Na hora do café: Uma reflexão sobre nossos tempos atuais

Desde a mais terra infância somos doutrinados a engolir a verdade de que nossa existência não é possível sem a presença de alguém ao redor.

Alguém que nos oriente, nos indique o caminho, nos empreste alegria à vida, que seja cúmplice de nossos medos e nos entenda à luz das sombras.

Com o advento da tecnologia, as mídias sociais puseram uma lente de aumento em alguns protocolos do bem viver. É preciso acumular bens, fazer carreira, cumprir metas, gerar filhos, formar um lar, ter o corpo perfeito, praticar esportes da moda, pronunciar palavras de ordem como gratidão. Mostrar-se engajado ou ativista em causas ambientais, saber dirigir, ter feito viagens para alguns confins do mundo (e postá-las), comemorar 10, 20 ou 30 anos de casamento (mesmo que infeliz), mesmo que você se corrompa ao fazê-lo. Como se tocar sua vida em seu tempo, à sua maneira, no seu ritmo, cuidar de si, viver as suas verdades fosse tão démodé quanto à palavra démodé é em si. Nesta seara nos sujeitamos a relações quaisquer.

Tudo!

Menos ficar sozinha, menos ficar para trás, menos não ser aceito, menos envelhecer sozinho, menos ser menos do que a vida da coleguinha do Instagram que acaba de fazer bodas de paralelepípedo em algum resort no Alaska.

 A parada obrigatória a que nos levou a pandemia mundial trouxe questões profundas às margens dos nossos rios e de uma hora para outra fomos forçados a conviver sob o mesmo teto com alguns desafetos que criamos. Tantas relações alquebradas, superficiais, rasas as quais acreditávamos ser firmes, para as quais emprestávamos capítulos especiais de nossas vidas: nosso tempo, sonhos e energia. Pais e filhos que se desconhecem companheiros estranhos, tão estranhos quanto distantes.

A vida real sublimada pelo dia a dia, pela falta de tempo, pela falta de qualidade em nossas atitudes, pelo preço caro da compra de estereótipos sociais que possam ser validados por alguém. Personagens que não somos, lugares que não desejamos ocupar, vidas que não nos satisfaz viver. Debater a solidão e questionar o nosso modus operandi atual, observar o nosso viver no automático é um alerta para as conseqüências do adiar-se. Refletir sobre quem somos, onde estamos, com quem estamos e partilhamos nossos momentos mais valiosos é urgente e fundamental.

Observar os moldes de encarceramento emocional/ social aos quais nos permitimos viver até aqui pode ser o grande movimento que nos afrouxe os nós das gravatas. E nos dê ao menos o vislumbre do tamanho de nossas asas.

**O conteúdo e informação publicado é responsabilidade exclusiva do colunista e não expressa necessariamente a opinião deste site.

Imagem: Dougal Waters | Getty Images

2 respostas

  1. Perfeito!!! Era o texto que gostaria de ter escrito, é por esse viés, as redes sociais ditam as regras do nosso viver, sem perceber estamos escravizados a conceitos do Instagram.
    Parabéns Roberta pelo lindo texto, Ameiii♥️👏

  2. Maravilha de texto, Roberta … A expressão démodé caiu super bem … Em tempos que os prazos de validade vencem depressa, Ser um démodé calha de Ser …
    Entre os riscos da solidão e a solitude necessária, talvez as misturas em meio as redes se fazem bem …
    Parabéns também pelo trabalho 🙏

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