Bom dia meus queridos amigos!
Eu venho de uma tradição cristã. Aos 9 anos de idade, me apresentaram a “oração silenciosa”. Hoje, ao olhar para trás, eu observo que o silêncio como exercício espiritual é muito pouco procurado no meio chamado “cristão”.
De modo que eu olho para quase 40 anos de trajetória entre os cristãos e ao recordar deste processo, eu identifico um outro tipo de espiritualidade. Pelo menos era a minha impressão ao longo daqueles anos que a oração silenciosa começou a virar uma espécie em extinção: um tipo de “espiritualidade paleotológica”.
E mais ainda: parecia que tinha-se que “gritar” muito, quando não, viver uma experiência de “histeria coletiva” para que Deus ouvisse e interferisse na vida daqueles pobres mortais que se reuniam uma, duas, três, ou até sete vezes por semana. Caso contrário, Deus não faria nada se não existisse muito sacrifício, muito encontro, muito ruído…
De fato, os holofotes, palanques, e púlpitos tanto quanto o Marketing, microfones e muito barulho fazem parte das ferramentas religiosas e espirituais do ocidente da Terra.
Dito isto, há muito pouco; ou quase nenhum lugar para o silêncio.
O silêncio para muitos é incômodo. O silêncio para muitos é ausência de resposta divina conquanto o texto do salmista da tradição judaico-cristã diga: “Aquietai-vos e sabei que Eu sou Deus!”
O silêncio para alguns é ausência de ação, sobretudo para aquele que tem que conquistar, lutar, buscar, se apropriar, e vencer! O silêncio para alguns é perda de tempo.
A gente se esquece que o silêncio tem o poder de acalmar os nossos nervos quando “estamos à flor da pele” e queremos responder à vida com instintos animalescos e irracionais. A gente se esquece que o silêncio nos dá tempo para agir ao invés de reagir. A gente se esquece que o silêncio nos permite ouvir, e portanto, paramos de falar. A gente se esquece que o silêncio nos permite ter o direito de reposta, ou seja, ele nos dá permissão para responder, mas na hora certa, no lugar mais apropriado, e da maneira mais sábia.
Na realidade, os pais do deserto no século III, enquanto fugiam da perseguição esmagadora do cruel imperador romano Diocleciano, nos deixaram lições espirituais profundas relacionadas ao silêncio e contemplação como resposta à vida.
De modo que no século IV com a Constantinização, e com o fenômeno religioso do Cristianismo que se tornou meio político, muitos cristãos que não queriam comprometer a fé genuína dos primeiros quatro séculos, foram atraídos pela espiritualidade dos pais do deserto que tinham como ferramenta o silêncio.
Não é à toa que o historiador e teólogo Justo Gonzalez usa uma hipérbole propositalmente afirmando que havia muito mais cristãos no deserto do que nas cidades no século IV. É inegável que a busca por uma espiritualidade calma, serena, tranquila, e meditativa estava no seio da comunidade cristã oriental durante aquele período da história da Igreja.
Aliás, a tradição judaica-cristã também nos ensina que o profeta Elias estava justamente no deserto, e Deus não apareceu no vento forte, tampouco no tremor da terra e menos ainda no fogo, mas veio suave e sutilmente através de uma brisa…
Pois bem, eu já estou terminando. Mas eu preciso te perguntar:
Quantas vezes durante o dia você fecha os teus olhos e busca no silêncio uma ferramenta para se acalmar? Quantas vezes você antes de falar com o teu chefe, se silencia e fica no mínimo 3 minutos respirando profundamente e ouvido as batidas do teu coração até encontrar serenidade e equilíbrio físico, mental, psicológico para ir à sua sala?
Quantas vezes você se silencia depois de uma discussão com o teu marido, esposo, ou filho para se dar conta dos teus equívocos e exageros? Quantas vezes você ora em silêncio, entra em silêncio e sai em silêncio diante daquele que É e esquadrinha corações e mentes ainda que não seja pronunciada uma palavra da tua boca?
Eu te convido nesta semana, no dia de hoje, neste momento antes de você seguir como um furacão sem controle na esteira da vida, a parar, a se silenciar, e encontrar no silêncio uma das ferramentas indispensáveis de resposta à vida.
Um beijo grande a todos vocês!
Até a próxima.
Fábio Muniz
Collonges-au-Mont-d’Or
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Respostas de 2
Obrigado por compartilhar e relembrar Essas importante disciplina. Abração
Olá Armandão,
Frequentemente nos esquecemos da disciplina. E nos esquecemos também que ela é chave para o discipulado.
Nos vemos em Agosto. Feliz de poder estar com vocês no Canadá. Um forte abraço. Até!
Fábio