Ela mergulhou na foto amarelada.
Da casa antiga, as lembranças do balanço,
O pinheiro que havia ajudado a plantar ainda criança.
No imenso quintal, o gramado. tantos encontros
Fins de tarde regados com amigos da escola,
Brincadeiras infantis e adolescentes,
As tantas ajudantes de sua mãe que ela perdera a conta.
Inês se destacava entre elas. Era acolhedora, doce, singularmente amiga.
Os pássaros, os gatos, tantos cães…
Laica era uma Fox terrier amada por todos. Mesmo nome haviam lhe dado daquela que conhecera a lua.
A goiabeira branca, deliciosa e acessível… o tanque de areia das tantas aventuras imaginárias para além dos baldinhos, pás e carrinhos de brinquedo.
Lorrette era sua boneca preferida. A mãe trouxera de uma viagem à Paris por se parecer tanto com a filha caçula. Olhos azuis que cintilavam, bochechas redondas e rosadas.
Dos irmãos mais velhos algumas lembranças invadiram sua alma. Um casal de irmãos alguns anos mais velhos.
O pai, os sofás que reuniam a família em torno da TV ao cair da noite. A sala de musica e estudos… as estantes forradas por livros e os tantos Lps ladeando a vitrola.
Ela amava musica e se perdia durante horas cantarolando com o irmão. Tom Jobim, Caetano Veloso, Gal Costa, Chico entre tantos gigantes… Gosto da mãe. O pai, erudito que era, inseria no cotidiano a musica clássica… os concertos e os grandes nomes que ela ainda tinha certa dificuldade em pronunciar.
Nas férias escolares as tias amadas vinham em visita, assim como um primo ou outro.
Cada banheiro da casa tinha uma cor e o amarelo, o privilegio da banheira, traço da arquitetura dos anos 50, em que ela adorava passar algum tempo.
O cheiro de comida que exalava da cozinha, os bolos de aniversário, os encontros de natal, as discussões com os irmãos, os gibis e livros de história, os inúmeros convidados a cada data, e a casa cheia! De vida e de lembranças.
Ela franziu os olhos satisfeita com a parte que acessara em sua linha do tempo. e lembrou da menina que fora. Da menina que carregava no peito… da mulher que se tornara. E pensou na importância do registro. Assim sorriu fechando o álbum empoeirado certa da mágica naquele instante escrevendo em seu bloco de notas:
“Registrar o momento é doar o presente da lembrança viva a quem toca uma foto. É imortalizar o segundo, devolver o tempo. É emoldurar sentimentos. sem voz emprestando a eles a força e o poder de re-conhecer quem fomos.”
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