Já há alguns anos, tenho me aventurado pelo cinema grego, que pelo que pude perceber, faz da pungência seu modus-operandi. Após assistir ao mais falado dos filmes gregos recentes, este Miss Violence (Grécia, 2013), seria muito fácil falar que trata-se de uma obra apelativa, que tem como intuito apenas chocar a audiência. Miss Violence utiliza sim o choque, entretanto, o faz como uma maneira mesmerizante de contar uma história sobre monstros de improváveis carapuças.
Não se pode falar muito de Miss Violence sem acabar entregando pontos importantes de sua narrativa, que funcionam bem mais se o espectador não souber deles por antecipação. O que dá para dizer é que a produção começa com o aparente suicídio da garota Angeliki (Chloe Bolota), que no dia de seu aniversário de 11 anos, salta para a morte da sacada de seu apartamento. São os medonhos desdobramentos de sua morte no entanto, que movimentam o forte e chocante roteiro do filme.
Vencedor do Leão de Prata no Festival de Veneza e de diversos prêmios nos Festivais de Montreal e Estocolmo, Miss Violence pode ser traduzido como a epítome da família disfuncional. A família deixada pela pequena Angeliki é responsável por deixar os nervos da platéia à flor da pele durante toda a duração do filme, principalmente o patriarca da família, muito bem interpretado pelo ator Themis Panou. As atrizes Reni Pittaki e Eleni Roussinou (cujos papéis dentro da família também seriam melhor não ser do conhecimento de você leitor) também estão ótimas, em performances de trincar os dentes da platéia.
É claro que Miss Violence gerou e continuará gerando inúmeras polêmicas e por consequência, diversas críticas. Algumas destas críticas no entanto são completamente infundadas, argumentando que o diretor estreante em longas Alexandros Avranas (responsável pelo aguardado thriller True Crimes, protagonizado por Jim Carrey e que chegará aos cinemas ainda este ano), de certa forma compactua com as atrocidades mostradas em cena. Pura bobagem. Avranas constrói um filme que choca e perturba pela passividade em torno do terror que acontece entre quatro paredes, e ainda tira uma casquinha do terrível momento econômico pelo qual a Grécia passa atualmente, fazendo valer a máxima de que um país falido, é o berço dos piores tipos de violência.
Miss Violence não é um programa fácil. Até aconselho aos mais fracos de estômago a evitar a perturbação que algumas passagens do filme podem causar. No entanto, trata-se de uma obra corajosa, cujas revelações atingem o espectador com sua força máxima. Cinema também é impacto.
Miss Violence pode ser encontrado em alguns catálogos de streaming.