Crítica: Maligno (The Prodigy) | 2019

The Prodigy

Quem me conhece e segue meus textos aqui no Portal do Andreoli sabe de minha admiração incondicional pelo trabalho do escritor Stephen King. Um dos filmes que mais aguardo este ano é o remake de Cemitério Maldito (Pet Sematary), que pelos trailers lançados até agora, parece que tem tudo para honrar a história de King e o violento original de 1989. A questão é que, depois de conferir este Maligno (The Prodigy, EUA, 2019), minhas preocupações com relação ao resultado do novo Cemitério Maldito aumentaram consideravelmente. Explico: Maligno é escrito por Jeff Buhler, o mesmo roteirista responsável pelo roteiro da nova reimaginação do clássico de King. E apesar de Buhler ter bons títulos no currículo, como o roteiro de O Último Trem (The Midnight Meat Train, 2008), seu trabalho em Maligno está longe de agradar aos fãs do horror. Mas Buhler não é o único culpado…

A tagline no pôster deste Maligno, diz que “há algo errado com Miles”, Miles sendo o protagonista do filme, interpretado pelo talentoso garoto Jackson Robert Scott (o Georgie Denbrough da nova versão de It: A Coisa, cuja crítica também está disponível aqui no Portal do Andreoli). A questão é que não é só Miles quem tem algo de errado, já que o novo filme do diretor Nicholas McCarthy (do eficiente Pesadelos do Passado, 2012), acumula problemas e defeitos que interferem demais no resultado final da produção. A própria direção de McCarthy é sonolenta, o que prejudica diversas sequências-chave do filme. Maligno não funciona devido ao cenário excessivamente previsível criado por Buhler, e devido à direção indecisa de McCarthy. Apenas um destes problemas poderia até ser contornado, mas os dois juntos, prova-se letal.

Miles, aos seus oito anos de idade, é um garoto super inteligente em algumas áreas específicas, ao mesmo tempo em que se desenvolve de maneira um pouco atrasada em outras relativamente mais fáceis. Na verdade, é difícil dizer o que exatamente há de errado com Miles, uma vez que Buhler não deixa claro em seu roteiro. Miles parece sofrer de algum tipo de autismo moderado, principalmente pela maneira estranha com que ele interage com sua mãe, Sarah (Taylor Schilling, da série Orange is the new Black), que está cada vez mais preocupada com seu filho. Contudo, as coisas ficam realmente esquisitas quando Miles começa a xingar a mãe em um idioma estrangeiro, quando ele ataca outro garoto com uma chave inglesa, e quando passa a querer dar fim no cachorro da família.

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Maligno se desenvolve mais de acordo com a fórmula do clássico A Profecia (The Omen), do que com a composição genérica dos filmes sobre crianças malignas. A questão é que tal fórmula já está mais do que manjada: Jovem Mãe dá à luz a uma Criança Violenta; Os Gentis Doutores encontram alguns sinais de preocupação com relação à Criança Violenta, mas reasseguram a Jovem Mãe de que não há nada para se preocupar ainda; A Criança Violenta começa a agir estranho; A Jovem Mãe passa a se preocupar a ponto de consultar um Espiritualista de Bom Coração (aqui interpretado por Colm Feore, de Tempestade do Século, 1999), que diz à Jovem Mãe que sua Criança Violenta se tornou o hospedeiro de um Grande Mal; A Jovem Mãe não acredita no Espiritualista de Bom Coração até Coisas Piores começarem a acontecer; Então a Jovem Mãe decide resolver as coisas com as próprias mãos, o que pode ou não ser tarde demais para ajudar sua Criança Violenta.

Tenho consciência de que resumir a trama do filme desta maneira pode soar arrogante ou até preguiçoso da minha parte, mas eu posso assegurar a vocês de que não há nada em Maligno que vá além do que eu informei a vocês no parágrafo acima. E honestamente, eu realmente tentei gostar do filme, principalmente por ter apreciado os trabalhos anteriores de Buhler e McCarthy. Eu também tentei ignorar todos os clichês e sustos manjados que a dupla teria tirado de outros tantos filmes de horror, por vezes de maneira descarada. Eu tentei focar no que eu estava vendo, um plano atrás do outro, de forma que eu pude desencanar um pouco da história e investir minha confiança nos personagens. Mas não adiantou muito.

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Sarah e seu marido emocionalmente distante, John (Peter Mooney), não só são chatos de se olhar, como são chatos só de se pensar neles. A dupla toma uma série de decisões genéricas bastante ruins ao longo da narrativa, além de serem personagens muito mal desenvolvidos pelo roteiro. Buhler e McCarthy se apoiam tanto na familiaridade de seu cenário que eles nem sequer se dão ao trabalho de explicar porque Sarah imediatamente aceita a opinião do hipnotista interpretado por Feore, ou como exatamente John teria sido afetado pelo abuso infantil do qual foi vítima no passado. Ao invés disso, a dupla de realizadores prefere apenas seguir Miles, enquanto ele, sem propósito algum, aterroriza outros personagens esquecíveis da trama.

Então, se há algo de errado com Miles, é que Buhler e McCarthy não fazem muito com o personagem. Eles o deixam tenso ou nervoso e esperam que os espectadores fiquem impressionados com isso, afinal, Crianças Violentas são horripilantes! Infelizmente, nem as cenas de susto do filme são bem executadas. Os personagens parecem descer as mesmas escadas escuras infinitamente ao longo do filme, apenas para que o público seja “surpreendido” por um jump scare mais do que óbvio. Maligno não foi concebido por cineastas incompetentes. Mas isso não o torna menos ruim.

Maligno estreia nos cinemas brasileiros no dia 14 de Março.

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