Durante a caminhada, tive a sorte de conhecer algumas pessoas que ultrapassaram barreiras de patologias para poder adotar ou cuidar de algum animal. Por amor, essas pessoas são capazes de criar anticorpos inacreditáveis e ir contra ao que a medicina diz.
A alergia, por exemplo, pode ser fatal se a pessoa não tomar os devidos cuidados. Mas quem conhece e entende os animais também sabe o quanto eles possuem, de certa forma, poderes curativos sensacionais para resolver qualquer tipo de problema, seja físico ou emocional. Para que entendam melhor vou começar a contar a história de hoje pelo meio dela.
Uma gravidez no ano de 2013…
A catarinense Lilia Fernanda, de 32 anos, engravidou de sua primeira filha em 2013. A criança, uma menina chamada Isabeli, nasceu saudável, mas com os exames de rotina e outros fatores que a família notou com o passar dos meses, a menina carregava uma forte alergia a gatos. Por orientação médica, o ideal seria que a criança mantivesse distância dos felinos. Hoje Isabeli está com três anos e nove meses.
Como na casa já morava um gato loiro vira-latas, o Rolf, Lilia teve a confirmação de que, de fato, os pets são anjos enviados de Deus. E anjos nunca poderiam nos fazer mal, não é!?
Assim que conheceu a bebê, o gato loiro se apaixonou pela menina que, como contei acima, era alérgica a gatos! Bom, quero dizer, todos os felinos menos Rolf, o gato loiro vira-latas! Incrivelmente Isabeli “desenvolveu” anticorpos capazes de lidar com a presença do bichano da família. De acordo com Lilia, o médico da menina chegou a perguntar se Rolf era de uma espécie de gato hipoalergênico porque não há a hipótese da criança ser imune apenas ao animal em questão. “Quando outros gatos se aproximam, Isabeli passa mal e começam as corizas, espirros, inchaço nos olhos e rosto, além de outras coisas”, disse impressionada.
Seguindo as orientações do médico alergista, Lilia castrou Rolf para que evitasse as suas saídas e não levasse para dentro de casa nada que pudesse agravar a hipersensibilidade que Isabeli carrega. “Ainda tentamos encontrar uma justificativa sobre o porquê de Isabeli nunca ter tido nenhuma reação ao contato com Rolf”, contou.
Porto Alegre, ano de 2012…
Era inverno de um domingo comum do mês de agosto. A catarinense seguia de carona com seu amigo Thiago Amaro, de 31 anos – ambos estavam a caminho de mais uma aula do curso de rolfing (método que auxilia na fluência de movimento e equilíbrio através da liberação da fáscia pelo toque). Já quase na porta do destino, a estudante notou que havia um gatinho ainda filhote, com cerca de três meses, no meio do cruzamento. A moça estranhou que o animal não se movia nem ao mais brusco movimento dos veículos que passavam por ali. Lilia pediu que o amigo parasse para entender o que estava acontecendo com o bichinho.
Como a moça já praticava rolfing em pacientes há algum tempo, e entendia bem sobre o corpo humano e seus movimentos, arriscou analisar o porquê do gatinho estar paralisado. “Ele estava assustado e não conseguia se mexer. Peguei ele no colo e, aparentemente, acreditei que fosse a coluna porque o animal não mexia as patas. Além disso, ele havia urinado sangue”, contou.
Pelo estado do bichinho, os colegas levaram imediatamente o bebê cat loiro para um veterinário mais próximo. Já no consultório, a médica veterinária diagnosticou como um atropelamento e não teria muito o que se fazer. A profissional orientou que fizessem a eutanásia. Com o seu sotaque nato e trejeito de quem é do Sul, Lilia prontamente respondeu “Capaz que vou pagar pra eutanasiar o bichinho!”. Sem garantias de que salvaria o animal, a moça resolveu dar uma segunda chance ao gatinho.
Como não poderiam adiar a aula, os estudantes levaram o felino para o curso.
