A luta de Chris Mosier, biatleta norte-americano, nascido mulher e, há bons anos, depois de encarar um longo processo de transição, inscrito como homem na confederação americana de biathlon, não é de hoje. Ele (antes, ela) quer competir de igual para igual com os homens e hoje já pode. O Biatlhon ainda não é esporte olímpico e só por isso ele não esteve na Rio 2016, mas depois de muitos títulos internacionais ele tem o sonho de uma medalha nos Jogos de Tóquio, em 2020. Para a medicina e órgãos oficiais Chris, hoje, é um homem e portanto, deve competir entre os iguais.
Vencer o preconceito e o desconhecimento não é fácil. Só com muita informação e conversa. Não vou entrar no mérito da causa dos transgêneros, das cirurgias para troca de sexo… (que inclusive deixaram de ser exigidas pelo comitê olímpico internacional). Você pode até não concordar, mas não pode fingir que não existe. Eles estão aí em grande número e aguardam oportunidades de inclusão. Como diz a propaganda Global, tudo começa pelo respeito. E eu diria que, na sequência, pelo estudo e aceitação.
Cada pessoa tem, a princípio, o direito de fazer com seu corpo o que desejar. E, vamos combinar, que se é mesmo como apontam os relatos dos trans: você se sentir “aprisionado num corpo com as caraterísticas físicas de um sexo que não lhe pertence”, deve ser uma tremenda angústia, que antes não tinha solução, mas que a ciência evoluiu para tentar corrigir, assim como faz com gêmeos que nascem colados. O que nos assusta é o novo. O que nunca paramos para pensar que poderia haver. E é daí que surge o preconceito, que só o conhecimento e a tolerância podem fazer desaparecer.
Mas não é sobre a aceitação social do trans que estou falando aqui e sim da polêmica de sua inclusão no esporte. Uma polêmica que está só começando e que ainda deve render muita análise e discussão. Há muito tempo que temos homossexuais no esporte e isso por mais que não tenha sido assumidamente aceito (por conta do velho preconceito) nunca rendeu grandes cobranças em termos de seu rendimento físico, muito pelo contrário, se um atleta com orientação sexual diferente for excepcional no que faz, seja no automobilismo, vôlei, futebol, basquete, atletismo, etc… está tudo bem. Mas acontece que o esporte, há séculos, é dividido por gêneros, enquanto categoria, em quase todas as modalidades; então. se um atleta “muda de lado”, no sentido não de ter desejo por alguém do mesmo sexo, mas de mudar o seu, ele deveria mudar também de categoria e é daí que nasce a polêmica.
Um exemplo claro desta nova situação acontece no vôlei feminino brasileiro, onde Tiffany Abreu tem arrasado como jogadora do Bauru. Ela atuou na Itália até o início do ano passado em equipes masculinas até obter autorização da FIV para atuar no vôlei feminino, quando conseguiu sua avaliação médica atestando sua carga hormonal pós-transição. Impressionou na Itália e voltou a Brasil, contratada pelo Bauru. E aí… choveram críticas! Inclusive de jogadoras da Superliga, a exemplo de Ana Paula, que disparou sua opinião nas redes sociais: “Muitas jogadoras não vão se pronunciar com medo da injusta patrulha, mas a maioria não acha justo uma trans jogar com as mulheres. E não é. Corpo foi construído com testosterona durante a vida toda. Não é preconceito, é fisiologia. Por que não então uma seleção feminina só com trans? Imbatível! “. E a gente fica meio dividida na questão, porque se há quem pense como Ana Paula, também há quem já queira ver Tiffany na seleção.
Tiffany, aos 33 anos, teve um desempenho bem acima da média das colegas de liga e até de seu time. Seria por ter crescido como homem e só ter reduzido sua testosterona recentemente? Há opiniões médicas e técnicas contundentes. E no caso dela, ao contrário do de Chris Mosier, Tiffany passa a competir com adversárias mais baixas, menos musculosas e com preparo físico equivalente, mas resultados diferentes nas respostas de explosão e rendimento. Ela tem amparo legal para competir, mas até o público se divide na questão de ela levar uma vantagem física sobre as demais, questionando se é justo ou não que ela permaneça na Liga. O técnico da seleção brasileira José Roberto, por outro lado, diz que por Tiffany ser elegível pela CBV, não teria qualquer restrição em convocá-la.
Pois é amigos… A bola foi levantada na rede e a disputa entre bloqueio e ataque está só começando. No Gay Games deste ano em Paris, com certeza este será o assunto da vez: como incluir os transgêneros e garantir (principalmente no caso de homens que fazem sua transição para o sexo feminino) que as demais jogadoras não se sintam em desvantagem, na disputa de igual para igual? Pensem a respeito, opinem e vamos tentar chegar num bom termo para todos.
Respostas de 8
Discordo e sou contra trans competirem com mulheres. É deplorável. Só se fizerem times de trans contra trans. Nada mais anti esportivo do que trans contra mulheres, fim do mundo e fim do esporte.
Obrigada por opinar, Leonora. Está acontecendo, então é importante que a gente se informe e se posicione, não é?
Sou contra, pois o biótipo é de homem, sem blá blá blá é a força, envergadura, estatura e não há como discutir isso a nível esportivo, faz-se um time de acordo e pronto, forças medidas de igual para igual.
Pois é, Claudia, por conta dessa “desigualdade”, Tiffany teria passado por um processo hormonal, a grosso modo para “diminuir sua força” e segundo o Comitê Olimpico Internacional, o gênero do (ou da) atleta é medido por esse teor de testosterona que ela reduziu drasticamente, passando a levar desvantagem nos times masculinos… Então temos que questionar é o COI, que a aceitou na Liga Feminina, não?
Acho que as trans levam vantagem física. Assim como os trans levam desvantagem física. Como as competições funcionam com base em categorias, será que não seria interessante testar duas novas categorias? É tudo novo. Precisamos experimentar… Não proibir ou liberar. Aprender.
Concordo, Mônica… Tudo muito novo. E por isso mesmo merece conversa e a busca de caminhos que não exclua nem prejudique ninguém. Tenho certeza que boas idéias virão de um debate bem intencionado
Quero aqui deixar apenas um forte a grande jornalista Renata Figueira,pessoa que admiro desde o Jornal da Cultura 60 minutos nos anos 90.
Querido Renato, abraço recebido. Obrigada pela leitura e carinho