Renata Figueira de Mello:Futuro de Isadora, por um segundo…

Terminam hoje os Jogos Olímpicos de Inverno de PyeongChang 2018 e a gente se despede das fantásticas manobras de esquiadores, skatistas do gelo e patinadores, que desta vez assistimos nas madrugadas e que nos tiraram o fôlego, na neve e no gelo, desafiando os seus próprios limites. As mulheres aumentaram sua participação e estão cada vez mais afiadas.

Nossa pequena Isadora Williams, no auge dos seus 22 anos, lamenta-se por não ter conseguido dar o seu melhor em sua última apresentação e terminar apenas em 24º lugar na patinação artística no gelo, mas nós achamos o máximo termos tido uma representante feminina, pela primeira vez na história, presente na final da modalidade.

O nervosismo traiu Isadora em sua exibição definitiva e o gelo não perdoa quedas. Naquele segundo em que é preciso arriscar-se tudo para chegar entre os primeiros, não se pode optar por uma performance apenas correta e mais segura. O risco tem que ser corrido, no caso dela, com giros, rodopios e mortais. Em poucos minutos de apresentação, ensaiados diariamente, durante anos, a atleta tem que buscar perfeição técnica e manobras ousadas, além de ritmo, graça e beleza. Isadora ofereceu isso de sobra nas classificatórias, mas na etapa final parece ter perdido um pouco da concentração que marcou suas performances anteriores.

Sua frustração ficou nítida, ao final e é compreensível. Atletas olímpicos de alto rendimento contam as suas vidas em ciclos de quatro anos. Para nós que assistimos, é apenas uma linda vitória a comemorar, uma medalha a mais para o país, ou um desempenho que não conseguiu chegar lá… Para eles, aquele segundo em que deixam de respirar pra obter o seu máximo, voar mais alto, dar um rodopio a mais, em pleno ar, deve dar a sensação de o tempo parar por completo e de o mundo estar assistindo (e está) como será a aterrissagem… neste caso, no gelo. É um instante em que a mente deve estar vazia, sem medos, pesos, ou distrações. E se algo dá errado, não pode comprometer o momento seguinte. Já imaginaram essa pressão?

Nas primeiras entrevistas, ainda visivelmente incomodada por sua atuação, Isadora quase chorou e em português misturado com o inglês (que é sua língua nativa, pois vive nos Estados Unidos) disse apenas ter falhado, infelizmente, por ter ficado ansiosa demais. Acontece. Mas se para nós é compreensível, para ela significa ter perdido uma oportunidade que só se repetirá em 4 anos, quando ela já terá 26 e, talvez, não mais no seu auge físico.

No dia seguinte, notificada de que foi a atleta escolhida para levar hoje a bandeira brasileira na festa de encerramento dos Jogos de Inverno, por puro merecimento, Isadora parecia mais animada. Para nós, o seu feito foi pioneiro, para um país que não conhece a neve no inverno e não tem qualquer tradição em esportes no gelo. Para ela, é um novo ciclo que se inicia, de muito treino, muitas quedas, muitas outras competições, até que ela se decida se vale a pena ou não focar em Pequim, nova sede dos Jogos, em 2022.

Ela diz que, a essa altura, estará “velha demais” para a patinação artística individual. A vitória da medalha de ouro pela atleta russa Alina Zagitova, de apenas 15 anos, parece reforçar sua tese, mas no esporte, nada é bem assim. A italiana Carolina Kostner, medalha de bronze em Sochi, nos jogos da Rússia, em 2014, esteve de volta à competição agora na Coréia do Sul, aos 31 anos e deixou muitas novinhas para trás.

Agora que o Brasil conhece de fato Isadora, filha de uma mineira com um norte-americano e com dupla nacionalidade, que chegou a dar aulas de patinação e fazer vaquinha pela internet para manter seus treinos nos Estados Unidos, enquanto cursa Nutrição na Universidade, talvez ela ganhe aquele empurrãozinho, ainda que virtual, da nossa torcida, para que siga tentando e sem medo de se arriscar.

Em março, agora (de 19 a 25), ela vai participal do Mundial de Patinação em Milão, na Itália e, dependendo dos seus resultados, talvez reconsidere sua hesitação em se preparar para Pequim. A gente, aqui, mais uma vez, do outro lado do mundo, torce para que ela se supere, levante, sacuda o gelo do último tombo e dê a volta por cima! 😉

2 respostas

  1. Para mim ela foi maravilhosa! Mesmo nervosa, ela estava linda e me senti tão feliz de te-la como representante do Brasil! Agora é ficar na torcida para que daqui há 04 anos possamos nos orgulhar novamente!

    1. Penso igual Luciana! Aos pouquinhos e timidamente vamos chegando aos Jogos de Inverno. Foi a melhor participação do Brasil nos Jogos. 24º lugar de Isadora e 23º dos rapazes do bobsled. Considerando que somos os terceiros melhores do continente no torneio e que à nossa frente temos nada menos que Canadá e Estados Unidos, que convivem com a neve e os esportes de inverno desde sempre… até que demos o nosso humilde recado da melhor forma possível.

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