As aparências enganam. Era o que cantava Elis Regina. “As aparências enganam aos que odeiam e aos que amam”. O ódio cega. O amor cega. Na vida real. No esporte, no futebol.
Quando a mocinha se apaixona pelo mocinho (ou vice-versa) ou acham que estão apaixonados, ficam deslumbrados, riem de tudo à toa, porque tudo é lindo, mesmo que não seja. O amor cega. A paixão cega. Fazem os olhos enxergarem o mundo além, aquém, através. Um tanto irreal.
Quando deixamos de gostar de alguém, raras são as vezes em que exatamente as qualidades que admirávamos não se tornam as que passam a nos incomodar. É pontual. Quase um tiro certo, ali, bem no meio do coração ― provavelmente onde mais dói. O ódio cega. A raiva cega. Fazem os olhos enxergarem o mundo além, aquém, através. Um tanto irreal.
Quando somos torcedores fanáticos de um time de futebol ― embora não vejamos nele apenas suas qualidades e, sim, criticamos muito quando não nos agrada ―, sofremos muito, choramos muito, vibramos muito, cantamos muito, zoamos muito (o adversário), fazemos estádios tremerem, fazemos cânticos, fazemos a pele se arrepiar.
Esse amor cega, sim. Porque somos o melhor do mundo. Somos sempre o número um em estatística específica. Somos sempre campeões em tudo o que mostramos.
Aos que nos odeiam, nada disso existe. Blecaute total. Cegueira total. Esse ódio cega. Somos o maior rival. Somos o pior adversário. Somos o maior perdedor. Somos o grande despeitado. Somos gananciosos, pretensiosos, enganadores.
O time que começa o ano ganhando o campeonato estadual é logo esquecido quando o nacional vai rolando. Vão trocando de treinador. Vão vendendo e emprestando jogador. Torcedor apaixonado se deslumbra quando três vitórias seguidas seguram a máscara. O baile dura meses e meses. Treinador, muitas vezes, tem mais de uma máscara na cara. Jogador também. Caem uma a uma, jogo a jogo. Dependendo do ritmo da dança, o vestiário mostra a primeira, ou a segunda, por assim dizer. Depois, a dança pode se estender para bastidor financeiro. Existem pares que não dançam bem juntos, se é que me entende. Muitos vão embora do baile. Outros estragam a festa ― sabe como é?
Baile de máscaras é assim na vida, no jogo, no futebol. As caras vão se mostrando aos poucos, conforme a música. Para alguns, a máscara é só um acessório, que não acrescenta nem modifica o que está por trás. Para outros, encaixa tanto que transforma por dentro, além, aquém, através. Quando cai, não se sabe se é real a que caiu ou a que ficou.
Tem gente que brinca de futebol. Tem gente que se deslumbra só com a possibilidade de estar no futebol. Tem gente que está no futebol apenas na hora errada. Tem gente que vive no baile de máscaras, só trocando de máscara, fazendo de conta que entende de futebol. E pensa que a gente não tá vendo nada…