‘Guardiões da Galáxia – Vol. 3’ encerra trilogia com trama emocionante e fora da curva

Até meados de 2014, a fórmula Marvel seguia um padrão muito diferente do atual. Com uma estética mais sóbria, poucos alívios cômicos e um ar de seriedade maior, o universo cinematográfico Marvel tinha uma estética mais austera. Mas após o lançamento de ‘Capitão América: O Soldado Invernal’ em abril daquele ano, um filme estava prestes a revolucionar completamente o Universo Cinematográfico Marvel.

‘Guardiões da Galáxia – Vol. 1’ foi sucesso imediato de crítica e público; com uma mistura de cenas de ação muito bem estruturadas, trilha sonora dançante, uma estética colorida e vibrante aliadas a uma espontânea comicidade, o diretor James Gunn subverteu a ideia de que um filme de super-herói precisava se enquadrar nos moldes tradicionais sem nenhum acréscimo de autenticidade.

Já conhecido no ramo cinematográfico por seu estilo mais cômico e estética divertida na composição de filmes de super-herói, James Gunn atingiu seu ápice como cineasta compondo essa trilogia aclamadíssima, que foge de parâmetros conservadores do conceito de heroísmo, trazendo uma equipe de heróis repleta de defeitos, em que cada um tem personalidades muito diferentes uma da outra, mas, de alguma forma, complementares.

Mas para além disso, o diretor James Gunn soube guardar o melhor para o final, encerrando a trilogia de maneira marcante. ‘Guardiões da Galáxia – Vol. 3’ tem uma narrativa voltada para Rocket (Bradley Cooper), o famoso guaxinim humanoide já conhecido por sua personalidade fechada, tiradas sarcásticas e explosões de raiva. Após a equipe sofrer um ataque de Adam Warlock (William Poulter), o guaxinim fica à beira da morte, e os Guardiões partem em uma missão arriscada para salvar a vida do amigo.

Com vários flashbacks da infância do personagem, o espectador conhece um outro lado dele, para além de tudo que já havia sido mostrado no UCM. Vítima de maus-tratos constantes, o guaxinim foi modificado geneticamente e passou por inúmeros experimentos abusivos, fatores que moldaram sua personalidade distante.

Tudo isso poderia ser só mais um melodrama barato que não convence, só que a execução do arco de Rocket é tão bem-feita que é quase impossível não se colocar no lugar do personagem e sofrer junto com ele. Suas questões internas são profundas e muito bem trabalhadas, trazendo uma emotividade não muito comum a filmes do gênero e, acima de tudo, muito saudável. Se a marca pessoal de Gunn é sua autenticidade, dessa vez ele deixa essa caraterística transparecer se valendo da vulnerabilidade.

(Rocket, interpretado por Bradley Cooper em Guardiões da Galáxia – Vol. 3)

Não que a comicidade típica do filme ceda inteiramente lugar à tragédia, Gunn amarra bem o suficiente as pontas soltas de sua obra para que nenhum arco se perca em meio ao outro. Por exemplo, há o ressurgimento de Gamora (Zoe Saldana), presumidamente morta até então, o que provoca sentimentos muito conflitantes em Peter Quill (Chris Pratt) ao longo do filme. Outro arco interessante é a revolta de Mantis (Pom Klementieff) por ser constante descredibilizada por conta de seu jeito amável e condescendente demais.

Cada um dos arcos se complementa através do enorme instinto protetor e senso de família entre as personagens, que são fatores impulsionadores de crescimento da trama. Apesar de suas diferenças, eles não se enxergam mais apenas como um grupo de amigos, e sim como uma família que se escolheu e se abraçou, e esse sentimento evolui para um belíssimo desfecho: o reconhecimento da individualidade de cada um.

Mas nem só de aspectos subjetivos vive um filme, quanto a detalhes mais técnicos da produção, há que se destacar quão fascinante o resultado da montagem das cenas de luta ficou, extremamente coeso e estilizado, lembrando a dinâmica de uma HQ e aprofundando a imersão na história.

Outro ponto forte é a qualidade das atuações do elenco, em especial do ator Chukwudi Iwuji, que interpreta um dos vilões mais detestáveis do universo Marvel até então. Insano e cruel, o Alto Evolucionário – um homem megalomaníaco que se autodenomina um deus criador de mundos – é um dos aspectos mais instigantes do filme, um vilão convincente e digno de um encerramento cativante. O resto do elenco brilha e empolga muito, como sempre, mas a vilania que Iwuji consegue encarnar na pele do Alto Evolucionário é digna de nota.

Com tudo isso, ‘Guardiões da Galáxia – Vol. 3’ coroa a trilogia com uma trama realmente fora da curva no gênero dos filmes de super-herói, que se permite expor vulnerabilidades, abraçá-las e, ainda sim, mantém a excentricidade essencial desse grupo. Emocionante, o filme desperta um leve sentimento de luto ao final, consagrando a trilogia como uma das melhores feitas pela Marvel até então. Superando todas as expectativas, James Gunn entrega uma história memorável sobre heróis que vão permanecer na lembrança do público com o carinho típico e intimista de quem abraça uma nova família.

 

 

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Imagens: Foto Divulgação filme Guardiões da Galáxia – Vol. 3

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