Vivian Soares: Viva o cinema – Apresentação

Minha vida em um take

O grande cineasta italiano Federico Fellini, venerado, ainda, como um dos melhores diretores de todos os tempos, uma vez disse que o cinema é um modo divino de contar a vida. Em meu entendimento, a sétima arte adquire esse caráter tão excelso não somente por acrescentar, em parte, um pouco mais de mágica à própria realidade, como também por explorá-la à sua maneira, esmiuçando as fronteiras entre fato e invenção, unificando-as. No geral, é muito fácil se apaixonar por filmes, já que eles têm a capacidade de colocar em tela um reflexo mais místico do mundo real, é fácil se identificar com eles; como se fossem um velho amigo que surgiu de repente. Mas, como diria o renomado diretor contemporâneo Martin Scorcese (O Lobo de Wall Street): cinema é uma questão do que está no quadro e que está fora. Se apaixonar por cinema é completamente diferente de simplesmente gostar de assistir filmes, porque a arte de fazer cinema vai muito além de render entretenimento.

Para começar a apresentar minha trajetória pessoal e profissional no ramo do cinema, seria no mínimo, hipócrita, ignorar o ponto de partida que me catapultou até esta coluna, que foi justamente o amor puro e simples por filmes, sem qualquer pretensão intelectual.

Na minha vida, a conexão com filmes surgiu muito mais cedo que qualquer um possa imaginar, começando pelo meu nome. Vamos rebobinar para 2002, quando eu era apenas um projeto em andamento durante a gravidez da minha mãe, a ansiedade pelo meu nascimento andava lado a lado com uma outra inquietação: a escolha do meu nome. Existia um combinado entre meus pais, caso o bebê fosse um menino, meu pai escolheria o nome, se fosse uma menina, seria minha mãe. Um belo dia, minha mãe vai a uma locadora e decide alugar um filme que, apesar de não ser muito recente para a época, pareceu o tipo de história interessante de se ver – Uma Linda Mulher, com Julia Roberts. Eis que surge Vivian, a protagonista, em tela; minha mãe não apenas gostou da sonoridade do nome, como também adorou a forma como ele se encaixa perfeitamente em uma mulher de personalidade cativante, tal qual a personagem principal do filme. A partir daquele momento, ela soube, seguramente em seu coração, que eu me chamaria Vivian.

Quando criança, a pequena Vivian, só parava de importunar os pais depois que assistíssemos Branca de Neve (1937) ou Procurando Nemo (2003) pela décima vez ao dia. Eu adorava todas aquelas cores, o movimento, as personagens, suas motivações, e adorava o resultado que essa mistura produzia. Essa paixão inicial que floresceu já na infância era uma força motriz que originaria um amor genuíno pela sétima arte que me seguiria pelo resto da vida. Com o tempo, o apreço pelos filmes infantis foi naturalmente se dissipando para dar lugar a outros; com meu pai, descobri o interesse por filmes de terror, grandes ficções históricas, épicos e filmes de guerra, já com minha mãe, às comédias, musicais, romances e dramas. Cada um desses gêneros me acompanhou durante a adolescência e foi me ajudando a moldar meu próprio gosto, baseado em um único parâmetro: eu queria ver filmes que despertassem sentimentos genuínos em mim.

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Arquivo Pessoal/2004

Quase que como uma necessidade, comecei a mergulhar de cabeça no mundo cinematográfico, transitando por todos os gêneros fílmicos, por todas as épocas do cinema, por produções de vários países diferentes. Com tudo isso, fui adquirindo, ao longo dos anos, um conhecimento massivo na área; eu nunca me sentia entediada estudando cinema, pelo contrário, era uma sensação prazerosíssima aprender cada vez mais sobre. Tamanha foi minha devoção à sétima arte que comecei a escrever sobre quando tinha quatorze anos, naquela época, eu já havia entendido que apesar de filmes serem uma arte de relativo fácil acesso, a depender da variação de localidade e classe social, o cinema ainda é uma compreensão muito elitizada. Por isso, para além da vontade de simplesmente escrever sobre o tema com conhecimento técnico, adotando uma perspectiva crítica e analítica, surgiu em mim uma necessidade, surgiu em mim – quase que como um compromisso pessoal – a necessidade de tornar a linguagem cinematográfica um pouco mais acessível para meus leitores e coerente com a realidade.

