O Batalhão da Polícia Militar do bairro de Jacarepaguá/RJ, recebeu denúncia anônima em maio/2017 noticiando que no matagal atrás do Shopping Uptown estavam vários traficantes fortemente armados.
Uma equipe com cerca de 15 PMs foi rapidamente para o local. O ambiente era de tensão; os milicianos sabiam que fatalmente haveria troca de tiros. O cerco foi montado mas os policiais não encontraram bandidos perigosos e sim 5 crianças brincando de “polícia e ladrão”. Os garotos, com idade de 10 e 13 anos, ficaram assustados ao perceberem a chegada rápida do pelotão. Eles brincavam com réplicas de fuzis e pistolas de fabricação caseira. Havia ainda dinheiro de mentira, maconha e papelotes imitando cocaína, onde foi usado achocolatado e leite em pó. No caderno de contabilidade dos “traficantes mirins”.., constavam os valores de cada droga e o faturamento do dia.
Mas por que esses jovens não representavam a polícia, como antigamente se fazia, e escolheram interpretar o papel de bandido ligado a facção criminosa?
Quando estudei programação neurolinguística, em um dos capítulos é explicado o fenômeno da modelação com crianças da segunda infância, faixa etária dos 7 aos 13 anos.
Nessa fase de desenvolvimento humano, o filho modela o comportamento dos pais, ou seja, acaba introjectando, inconscientemente, as atitudes presenciadas dentro do lar.
Por outro lado, esses garotos moradores de comunidades carentes passam a maior parte do dia, desde tenra idade, nas vielas e becos, longe dos pais, muitos deles presos ou mortos pela polícia, por gangues rivais ou desafeto no mundo do crime. Diariamente, presenciam o movimento do tráfico e a venda de drogas como se fosse uma mercadoria legalizada, pois é feita em plena luz do dia, sem nenhum tipo de obstáculo. Jovens aliciados pelo crime portam armas de fogo, usam correntes de ouro, roupas de marca e trafegam com motos e carros reluzentes. Com isso, adquirem respeito (através do medo) da sociedade local.
Portanto, o modelo de vida desses 5 garotos mencionados, é o mundo do crime, pois é essa a referência que tem em seu processo de desenvolvimento.
Em idêntico ambiente social, as representantes do sexo feminino, na mesma localidade e na mesma faixa etária, frequentam bailes funk usando roupas insinuantes, fazem uso de bebidas alcoólicas e drogas e praticam relações sexuais promíscuas com naturalidade.
Esses jovens não estão no caminho errado; estão no único caminho que lhes foi apresentado.
Para eles, não existe alternativa que lhes permita comparação ou livre arbítrio. Se adaptam à realidade de seu cruel cotidiano e o reproduzem, perpetuando o ciclo de desajuste social.
Como vamos interromper esse malfadado processo, que vem contaminando larga parcela da nação e que gera violência, pobreza e tira a esperança de um futuro de paz e desenvolvimento ao povo brasileiro?