No sábado de carnaval saí para almoçar por volta das 13h45. Estacionei meu carro na rua pois o restaurante onde ia não conta com estacionamento para clientes. Mal tinha dado alguns passos quando fui abordado por um menino bem-vestido e asseado que aparentava 10 anos de idade. Segurava uma placa com alguns dizeres solicitando dinheiro ou comida.
De imediato, a triste cena me provocou um dilema; dois sentimentos completamente distintos, que gostaria de dividir com o leitor:
1) Não vou dar dinheiro. Se der colaborarei para manter esse garoto nas ruas esmolando. Se ele continuar nessa atividade e sem frequentar escola, tem grande possibilidade de se tornar um delinquente em breve. Também me veio à mente que poderia buscar dinheiro para fazer uso de drogas ou ser obrigado pelos pais ou adulto corruptor de menores. Em alguns casos extremos, crianças surgem pedindo dinheiro e em seguida puxam faca, caco de vidro ou até mesmo arma de fogo e anunciam assalto.
2) Vou dar dinheiro pois ele pode estar mesmo com fome. Pensei também em pegar uma marmita no restaurante para que ele pudesse almoçar comida quente.
Mas o que fazer em tal circunstância?
Na verdade, todo brasileiro, quase que diariamente, passa pela mesma situação, principalmente nas capitais e regiões metropolitanas, onde a pobreza e desigualdade social imperam
Conheço algumas pessoas que ao verem crianças esmolando nas ruas ficam mal frente a tanta injustiça social, sem contar aquelas que liberam algumas lágrimas e até chegam a chorar. Na verdade, deveríamos sempre chorar em tais situações, mas de raiva por um país tão rico oferecer tão miseráveis condições de vida a parte de seu povo.
Voltando à situação que vivenciei, parei por alguns minutos para conversar com o garoto que segurava a placa de papelão. Perguntei onde morava e qual o motivo que o levou a pedir esmola. A resposta foi dada sem pestanejar:
“Eu moro num bairro depois de Pirituba/SP e há 6 meses peço dinheiro nas ruas para ajudar minha família”.
Em seguida, me confidenciou que parou de estudar pois não tinha nenhum estímulo para ir ao colégio.
Qual será o futuro desse menino e de milhões de outros como ele?
Confesso que esse pensamento não me abandonava. Não existe futuro para crianças que param de estudar e passam a maior parte do tempo largado nas ruas. E do futuro delas depende o futuro de todos nós, do nosso Brasil e dos nossos filhos e netos.&n bsp;
Por último, indaguei se estava com fome e ele disse que sim. Pedi que esperasse um pouco que eu providenciaria um marmitex no restaurante onde estava indo almoçar.
Após 15 minutos retornei com um bom prato de comida quentinha, um copo de suco de laranjas natural e 3 barras de chocolate; o mínimo que uma criança, um ser humano, precisa para se alimentar decentemente.
Para minha surpresa, ele já havia ido embora, mas multidões de brasileirinhos miseráveis estão vagando por nossas ruas, enfrentando violência, fome e o pior, nenhuma perspectiva de melhora. Acho que nem sonham com uma vida melhor, só sofrem!!!
JORGE LORDELLO