O que difere as pessoas que vivem pelo dinheiro daquelas que vivem por um propósito?
Outro dia estava pensando em Noé, sim, aquele da arca… a história é de um homem que obedecendo a Deus construiu uma arca imensa, com vários andares e compartimentos. Uma obra gigantesca para caber os casais de animais e toda a família dele.
Li que naquela época não chovia e que Noé e família sofreram muito bullying, todos riam dele e daquele elefante branco em construção. Por mais que ele alertasse para o risco de um dilúvio iminente, ele foi tachado de louco e ninguém em sã consciência acreditou que ele recebeu uma mensagem dos céus.
A questão não é discutir a Bíblia, mas falar de visionários que remam contra a maré da mesmice e resolvem fazer coisas grandiosas e aparentemente insanas.
Meu trabalho no terceiro setor me ensina muito sobre as pessoas. Outro dia me perguntaram de uma colaboradora que sumiu e eu respondi que ela estava muito ocupada com o trabalho, está numa excelente fase, com muitos clientes e por isso não consegue dispender tempo com voluntariado, levei um susto com a resposta que recebi, na verdade, devolveram minha resposta com outra pergunta: mas e a nobreza da alma?
Eis que surge a questão, qual valor precisamos atingir para estarmos numa zona confortável o suficiente para termos condições de abraçar causas humanitárias?
Já ouvi dizer que independente de quanto você tem, sempre é possível doar algo, pode ser um abraço, uma palavra de incentivo, algumas horas do seu dia.
Segundo o dicionário, mercenário é aquele que age ou trabalha apenas por interesse financeiro, por dinheiro ou algo que represente vantagens materiais; interesseiro, venal.
Missionário é aquele que foi incumbido de realizar determinada missão, sendo que missão é um encargo, um propósito, é um compromisso, um dever. Numa empresa, missão é a razão de ser do negócio.
Somos seres humanos dotados de livre arbítrio, somos capazes de escolher o que queremos fazer, como vamos conseguir, onde queremos chegar, com quem queremos partilhar nossas dores e vitórias.
Numa palestra motivacional ouvi a Elisa contar que seu primeiro trabalho foi como telemarketing, ela precisava ganhar dinheiro para pagar a faculdade e ajudar com as contas da família, seu emprego era horrível e desde o momento em que chegava contava os minutos para sair de lá. Era meramente uma questão de sobrevivência, tudo tão enfadonho que ela mentia quando perguntavam o que fazia, inventava que era vendedora, recepcionista ou atendente de uma rede de fast food.
Ela estava desmotivada, precisava encontrar outra saída, até que finalmente surgiu uma oportunidade de estágio remunerado na sua área, o valor era o mesmo que recebia como telemarketing, a diferença estava na felicidade que sentia, agora acordava todos os dias animada para ir trabalhar, estava aprendendo e tinha líderes inspiradoras, um mundo novo se descortinava à sua frente.
A empresa estava localizada próxima a uma comunidade e havia uma comissão de funcionárias que organizava ações para incentivar o empreendedorismo e capacitar as mulheres com oficinas de artesanato, gastronomia e estética.
Muitas dessas mulheres chegavam acuadas, com medo, vítimas de violência doméstica e sem perspectiva de mudança de vida, passavam por triagem com psicólogas, assistentes sociais e eram orientadas sobre como se tornar dona de um negócio, podia ser vender bolos ou abrir um salão de beleza.
Esta era a oportunidade de se engajar em algo grandioso, na transformação de vidas! A Elisa foi efetivada na empresa, seu salário aumentou e um milagre aconteceu, agora ela tinha orgulho dela mesma! Além de ter conseguido seu diploma se tornou uma palestrante, contava como sua vida tinha mudado quando optou por ser voluntária para ajudar outras mulheres a se reerguerem, a acreditar em si mesmas.
Se você focar exclusivamente no dinheiro, em bens materiais, provavelmente você é uma pessoa extremamente competitiva, para você sempre tem quem ganha e quem perde, você precisa ser a melhor, está habituada a lutar pelo poder, disputar e vencer, na sua ótica, causar inveja é motivo de satisfação, quer dizer que você chegou onde as outras gostariam de estar.
Por outro lado, se você vive por um propósito provavelmente você é uma idealista, busca pertencimento em grupos que lutam por uma causa, por uma revolução, você busca paz de espírito, ética, justiça e nobreza de sentimentos. A vaidade é deixada de lado e você faz alianças, pois sabe que sozinha você vai mais rápido, mas juntas vocês vão mais longe.
Você se preocupa com mudanças ambientais, sustentabilidade, o destino dos resíduos sólidos, em deixar um legado para as próximas gerações.
Para mim, ganhar ganhar é a melhor opção na vida, sem egoísmo, levantando a cabeça para olhar o futuro, deixando de olhar o próprio umbigo. É ter uma matemática da vida onde dividir resulta em multiplicar, é somar e crescer, é ser feliz!
“Se você quer construir um navio, não chame as pessoas para juntar madeira e trabalhar; ensine-as a desejar a imensidão infinita do oceano.” Antoine de Saint- Exupéry
