Nós costumamos dizer que a qualidade vale mais do que a quantidade. Ter amigos verdadeiros e contabilizá-los nos dedos das mãos vale mais do que ter um milhão deles e não poder contar verdadeiramente com algum numa situação de necessidade.
No esporte, quantidade e qualidade caminham junto: quanto mais treino, mais condicionamento, mais aperfeiçoamento, mais aprimoramento. A quantidade auxilia na qualidade.
Claro, se é esporte de competição, existe um objetivo: passar na peneira, subir de categoria, ser escalado, ser convocado, ganhar o jogo, vencer o campeonato, ser bicampeão, acumular medalhas, conquistar troféus — quantidade, quantidade, quantidade. Se não for bom no que faz, zero.
Se a prática do esporte não é profissão, mas por satisfação pessoal, é muito comum ouvir sobre o bem que isso tudo busca: qualidade de vida. Pelo próprio bem-estar, a gente define uma quantidade de dias e de horas. Um mínimo de quantidade e um mínimo de qualidade valem bastante.
O torcedor fanático, por outro lado, quer ganhar tudo. O jogo, o campeonato, todos os campeonatos dos quais participar, de preferência; contra o adversário mais forte, contra o menos conhecido, no clássico, no amistoso, dentro e fora de casa, de goleada, com gol feio, com gol de zagueiro, com gol contra, com gol sofrido, com gol chorado — quantidade, quantidade, quantidade. Bonito é ganhar. E não é?
Ganhar e perder são dois lados da mesma moeda. (Alguém já falou isso?) Se você vence, vai continuar treinando. Se perder, idem. Ou vai desistir? Vai largar tudo? Juan, zagueiro do Flamengo, disse uma vez que “tudo aquilo que não ganha é visto como algo ruim” e que a gente “tem muita dificuldade em aceitar uma coisa que não é campeã”. Tudo faz (e vai fazer) parte da história, mas a gente só quer lembrança boa na história da vida da gente. Se puder escolher, prefere chorar só de alegria.
Os treinadores multicampeões Bernardinho e José Roberto Guimarães foram, na mesma noite, eliminados na fase de quartas-de-final da Superliga de vôlei feminino. Aposto um ovo de Páscoa gigante: estão treinando, treinando, treinando, como se amanhã fossem disputar a final do campeonato. Quem foi mesmo que disse alguma coisa sobre suor valer ouro?
A vida vale ouro, mesmo que tudo seja efêmero. Tudo é realmente efêmero. O jogo. A vitória. A derrota. A alegria. A tristeza. A vida, inclusive. A emoção — toda e toda vez em que você entrar em campo — é que não pode acabar nunca. Se você não entende isso, nem entrou no Jogo, se é que me entende.
Você entendeu legal, Rafael Henzel. Gol de placa.