Paty Moraes: Autonomia é coletividade. Não dá para empreender sozinho

Em dez meses de autônoma, o que aprendi é: autonomia não é ser autônomo.
Parece estranho, mas vou explicar.
Depois de ser demitida de um cargo executivo –  e de um salário compatível – , comecei a surfar na onda do meu potencial. Quem já se permitiu fazer algo com prazer, trabalhar pra si mesmo, com foco nos próprios desafios? Atualmente, muitos de nós.
Eu saí de um trabalho fixo, com salário fixo, com atribuições fixas: metas de audiência, coordenação de equipes e controle de conteúdo e gastos. Eu entrei num trabalho diversificado, com remuneração flutuante (quando existente) e atribuições do tipo “claro, posso fazer!”. O que tem sido mais importante e frequente são as conexões com gente que não conheço, os trabalhos nos quais me aventuro pela primeira vez e a coordenação de mim mesma.
Um pouco de tudo isso tem que gerar resultado e, é aí que a gente percebe, não depende só da gente.
A autonomia do serviço ou do negócio é a resultante da soma eu + todas as possibilidades. Um dia, seu negócio ganha em parceria com alguém que não te paga nada. No outro, perde com alguém que te remunera mas não está disposto a entrar de cabeça como você. Num dia, uma agência te oferece um job; no outro, você indica um job para a mesma agência e, de prestador de serviço, você se transforma em cliente. Um amigo vira um sócio e por aí vai. Ufa!
Ouvi sobre uma pesquisa que alertava para os novos tempos: se antes, ter vários trabalhos e atribuições era perda de foco, hoje, é o que há de mais atual e promissor.
Estou rodando vários pratos ao mesmo tempo. Mas sinto que não estou sozinha. É como num bambuzal. Você conhece um bambuzal? As árvores em pé estão fincadas em raízes de árvores que não existem mais e, ao mesmo tempo, são alicerce para raízes surgindo e crescendo.
Pensei nisso enquanto visitava o Parque da Água Branca, em São Paulo. Um refúgio de verde no meio do caos da capital paulista.

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