Depois de um final de semana inteiro de festa no interior (teve casamento e teve festa junina na fazenda), com muitos comes e bebes, segunda-feira foi dia de fazer o quê? Verificar o saldo da conta e estragar toda a felicidade acumulada no sábado e no domingo.
Segundona é o dia mundial da carteira vazia!
Aí, reclamei sobre a falta de grana pra uma amiga e ela veio com a brilhante ideia: “dá um tapinha básico no seu Linkedin (é Linkedín que fala, tá? fica a dica!), revisa umas coisas, atualiza outras… o povo percebe que você não está morta e sempre pinta algum frilinha. E coloca lá também seus seguidores, redes sociais, canal do Youtube… se você não tem ainda, crie um, é muito fácil!”.
Ah tá! Parece que acordei hoje e não sei de mais nada. Sabe aquela certeza que a gente tinha quando saiu da faculdade até o início dos anos dois mil sobre uma carreira? Você começa pequeno, imaturo e ganhando pouco, vai fazendo uns cursos, melhorando sua performance, ganhando cada ano um pouquinho mais e, um dia, senta na cadeira de chefe. Aos 34 anos, a única certeza que tenho é que, quando a gente chega quase lá, aparece um pentelho qualquer, puxa a cadeira e poft!, a gente cai no chão. Ou cai na real, né, miga?
Tem uma coisa muito maluca nesses novos tempos que é: ao mesmo tempo em que a gente se sente deslocada, a gente pode fazer o que quiser. Uma coisa nova a cada dia. Se nada der certo, dá pra fazer uma dieta nova, ficar sarada, conseguir milhares de seguidores e virar diva fitness. Engordar ou exibir com orgulho a celulite e virar uma influenciadora plus size pode ser outra opção. Voltar às raízes sertanejas, reassumir o sobrenome do pai e virar uma musa do feminejo também pode funcionar. Tudo pode funcionar.
Eu tenho uma amiga chef de cozinha que largou 10 anos de carreira em restaurantes renomados e até o próprio restaurante para voltar fazer faculdade aos 32 anos, cursar pedagogia e dar aula para crianças de uma escolinha particular. Loucura sem tamanho? Que nada, ela está felizona e curada de uma depressão que surgiu com a pressão de ser proprietária de alguma coisa. Também tenho outro amigo que fez exatamente o contrário: deixou de ser um fotógrafo profissional para abrir um bike café e se virar como empresário.
Nada contra a minha formação, nada contra as noites de plantão na redação enquanto minha filha aprendia a falar, nada contra os chefes mala que a gente tem que aturar em busca da promoção que nunca vem, mas tive a sensação de que tenho que largar tudo também e mudar de área. Deixei o passado no Linkedin – e o Linkedin pra outro dia porque editar todos os campos ia dar muito trabalho. Passei a olhar o que posso ser e fazer profissionalmente daqui pra frente.
Pra quem está navegando nesse mar de incertezas como eu (tenho conversado com muita gente em busca de alternativas), indico as análises e dicas interessantes do livro “A cultura do novo capitalismo”, de Richard Sett. É tudo isso que eu disse – e mais um pouco – , observado e encarado por alguém que tem emprego garantido como professor doutor no MIT (Massachusetts Institute of Technology). Prometo que dá tempo de ler as 180 páginas antes de começar o final de semana de novo.