Imagine uma comunidade experimental, construída nos anos 50 e sustentada por uma única empresa, onde todos os homens trabalham para sustentar suas esposas, enquanto elas vivem uma “vida perfeita” cuidando de seus lares e vivendo com seus maridos, sem nenhuma preocupação. Essa é a premissa de “Não se Preocupe, Querida”, filme dirigido pela atriz, produtora e recém-estreada diretora, Olivia Wilde. A narrativa segue Alice (Florence Pugh), uma das moradoras dessa comunidade, que vive feliz com seu marido Jack (Harry Styles) até presenciar um suicídio. Depois disso, ela começa a suspeitar que, na verdade, o mundo em que vive não é tão perfeito assim, e que por trás da proteção generalizada da empresa e dos maridos, existem segredos perturbadores e obscuros.
A premissa do filme em si já chama atenção e induz a pensar em um suspense pautado por reviravoltas, mas na realidade, a história em si foi completamente ofuscada pelas inúmeras fofocas ocorridas nos bastidores, não só pelo peso das brigas envolvendo o elenco principal, como também pela própria falta de brilho e estrutura da narrativa em si.
Polêmicas nos bastidores
A verdade é que uma série de polêmicas e fofocas revolveu todo o processo de produção do filme. Tudo começou já na escalação do elenco – inicialmente, o ator escolhido para interpretar Jack Chambers, marido de Alice e protagonista, foi Shia La Beouf, conhecido por seu papel como Sam Witwicky em Transformers: a vingança dos derrotados. Em pouco tempo de produção, o autor deixou o elenco alegando conflito de agenda, mas existe também uma forte relação entre a saída e as polêmicas envolvendo as acusações de agressão por parte da cantora e ex-namorada do ator, FKA Twigs. Em uma entrevista concedida à Variety, a diretora Olivia Wilde afirmou que a decisão de o afastar dos sets de filmagem partiu dela, porque achava que a atuação dele tinha uma energia que não acompanhava a dos outros atores do elenco, bem como porque queria criar um ambiente confortável para Florence Pugh, e mesmo sem citar diretamente as denúncias contra La Beouf, deu a entender que essa seria a razão.
No entanto, indignado com a repercussão negativa da entrevista, o ator publicou um vídeo que a diretora o havia enviado, implorando-o para permanecer no filme e alfinetando o desconforto de Florence em contracenar com ele, chamando-a com deboche de “Miss Flo”. Naturalmente, o vídeo contradisse todas as afirmações de Olivia Wilde, o que por si só gerou um desconforto generalizado nos bastidores.
A entrada de Harry Styles
O escolhido para substituir o papel de LaBeouf foi Harry Styles, famoso ex-integrante da banda One Direction com uma carreira solo em ascendente estrelato no pop. Eis que surge outra polêmica, Styles e a diretora se conheceram ao longo das filmagens do filme, que começaram em setembro de 2020, e logo, as coisas começaram a esquentar. Não demorou muito para que os dois começassem a fazer aparições públicas de mãos dadas e que, após alguns meses, o relacionamento entre os dois fosse confirmado. O que ficou evidente após o envolvimento de Olivia e Harry, foi o desconforto de Florence Pugh, segundo informações divulgadas pela revista Vulture no dia 23 de Setembro desse ano, as duas teriam tido uma briga aos gritos porque a diretora e o namorado simplesmente sumiam dos sets de filmagem.
Há ainda, mais uma possível razão pela qual o desentendimento entre as duas se corroborou. Recentemente, no dia 26 de Outubro, o tabloide The Sun revelou que Florence e Harry teriam se beijado nos sets de filmagem enquanto ele ainda estava solteiro, e o posterior relacionamento entre Styles e Olivia teria fortalecido a rixa entre atriz e diretora. As equipes de Wilde, Pugh e Styles foram procuradas pelo Daily Mail mas não houve retorno de nenhuma delas.
Florence Pugh X Olivia Wilde
Apesar de tudo, seria um erro achar que a rixa entre as duas se deu apenas por conta de Harry Styles, ambas tinham nítidas discordâncias profissionais sobre o próprio enredo do filme em si. No trailer dele, há uma polêmica cena de sexo oral, que foi comentada por Olivia em uma entrevista à Vogue no sentido de “fazer com que as pessoas percebam quão raramente elas veem esse tipo de prazer feminino”. Em contrapartida, a protagonista do filme expressou uma opinião muito diferente à Harper’s Bazaar: “Quando se reduz a suas cenas de sexo, ou assistir o homem mais famoso do mundo cair em cima de alguém, não é por isso que fazemos isso. Não é por isso que estou nesta indústria”. Obviamente, pela natureza de contratar a estrela pop mais famosa do mundo, você terá conversas assim. Isso não é o que vou discutir porque [Don’t Worry Darling] é maior e melhor do que isso“.
O conflito entre as duas começou a chamar realmente a atenção nas redes sociais quando Florence, durante a turnê de imprensa do filme, não compareceu à coletiva de imprensa em Veneza, Itália. Também, o fato de não haver tido, durante o tapete vermelho de Festival de Veneza, ocorrido em 5 de Setembro desse ano – momento da estreia oficial do filme – nenhuma interação pública entre as duas, apesar de estarem lado a lado, chamou a atenção. Depois disso, a atriz não participou mais de nenhuma ação de divulgação do filme.
Mas e o filme? Vale a pena assistir?
O filme chegou às plataformas de streaming essa semana, pouco mais de dois meses após seu lançamento nos cinemas. Com um arrecadamento de mais de 78 milhões de dólares em bilheteria, é natural pensar que a história contada tenha alguma participação, mas ao assistir, fica um forte sentimento de que todo o potencial do filme foi desperdiçado em meio a essa rede de fofocas, e que na verdade, o interesse se deu muito mais por elas do que pela própria narrativa.
Apesar de ser um filme esteticamente lindíssimo, a direção de fotografia ser formidável e as atuações, especialmente de Florence Pugh e Chris Pine também, tal como a formidável trilha sonora de John Powell (Star Wars) o suspense é simplesmente insosso. Há um vazio gigantesco no quesito mistério, e a única coisa que torna o filme envolvente são as atuações de peso. Ao assistir as sequencias, fica uma impressão muito forte de que o filme pretendia muito, a nível narrativo, e realizou pouco. Há muitos pontos positivos que podem tornar o filme agradável, mas não há como negar a falta de conteúdo dele.
Contudo, o papel de um bom crítico ou analista fílmico não é estimular ou desestimular ninguém a assistir nada, apenas denotar pontos de um filme que precisam ser, de fato, analisados, aliado à sua impressão dele. O que ficou muito claro para mim, enquanto assistia, é que pode sim ser uma experiencia interessante se você quiser assisti-lo despretensiosamente, mas é impossível negar que o filme não alcança as próprias propostas, e que no fim das contas, as polêmicas acabaram alçando muito mais valor que o próprio conteúdo da história em si, de tão deficitária narrativamente que ela é.
Não é que o filme seja ruim, ele apenas caminha na média e pode ser interessante, se a única coisa em que você reparar for nas atuações.
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Imagens: Foto Diivulgação / filme: Não se Preocupe, Querida