Crítica: Greenlight (2020)

Você já deve ter ouvido a expressão “Matar ou Morrer”, certo? Pois é exatamente este o dilema que surge no caminho de um jovem cineasta neste tenso Greenlight (EUA, 2020), thriller vencedor do Shriekfest Film Festival ocorrido em Los Angeles no final de setembro passado, e que bebe pesado na fonte do excelente suspense Oito Milímetros, um dos melhores filmes da carreira de Nicolas Cage, dirigido por Joel Schumacher em 1998. Apesar de beber na fonte do referido filme, Greenlight leva as possibilidades de sua trama a cantos escuros aos quais 8MM não se atreveu a adentrar.

O carismático Chase Williamson (John Morre no Final, Siren) interpreta Jack Archer, um jovem e esforçado diretor de cinema que se encontra em um antigo paradoxo hollywoodiano: Ninguém irá contratá-lo para dirigir um filme, a não ser que ele já tenha dirigido algum. E como ele não tem a mínima condição de bancar um projeto seu, ele continua no limbo. Após um encontro casual com uma atriz, Jack acaba conseguindo uma reunião com Moseby (Chris Browning, de Bright), um produtor de um suspense de baixo orçamento, e para sua surpresa e alívio, Jack é contratado para dirigir o tal filme.


Porém, há uma grande peculiaridade sobre o projeto que ele só descobre aos 45 do segundo tempo; o referido produtor quer que a morte final de seu filme seja real, o que implicaria no assassinato/homicídio do protagonista da produção. Ou seja, Archer foi contratado para dirigir um snuff film. Agora, encurralado por Moseby e sua equipe, Jack tem que decidir o que é mais importante: Manter sua integridade ou terminar seu primeiro filme.

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Tal premissa por si só já é bastante esperta, e o filme que deriva da mesma corresponde ao ótimo potencial da ideia. Williamson está excelente no papel do pobre diretor, que se encontra na típica situação do “se correr o bicho pega e se ficar o bicho come”, e luta para se manter “limpo” em meio à sujeira em que se meteu por engano. Jack até tenta recorrer à sua atenciosa namorada, Sarah (Nicole Shipley) em busca de ajuda, porém Moseby ameaçou não só matar a namorada de Jack, como também qualquer pessoa com quem ele tenha ligação. Ele então se encontra num mato sem cachorro, completamente sozinho, mas com algumas cartas na manga para tentar sair do imbróglio em que está envolvido.

O desconhecido Chris Browning rouba a cena com sua performance no papel do imoral produtor. Como diria o finado Bezerra da Silva, Moseby é um tremendo canalha, que obviamente tem algumas razões para querer o protagonista de sua obra no cemitério. Seu personagem acredita em sua causa, e faz o diabo para convencer seu novo diretor de que tudo dará certo no final, e que o filme ainda por cima será um sucesso. Pensem em Moseby como uma espécie de Harvey Weinstein, porém ao invés de denúncias de assédio, o lance dele é derramar o sangue de seus desafetos.

O diretor estreante Graham Denman se apoia no talentoso elenco que tem em mãos, e faz excelente uso das qualidades de cada intérprete. Este macabro e sórdido conto sobre os bastidores de Hollywood ganha pontos não só por sua natureza dark, mas também por seu humor cínico e peculiar, em que me peguei várias vezes rindo de nervoso. O roteiro co-escrito por Denman em parceria com o novato Patrick Robert Young é repleto de camadas, e o referido humor é um deleite para aqueles que conhecem a indústria cinematográfica e os processos para se fazer um filme, o que cá entre nós, também é um território perigoso, porém em um sentido menos literal.

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Greenlight é aquele típico midnight pleasure que revela Denman como um talento a ser observado. Se ele é capaz de criar algo tão bem feito e divertido com um orçamento nitidamente limitado, fico imaginando o que ele não seria capaz de produzir alguns anos à frente e com grandes orçamentos à sua disposição. Com certeza ele não precisaria matar ninguém para tirar seu próximo filme do papel.

Greenlight não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros, e deve chegar ao país diretamente através de sistemas de streaming e VOD.

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