A nota de R$ 200 foi lançada oficialmente pelo Banco Central e começou a circular na última quarta-feira, dia 2 de setembro. As autoridades monetárias justificaram a sua criação em decorrência do aumento de demanda pelo dinheiro em espécie e como forma de evitar a falta de cédulas no mercado. Mas as consequências podem ser outras.
Diante de incertezas trazidas pela pandemia, muita gente preferiu sacar de suas contas para ter em casa uma reserva financeira em dinheiro vivo, um comportamento que não é exclusividade dos brasileiros, mas que foi verificado em diversos países. Ter dinheiro em casa, durante a quarentena pode representar mais segurança para muitas pessoas.
Mas além disso, os recursos retirados pelo auxílio emergencial, de R$ 600, também foram recolhidos pelos consumidores, e não voltaram para os bancos nem para circular na economia. Ao mesmo tempo, as compras e operações feitas pelo meio digital, sem a circulação de cédulas contribuem igualmente para provocar uma escassez de notas em papel em circulação, uma vez que o consumidor não tem a necessidade de desembolsar dinheiro em espécie.
O conjunto desses três fatores, retirou boa parte das cédulas de circulação, daí a decisão de emitir mais dinheiro. E por que foram escolhidas as notas de R$ 200? Porque é mais econômico, segundo o BC: o custo de impressão de 450 milhões de unidades de R$ 200 será de R$ 146 milhões permitindo a inclusão de R$ 90 bilhões em circulação. Para colocar esse mesmo tanto de dinheiro em notas de R$ 100 ou de R$ 50, esse custo seria bem mais alto. Mas a injeção das novas cédulas não surte somente efeitos preventivos para abastecimento do mercado, mas tende a facilitar a prática de crimes financeiros, na opinião de advogados especializados.
O advogado Alberto Goldenstein, especialista em Direito Empresarial e Civil, afirma que, embora não induza ao crime, a nova cédula poderá facilitar a corrupção por meio da ocultação de patrimônio, a lavagem de dinheiro e o tráfico de ilícitos, além de dificultar o rastreamento do dinheiro. “Notas de valores altos são mais fáceis de guardar e carregar em maletas”, diz ele.
Vinicios Cardozo, advogado especialista em Direito e Processo Penal, observa que a circulação da nota de R$ 200 pode ser uma oportunidade para a atuação de assaltantes e falsários. Isso porque “as cédulas de maior valor resultam em mais lucratividade com assaltos a caixas eletrônicos e lotéricas, por exemplo, e pode se tornar um estímulo à prática desses crimes”
Ao mesmo tempo, ressalta Cardozo, a circulação de cédulas novas é historicamente aproveitada por falsários. “É importante que as pessoas sejam bem informadas e alertadas para que não acabem vítimas de golpes”. Esses seriam os principais alertas para atitudes práticas no recebimento, manuseio e transporte das cédulas. O advogado afirma que ainda é cedo para avaliar com precisão os efeitos que a cédula de R$ 200 terá na economia como forma de pagamento, até porque é cada vez mais frequente o uso de outros meios, especialmente digitais, para a quitação de uma compra ou realização de uma operação.
Regina Pitoscia
Imagem: Banco Central do Brasil www.bcb.gov.br