Crítica: Mandy (2018)

Mandy

Que Nicolas Cage não seleciona mais seus papéis todo mundo já sabe. O ator praticamente enfileira um filme atrás do outro, sendo que destes, pelo menos 90% transitam entre o medíocre e o desastre completo. No finalzinho de 2017, Cage apareceu no esperto e surpreendente Mom and Dad (cuja crítica você também confere aqui no Portal do Andreoli), uma comédia de horror que mesmo sem ser nenhuma maravilha, terminou por ser o melhor filme protagonizado por Cage desde o remake de Vício Frenético (Bad Lieutenant), lançado em 2009. E Cage parece ter gostado do sabor de atuar em uma produção que flerta com o horror, já que o ator volta às telas com este Mandy (EUA, 2018), thriller sobrenatural tão insano quanto inventivo, que cai como uma luva para o atual estilo maníaco de atuar do ator.

Exibido (e elogiado) no Festival de Sundance deste ano, Mandy é ambientado em 1983, e traz Cage no papel de um homem em busca de vingança. O filme começa mostrando a idílica convivência de Red (Cage) com sua esposa, a Mandy do título (a bela Andrea Riseborough, do thriller dramático Nancy, cuja crítica você também confere aqui no Portal). Mas essa paz é eventualmente destruída, quando o casal é atacado em sua casa por membros de um culto satânico/religioso liderado pelo demente Jeremiah (Linus Roache, de Batman Begins e Sem Escalas). O casal é capturado e brutalmente torturado por Jeremiah e seus seguidores, além de outros seres demoníacos que parecem acompanhar o culto. E falar mais sobre o que acontece à seguir seria um tanto redundante, já que é óbvio que Red embarca em uma jornada de vingança plena, violenta e sem volta.

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Tudo isso é contado de maneira bastante pitoresca pelo diretor Panos Cosmatos (filho do falecido diretor George Pan Cosmatos), aqui em seu segundo filme. Assim como fez em seu filme anterior, o curioso Além do Arco-Íris Negro (Beyond the Black Rainbow, 2010), Cosmatos usa e abusa de cores berrantes e diálogos extensos em sua obra, o que funciona à favor e também contra o filme, que poderia ser um pouco menos psicodélico e conter diálogos mais diretos e sucintos. Entretanto, a atmosfera da produção é potente, e remete até aos trabalhos de Jorodowsky e do mestre David Lynch. Vale ressaltar também a sinistra e altamente eficiente trilha-sonora incidental à cargo do falecido compositor Jóhann Jóhannsson (A Chegada, cuja crítica você também confere aqui no Portal do Andreoli), que ajuda a compor o clima extremo do filme.

Mas além da direção de Cosmatos, o outro vértice forte de Mandy é mesmo a presença de Nicolas Cage. Ver o resultado final da produção é como observar duas forças cinematográficas colidirem e por consequência criarem algo belo (além de mega-sangrento e selvagem, é claro). Dentre tantas performances ferozes (e exageradas) em sua carreira, tanto em boas, ruins ou esquecíveis produções, Cage encontra aqui o viés ideal para mais uma de suas insanas interpretações, valorizada por uma concepção oitentista estilosa por parte do diretor Cosmatos. A talentosa Andrea Riseborough no papel-título também está muito bem, retratando uma inocência que logo se revela trágica em sua personagem.

Entretanto, é mesmo em sua segunda metade que o filme diz a que veio, agradando aos fãs do horror e colocando Cage e seu Red definitivamente à frente dos acontecimentos. A ação estilizada de Cosmatos coloca o espectador em uma verdadeira montanha-russa infernal, que vence o espectador pelo exagero e pelo excesso. Excesso que, como não poderia deixar de ser, permeia também toda a atuação de Cage, à medida em que o ator flutua entre gritos e choro traumatizado e suas caras de louco, cobertas de sangue dos homens-demônios que ele enfrenta ao longo do filme munido de serras-elétricas e um super machado que ele próprio fabricou. Porém, ao mesmo tempo, Cage nos lembra mais uma vez de suas habilidades como um intérprete sério e de seu potencial dramático. Ele cria uma jornada de pesadelo completa para um personagem que definitivamente não funcionaria se fosse interpretado por um ator de menor gabarito ou bagagem.

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Como se o único objetivo do filme fosse ganhar o título de “O Filme Mais Louco de Nicolas Cage”, Mandy realmente coloca o ator em um cenário de loucura e violência bastante extremo. A estilização do diretor Cosmatos complementa o quadro, seja em seu escopo bem definido de sua história como pelo detalhista design de produção, que permeia desde as armas, passando pelos figurinos e chegando às locações, tudo supervisionado com esmero pelo diretor. Ao retratar um ator completamente dentro de seu elemento e um diretor em ascensão, ainda que de seu próprio modo, Mandy extrai o máximo possível desta união, e quem ganha é o espectador, especialmente aquele chegado a uma boa dose de insanidade violenta.

Mandy ainda não tem previsão de estreia no Brasil, e deve chegar ao país diretamente através de serviços de streaming e VOD.

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Respostas de 12

  1. Filme fantástico, lúdico, psicodélico e de uma singularidade incrível. Somente os amantes do cinema entenderão os pormenores dessa obra inquestionável. Uma atuação memorável de Cage mergulhada num ambiente meticulosamente construído entre o real e o imaginário. Um horror gore que nos remete aos anos 80 através da produção, trilha sonora e os detalhes bem construídos no seu devido tempo e espaço. Filmaço!

  2. Ainda não vi, mas só pelo Trailer…e pelo enredo do filme… já dá pra ter uma noção de que vem mais um decepcionante projeto do Mr Cage.
    E ainda tem gente querendo ele pra fazer o Superman… afff…

  3. Filme B, muito ruim, história difícil de se conectar. Atuação bastante louca de Cage, só assisti até o final porque já tinha iniciado o filme. Só assista se não tiver o que fazer e paciência.

  4. Muito ruim mesmo. Só vi até o final porque não sou de ver filme pela metade. Não se salva nem pelas cenas de ação e violência. Tudo muito malfeito. Perda de tempo total.

  5. esse filme tem conexão com operaçao overlord depois do pos credito Red(nicolas cage) aparece ele com um retrado da 2 guerra ele é neto de Ford(Wyatt Russell) e Red e pai de Mel Gibson (Max Rockatansky) OU Max de Tom Hardy voces escolhem, esse filme e um prequel de todos esses no Mandy 2 a ressurreição Max nascera e onde acontece o começo da historia do Mad Max onde Red o ensina a matar bandidos filme(B) previsto em 13 de dezembro de 2020.

  6. Filmezinho bem mediano, muito alarde em cima dessa “atmosfera anos 80” e da atuação do Cage… nada demais. Só quem atuou mesmo, foi o Linnus Roache. O gore, que deveria surpreender, é muito mal feito e explorado. Esse diretor deve ter tomado o LSD da seita dos malucos! Kk

  7. Eu achei que no decorrer do filme as cores iriam melhorar, a história do filme poderia ter sido resumida em 10 minutos, eu não gostei achei muito ruim.

  8. Um filme exagerado e absurdo necessitava de uma atuação que fizesse jus à trama.e Cage se encaixou perfeitamente nisso tudo, com sua interpretação doentia e abstrata com excesso de expressões. O quê achei? Ótimo. Olha que tá difícil nos últimos anos falar isso dos trabalhos de Cage.

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