Na semana que vem tem mais! Até lá!

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