Fiz cursos, me especializei, e minha chama me rendeu minha primeira coluna em um jornal local da minha cidade (Macapá – AP) no ano de 2019. Naquela época, eu tinha apenas dezesseis anos, mas a minha pouca idade não era suficiente para me fazer ignorar o significado daquilo. Se antes, eu já me dedicava com afinco ao meu hobby de estudar cinema, depois passei a me profissionalizar ainda mais. Sempre buscando referências literárias não só do meio cinematográfico, como também do jornalismo, da comunicação não verbal, da colorimetria etc. Tudo para fazer da minha análise e escrita o mais congruente possível, e para que fosse fácil transmitir isso a um público amplo, em que qualquer um poderia entender cada palavra sobre o filme. Com tudo isso, consegui construir uma carreira sólida, apesar de incipiente, como colunista na capital em que vivia.

Até que, no dia 03 de Março de 2022, a maior virada da minha vida até hoje aconteceu. Me mudei para Brasília, deixando para trás minha família para cursar Direito e construir uma nova realidade sozinha. Naturalmente, o início dessa fase foi muito desesperador, especialmente porque eu nunca tinha vivido nada parecido. Ao mesmo tempo que a impossibilidade de prever o que iria estava por vir me angustiava, havia uma onda de esperança me revolvendo a cada minuto, que simplesmente não ia embora. Eu tentava manter em mente a frase de Lorraine Schleine (Dakota Fanning) em Pequena Menina, Grande Mulher como um mantra pessoal.

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Cada história tem um final. Mas, na vida, cada final é um recomeço.”

 

Jardim Botânico – 2022 – Arquivo pessoal

Decidi me jogar de cabeça nesse recomeço, e aproveitar cada minuto em qualquer coisa que fizesse. Continuei escrevendo minha coluna para o jornal local do Amapá e divulgando minha escrita, nunca parei de estudar cinema, mesmo cursando Direito. Olhando para trás, tudo fica mais emocionante. Como aquela Vivian, que chegou tão cheia de inseguranças e medos em Brasília, poderia imaginar que apenas 8 meses depois de sua chegada teria uma nova coluna em um portal tão gigante quanto o Portal do Andreoli? Pois é, acredito que a vida seja realmente uma enorme caixinha de surpresas, e que independentemente do que vier, o importante é fazer o melhor que pudermos.

É justamente pensando no melhor que, para essa nova fase, que também representa um amadurecimento muito grande na minha escrita, quero poder inspirar nos meus leitores o amor não só por filmes, e sim também pelo cinema. Através de uma escrita que possa traduzir, de maneira mais democrática possível, a linguagem cinematográfica para que todos consigam entendê-la e escolher amá-la. Porque no fim das contas, viver o cinema é uma experiência sem igual, em que você pode compreender mais do seu contexto social, da sua história, das vivências de outras pessoas e grupos que não as suas, além de sentimentos que, apesar de não serem sentidos por você, podem te tocar de maneira única.

Portanto, o compromisso que assumo é de espalhar a palavra da paixão pelo cinema, de maneira fácil, acessível, e nem por isso menos bonita. Acima de tudo, de despertar nos meus leitores uma chama inapagável para viver e celebrar o cinema.

Por fim, só resta uma pergunta a se fazer, quem vem viver essa experiência junto comigo?

**O conteúdo e informação publicado é responsabilidade exclusiva do colunista e não expressa necessariamente a opinião deste site.

Imagens:  Arquivo pessoal da colunista.

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Uma resposta

  1. Sou de Macapá e, desde que comecei a ler as resenhas da Vívian, nunca mais parei. Essa facilidade em transmitir o momento, o sentimento, as cores, de forma saborosa tornaram um vício. A leveza dos textos não nos permite parar na metade. Parabéns, querida Vívian e obrigada por compartilhar seu conhecimento conosco!!!

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