O anúncio, na semana passada, da venda das instalações industriais desativadas da Mercedes-Benz, em Iracemápolis (SP), para a Great Wall Motors (GWM) não chegou a ser exatamente uma surpresa. Desde 2012 a GWM mostrava interesse no mercado brasileiro, mas preferiu esperar por momentos melhores. Havia dúvidas sobre se instalar como importadora ou nomear uma representante. Em 2019 notícias de bastidores levantaram uma possível associação entre a empresa e o Grupo CAOA para adquirir a fábrica da Ford em São Bernardo do Campo (SP). Porém, não prosperou.
Outras chinesas, JAC e Chery (ambas estatais), adotaram caminhos diferentes. A primeira nomeou o Grupo SHC, de Sérgio Habib, como sua representante. A marca estreou relativamente bem, mas o programa Inovar-Auto, de 2013, elevou muito a carga fiscal sobre empresas que não produziam no Brasil. O grupo entrou em recuperação judicial e hoje tem participação de mercado simbólica, embora sua guinada para modelos elétricos da própria JAC venha ajudando.
No caso da Chery o erro de avaliação foi quase fatal. Inaugurou uma fábrica inteiramente nova em Jacareí (SP) e já no dia seguinte sofreu com uma greve. A operação provou-se inviável até o Grupo CAOA entrar na sociedade em 2017. O grupo brasileiro atuou com competência para salvar a marca, dividindo a produção entre Jacareí e Anápolis (GO).
A GWM (maior fabricante de capital privado chinês) deve ter negociado muito bem a aquisição da fábrica paulista com a matriz da Daimler, na Alemanha. Uma unidade pequena, para apenas 2.000 veículos/ano e 370 funcionários. Os planos, porém, são audaciosos: 2.000 funcionários e 100.000 unidades/ano em prazo ainda em aberto. Seu portfólio inclui cinco marcas (Great Wall, Haval, WEI, TANK e ORA) com oferta de SUVs e picapes médias bastante demandados aqui.
O grupo, no entanto, mostra algo desabonador. Já fez cópias descaradas, na China, de produtos da Fiat, Isuzu, Nissan, Scion e Toyota. Agora mesmo lançou lá um “Fusca” de quatro portas. Embora, certamente, não deva repetir esses mesmos erros aqui, outra chinesa, a Lifan, já vendeu uma cópia do Mini no Brasil. Chery e JAC nunca apelaram para esse expediente e indicam a imagem a ser seguida.
Seminário discute segurança e conectividade
A Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), em seminário virtual, mostrou as tendências em segurança e conectividade nos próximos anos. Daniel Tavares, do Denatran, disse que na Semana Nacional do Trânsito, agora em setembro, serão apresentadas novas metas de segurança. Carlo Gibran, da Bosch, frisou que há um árduo trabalho de discussão e aprovação de 38 tecnologias para veículos em prazos que vão de seis a 48 meses. Muitas dessas regulamentações ainda são recentes, mesmo no exterior.
Lucas Chamon, da RA Automotive, destacou o desafio do volume de dados processados e conectados por um único carro autônomo ainda em testes: 30 TBytes por dia. Isso é 3.000 vezes mais que a quantidade gerada em uma rede social como o Twitter, diariamente. Mesmo com auxílio da telefonia celular 5G muito ainda terá que ser feito para adicionar confiabilidade e consistência.
Quanto à confidencialidade dos dados pessoais dos ocupantes do veículo João Garbin, da Volvo Cars, garantiu que serão preservados. A dúvida surgiu quanto à possibilidade de serem repassados a autoridades de trânsito.
ALTA RODA
NEM a Toyota escapou dos problemas de abastecimento de semicondutores e cortará no próximo mês de setembro 40% de sua produção mundial. Alguns países serão atingidos mais do que outros, embora a empresa planeje recuperar o volume até março de 2022 (fim de seu ano fiscal). Segundo a agência Reuters, a Toyota aumentou os estoques de chips desde o desastre nuclear de Fukushima, em 2011 e, por isso, vinha sendo menos afetada que outras fabricantes.
CR-V 2021 manteve dimensões e desempenho. Reestilização dianteira, novas rodas e retoques na traseira deixaram o SUV médio da Honda mais atraente. Tração 4×4 por demanda proporciona ótima dirigibilidade. Pacote de segurança completo: controle de cruzeiro adaptativo e frenagem emergencial autônoma entre outros. Portas USB bem posicionadas e carregamento de celular por indução melhoram a conectividade. Importado dos EUA, preço alto deixa-o pouco competitivo.
PORSCHES 911 GT3 e 718 Cayman GT4 chegam por R$ 705.000 e R$ 1.149.000, respectivamente. Ambos utilizam motores de aspiração natural, no cenário dominado por turbocompressores, inclusive da própria marca. Em teste no Autódromo Velocittà, o primeiro, agora com 510 cv, está mais “no chão”, como se diz, com mudanças nas suspensões e aerodinâmica. O segundo ganhou potência (passou para 420 cv) e proporciona experiência de guiar ímpar pela agilidade de respostas graças ao motor traseiro-central.
Fernando Calmon
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