Silene Silva: Anjos que caem do céu

Se você acessou o link para ler esta história, é porque gosta de bicho. E, se você gosta de bicho, já deve ter cruzado nos caminhos, por diversas situações, com um desses anjos em forma de cachorro, gato ou o que seja do mundo animal.

 

Já ouvi muitas pessoas contarem que a vida em comum com seu pet se iniciou inesperadamente porque a intenção, no primeiro momento, era apenas a de ajudar o bicho a encontrar um lar. A paixão somada com os desígnios de Deus é tão forte, que essas pessoas acabaram adotando o respectivo bichinho. Eu teria muitas histórias, uma mais linda do que a outra, para ilustrar e confirmar esse fato. Algumas delas com importância e detalhes tão valorosos que uma página apenas seria curta demais.

 

Como os animais enfeitam e dão cor a nossa vida, não é mesmo?!

 

Eu tenho um prazer imenso em falar sobre eles e tenho certeza de que tudo o que eu disser ainda vai ser muito pouco para definir o que os bichos representam no Mundo e na vida das pessoas.

 

Aquele tarde…

 

Tarde de sexta-feira — um engarrafamento daqueles majestosos reinava na BR-290, saída de São Leopoldo, região metropolitana de Porto Alegre, em Rio Grande do Sul. Não era um dia comum, a sexta antecedeu uma quarta-feira de comemoração de Natal do ano de 2013. Grande parte da população já se deslocava rumo ao litoral. Naquele ano, a técnica em enfermagem — afastada do posto de saúde em que trabalhava por conta de uma depressão profunda — Joseina Gayger, e seu marido (na época namorado), o empresário Wagner Gonçalves, ambos de 36 anos, voltavam de São Leopoldo. A moça havia acabado de fazer matrícula para o curso de biomedicina em uma universidade local.

 

Como fosse uma sugestão de Deus, Joseína pediu a Wagner que parasse em um supermercado no caminho na esperança de fugirem do desgaste no trânsito. Já na entrada do estacionamento do comércio, a moça viu uma ‘doguizinha’ bem tímida, demonstrando estar assustada. Mesmo com medo, a cadelinha simpatizou com a moça já no primeiro contato. “Logo quando entramos no estacionamento enxerguei aquela ‘coisiquinha’ preta, prognata, de orelhas baixas e rabo abanando. Estava morrendo de medo, mesmo assim fez festa para mim”, lembrou com saudade.

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Joseína contou que um outro cão, três vezes maior, estava rondando a cadelinha. A moça pediu que o namorado entrasse no supermercado para comprar um saco de ração para dar aos dois que aparentavam estar famintos. Ao mesmo tempo que comia, a cadelinha se entretinha com a alegria de estar na companhia do casal tão simpático e amoroso que teve um olhar doce na situação em que ela se encontrava. (Não é todo mundo que se preocupa com a fome de um ser, seja ele humano ou animal, que esteja em situação de rua).

 

Hora da partida! Joseína já estava com o coração partido porque teria de deixar a bichinha ali, sem proteção. A aproximação de um garoto aumentou ainda mais a preocupação com a abandonada. Um rapaz foi até ao casal para perguntar se era tutor da cadelinha. Ao que Joseína respondeu não, o garoto foi em busca de uma corrente para levar a dog com a justificativa de que serviria como “namorada” para o cão dele. Diante disto, a moça se deu conta do porquê um cão estar perto da cadelinha: a pet estava no cio! Isso seria uma irresponsabilidade enorme, uma tragédia já que se tratava de um cão tão jovem, ainda mais sendo SRD (Sem Raça Definida) — se engravidasse, outros vira-latas poderiam nascer e ficar sem tutores, assim como a pequena prognata estava. (Nós que amamos os pets, sabemos muito bem como pode ser o final disso!).

 

A moça já estava aos prantos por não saber como resolver aquela situação e por estar passando por um período depressivo. Ao ver a namorada chorando, Wagner sugeriu que levassem a dog para casa até que encontrassem um lar definitivo pra ela. E levaram!

 

 

A cura

Inicialmente, o casal até tentou encontrar um tutor para a cadelinha, mas Joseína se envolvia cada vez mais no relacionamento de puro amor com a pet. A cadelinha com cerca de seis a oito meses, estava ajudando a moça a superar o estágio depressivo. Antes de encontrar o animal, Joseína tinha crises de pânico constantes e, recentemente, havia tentado um suicídio. “Quando eu tinha as crises de choro, ela vinha lamber meu rosto, como se estivesse dizendo ‘tudo vai ficar bem’. Ela deitava do meu lado e ficava me olhando”, contou. A entrega de amor mutuamente ajudou ambas a dar um passo importante: a abandonada ganhou uma família e foi batizada como Costela Maria. Já Joseína se curou da patologia.

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A técnica em enfermagem já tinha uma outra cadelinha, a Cacau. Mas adotar a Costelinha foi crucial para que a moça encontrasse uma saída para se livrar da doença que afeta de forma intensa e cruel a mente e o corpo. Eu diria que Deus enviou um reforço para que Joseína obtivesse a cura da patologia.

 

Hoje, Costela Maria está com cerca de cinco anos e continua sendo uma cadelinha medrosa. Além da Cacau, a pet tem outra irmã de coração, a Lilli (também resgatada por Joseína tempos depois da chegada da Costela).

 

 

Quem já passou por período depressivo sabe o quanto é difícil superar. E os amantes de animais reconhecem o potencial que eles têm de fazer acender a chama de vida dentro de nós porque, quem teve ou tem pet em casa, já pôde sentir que o fio de esperança se fortaleceu na alma. Animais podem ser excepcionais terapeutas e é cientificamente comprovado que auxiliam em tratamentos de patologias. Eu costumo dizer que, mesmo em muitos casos os animais se beneficiem com as adoções, os humanos são os maiores privilegiados com a troca. “Se não fossem meus cães, eu acho que não estaria mais aqui neste mundo”, afirmou a tutora.

 

Atualmente, a técnica em enfermagem está a poucos meses de se graduar em biomedicina. A moça aliou o casamento com Wagner ao amor de seus três pets. Deus usa os seres como ponte para propagar o amor e realizar as obras Dele na nossa vida. Especialmente com Costelinha, Joseína vive um tempo de paz, cura e felicidade ao lado de seus anjos que caíram do céu.

 

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