Crítica: Sombra Lunar (In the Shadow of the Moon) | 2019

Por um acaso você já teve a vontade de assistir um filme que misture praticamente todos os gêneros de uma só vez? Caso sua resposta seja afirmativa, então este Sombra Lunar (In the Shadow of the Moon, EUA, 2019) foi feito para você! Uma frenética mistura de ficção-científica, mistério, horror e ação, o filme só fica devendo um número musical e alguma subtrama de comédia romântica. Esta ambiciosa (e por vezes absurda) experiência cinematográfica se arrisca bastante, por vezes quebra a cara, mas em outros momentos acerta na mosca. A primeira camada de Sombra Lunar é a de um thriller policial, mas a produção insere elementos sci-fi como viagens no tempo, e gore digno de um filme de horror dos anos oitenta. Esta mistura, tão ingênua quanto honesta, é difícil de não ser apreciada pelos fãs do cinema fantástico, assim como eu.

O filme tem início no ano de 1988, na cidade de Filadélfia, onde o tira Thomas Lockhart (Boyd Holbrook, de Logan e O Predador), sonha em se tornar um detetive. Numa noite, Lockhart acaba envolvido em um mistério no mínimo atordoante: Várias pessoas em diversas partes da cidade morrem inexplicavelmente da mesma maneira. Mais precisamente, seus cérebros literalmente derretem dentro de seus crânios, causando uma cachoeira de sangue que jorra de suas orelhas, olhos, nariz e boca. Sim, a parada é cabulosa, e ninguém tem a mínima ideia de como estas mortes (ou seriam assassinatos?) aconteceram.

Apesar da inexplicável natureza dos crimes, um suspeito é logo identificado: Uma jovem mulher, Rya (Cleopatra Coleman), e não demora para Lockhart a encontrá-la depois de uma empolgante perseguição. Contudo, antes que o policial consiga obter algumas respostas, a suspeita é atropelada por um trem do metrô (!). Anyway, caso encerrado, certo? Lockhart é de fato promovido a detetive, e seu cunhado, Holt (Michael C. Hall, o Dexter da série de TV), também um tira, é promovido a tenente. Contudo, nove anos depois, a misteriosa mulher reaparece, vivinha da silva, e matando outra vez. Esta inexplicável ressurreição mergulha Lockhart novamente no caso, e não demora para que ele desenvolva uma elaborada teoria sobre o que realmente está acontecendo. Tal dedução faz com que todos ao redor do detetive pense que ele está totalmente pirado, mas ele se recusa a descartá-la. Basicamente, Lockhart acredita que a cada nove anos, a assassina retorna.

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Sombra Lunar é dirigido por Jim Mickle, cineasta cujo nome está por trás de alguns excelentes exemplares do cinema indie americano, como Mulberry Street: Infecção em Nova York (2006), Stake Land: Anoitecer Violento (2010), Somos o Que Somos (We Are What We Are, 2013) e Julho Sangrento (Cold in July, 2014), onde também faz misturas de gêneros. Aqui, Mickle tem a oportunidade de trabalhar com um orçamento muito maior do que de costume, o que fica evidente nas numerosas perseguições de carros que soam genuínas e reais. A direção de Mickle também chama a atenção quando ele foca a narrativa nos elementos de horror, como nas tomadas que mostram os cadáveres vítimas das misteriosas e sangrentas mortes retratadas no filme. Graças à fotografia de David Lanzenberg (A Incrível História de Adaline, 2015), a produção carrega um visual estilizado que favorece os tons de azul e as cores frias que dão ao filme um tom bastante urbano.

Entretanto, Sombra Lunar começa a se arrastar um pouco devido ao seu excesso de ambição. Os roteiristas Gregory Weidman e Geoff Tock têm um bom estoque de ideias inventivas, mas não parecem completamente confiantes na história que estão contando. Talvez tivesse sido mais prudente para a dupla se apegar em um ou dois gêneros apenas e apoiar a narrativa neles, mas nunca saberemos como o filme se sairia no final. Não ajuda também o fato de Holbrook ser um fraco protagonista. O ator nunca acerta o tom do personagem, e quando é exigido nos momentos mais dramáticos do roteiro, ele não consegue entregar a carga necessária. Hall, que geralmente é um ator bastante competente, também entrega uma performance aquém do que é capaz de entregar. Já o nome menos famoso dos protagonistas, Cleopatra Coleman, rouba a cena como a misteriosa assassina, apoiando sua performance em uma excelente linguagem corporal.

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Eventualmente, todos os gêneros que formam este Sombra Lunar se juntam para o grande e ousado clímax que consegue a façanha de funcionar e não funcionar ao mesmo tempo. A força da história que Mickle e companhia estão contando é impossível de ser negada, mas sua entrega deixa a desejar, principalmente quando recorre a uma desnecessária narração que deixa a impressão de que Mickle e seus roteiristas acham que o espectador é burro e precisa de um empurrão para entender o que acabou de acontecer. Sombra Lunar é um filme em guerra consigo mesmo; quer ser tudo ao mesmo tempo, mas acaba se esquecendo de que na grande maioria das vezes, menos é mais. Porém, não deixa de ser divertido.

Sombra Lunar estreia no catálogo da Netflix no dia 27 de setembro.

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