Foi um dia atípico! Os alunos estavam atrasados e, além disso, com um gato atropelado, entre a vida e a morte, nos braços. Para não atrapalhar o andamento da aula, Lilia colocou o bichinho perto do aquecedor. Sem saber o que poderia fazer pelo animal, já no intervalo, a estudante se empenhou em procurar alguma instituição que “comprasse a briga” do pequeno gatinho. Ligou para algumas Universidades do Estado, mas nenhuma aceitou tratar o animal. A aula se estendeu até o início da noite daquele dia e nada de uma solução para ajudar o gatinho no problema. Lilia teve a sensação que todos nós que amamos os animais temos quando estamos diante de uma situação semelhante a esta: “É pra ser meu!”.
A professora sugeriu que batizasse o gato como Rolf, igualando ao nome do curso, e assim foi!
Como Lilia é de Santa Catarina, e cursava em Porto Alegre, passou a temporada de aulas hospedada na casa de familiares residentes na capital do Rio Grande do Sul. A moça levou o bichano para a residência dos parentes e, daquele momento em diante, ela e o felino não se separariam mais.
No dia seguinte, Lilia procurou um novo profissional para avaliar o bichinho. Mas, bem mais confiante, o veterinário medicou e colocou talas nas duas patas traseiras do animal. Segundo o médico, ele estava bem e fora de risco, mas seria necessário realizar uma operação nos membros.
Nos dias que se seguiram, a moça teria que encontrar o namorado Cristiano em Bagé, mesorregião do Sudeste Rio-grandense. Seriam longas cinco horas de viagem até a região. Então, Lilia escondeu o gatinho dentro da bolsa e rezou, de Porto Alegre até o município de Bagé, para que o felino não miasse durante o trajeto. “Não tirei as mãos dele. Ele se comportou”, disse rindo.
Já em Santa Catarina, o gatinho passou pelo terceiro médico veterinário. Desta vez, o bichano teve as duas patas operadas. Rolf, como agora se chamaria, ficou confinado em uma cestinha durante o período de um mês para colar os ossos. “Era muito triste vê-lo preso, mas foi para seu próprio bem. Rolf foi muito guerreiro”, afirmou.
Para a sorte, era época de inverno e, com o frio, o gatinho não sofreria pelo calor que poderia castigar ainda mais o repouso do enfermo. Segundo Lilian, sua mãe, que tomava conta do bichinho na ausência da estudante, notou que as hastes colocadas na cirurgia se soltavam ao menor movimento e, com isso, a senhora percebeu que as patinhas de Rolf estavam apodrecendo por conta dos curativos — mantê-los nas patas do bicho havia sido determinação médica e não deveriam ser retiradas até a recuperação total. Inicialmente, Lilia ficou preocupada quando sua mãe retirou ao curativos, mas notou que foi a melhor escolha.
Diante disto, a moça o levou novamente em consulta e o doutor realizou novos exames. Rolf estava bem. Mas, segundo o médico, o gatinho deveria passar por nova cirurgia, dessa vez no quadril. Lilia ficou indignada porque o profissional poderia ter diagnosticado o problema antes da primeira cirurgia e ter realizado a operação junto (fazer o gatinho passar por novo desgaste de uma operação e ainda ficar por mais tempo de repouso, não seria fácil e nem justo com o animal). A moça resolveu poupar sofrimento ao gato e não deixá-lo passar por novo procedimento cirúrgico e se incumbiu dela mesma realizar técnicas de rolfing em Rolf!
Lilia realiza as sessões de rolfing no gato frequentemente. A moça percebeu que sua melhora aconteceu gradualmente e o bicho foi ganhando movimentos que antes não tinha ou que fazia com muita dificuldade. “Ele foi andando! De um jeito capenga, mas acabou se tornando o jeito dele”, contou a rolfista.
Um gato com lesões graves nos membros no caminho de uma rolfista que teria, pouco tempo depois, uma filha alérgica a felinos. A resposta para isso é que simplesmente pessoas certas aparecem no caminho dos animais certos. Tudo acontece de uma forma tão incrível que o Universo adapta tudo ao nosso redor pra que tenhamos condições de manter as situações em seus devidos lugares. “Ficamos sem respostas do que realmente leva a Isabeli a não ter alergia ao Rolf. Acredito que seja por ele ser um gato tão especial e amado”, finalizou a catarinense.
Por duas situações, Lilia poderia ter desistido de Rolf. Mas o amor somado à disposição da catarinense fez com que ela não o deixasse em hipótese alguma.
Lindo não é? Na semana que vem volto com mais histórias inspiradoras de pets pra vocês!