Começou sem querer, no meio de uma reunião de mulheres, algumas já eram amigas de longa data, outras ainda tímidas, recém chegadas ao grupo.
Pertencemos a um coletivo de mulheres reais, de carne e osso, cheias de qualidades, mas também de defeitos, com muitas histórias de perdas, erros, acertos e conquistas para contar.
A minha história certamente vai parecer o enredo de uma novela mexicana, com direito a momentos hilários e outros muito tristes e comoventes.
As mulheres superpoderosas com capas e poderes sobrenaturais são lindas de ver, mas impossíveis de encontrar.
E está tudo bem, vivemos nossas vidas reais, às vezes num mar de rosas, às vezes aos trancos e barrancos e de vez em quando à beira de um precipício.
Enfrentamos nosso dia a dia com coragem, engolindo sapos, escancarando portas emperradas e abrindo novos caminhos.
Agora, voltando ao início… imagine muitas mulheres num evento onde o microfone pode ser usado por todas, onde cada uma tem voz e o direito de falar e ser escutada com atenção, empatia e sororidade.
As amarras vão se soltando, elas se sentem livres para contar segredos escondidos durante anos, livres para falar das dores e dos amores.
É inexplicável e o efeito é surpreendente, faz um bem enorme, lava a alma e liberta de segredos que tolhiam os movimentos e provocavam uma angústia paralisante.
E como num efeito dominó as histórias vão surgindo, como denúncias, relatos de violências e abusos sofridos, de traumas e incompreensão.
A voz de cada uma encontra eco nas demais e como num passe de mágica elas criam um círculo de irmandade, se dão as mãos, se olham, tratando e curando as feridas umas das outras, elas se protegem e se entendem.
Sororidade é muito mais que uma palavra, é um exercício diário que precisamos praticar para nos apoiar, fortalecer, colocar os sapatos da outra e entender o que ela sente, sem rivalidades, sem julgar ou apontar o dedo.
A proposta é gerar uma onda que se espalhe como num efeito dominó, derrubando barreiras que impeçam as mulheres de serem o que quiserem, de ocuparem os lugares que quiserem e não apenas os que são permitidos.
Que possamos ser aceitas, ouvidas e respeitadas.
“Eu não estou aceitando as coisas que eu não posso mudar, estou mudando as coisas que não posso aceitar. ” Angela Davis
Lilian Schiavo
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