O Censo Demográfico de 2022 incluiu uma pergunta direta aos brasileiros:
“Alguém aqui tem diagnóstico de autismo?”.
A resposta veio em forma de um número inédito: 2,4 milhões de brasileiros declararam ter diagnóstico de TEA, o que representa 1,2% da população. Esse dado marca um avanço significativo, pois insere o autismo de forma concreta nas estatísticas nacionais, abrindo caminhos para o fortalecimento de políticas públicas voltadas à inclusão.
Esses dados oficiais validam vivências e reconhecem realidades que sempre estiveram presentes — mas ainda não eram consideradas nos planejamentos públicos.
O que o Censo revelou sobre a população com TEA
O levantamento mostra que a maior parte das pessoas com diagnóstico está na infância e adolescência. A faixa entre 5 e 9 anos concentra a maior prevalência, com 2,6% das crianças identificadas com TEA. No total, mais da metade das pessoas com diagnóstico têm menos de 20 anos.
Entre os sexos, os dados seguem a tendência já observada em estudos clínicos: 70,8% são homens (1,4 milhão) e 29,2% mulheres (1 milhão). Embora essa diferença seja esperada, ela também reforça a necessidade de atenção ao possível subdiagnóstico em meninas e mulheres, cujos sinais nem sempre são reconhecidos com facilidade.
Outro ponto importante está relacionado à escolaridade. Entre as pessoas com TEA com 25 anos ou mais, 46,1% têm ensino fundamental incompleto ou nenhuma instrução formal. Na população geral, esse índice é de 35,2%. Já quando se observa o grupo com ensino médio completo ou superior incompleto, o percentual entre pessoas com TEA é de 25,4%, contra 32,3% na população geral. Esses dados indicam que ainda há barreiras importantes no acesso e na permanência na educação formal, especialmente após a infância.
Adultos com TEA: o que os dados ainda não mostram completamente
Um dos pontos mais sensíveis revelados pelo Censo é a baixa prevalência de TEA entre adultos. Enquanto o percentual entre crianças é de até 2,6%, entre adultos esse índice fica entre 0,8% e 1,0%. A diferença levanta uma reflexão importante: muitas pessoas que hoje estão na vida adulta não tiveram oportunidade de receber um diagnóstico quando crianças.
Isso não significa ausência da condição, mas sim ausência de acesso, de informação e de reconhecimento ao longo das últimas décadas. Pessoas adultas com TEA podem ter vivido anos sem nomear suas dificuldades ou com diagnósticos equivocados.
Muitas se adaptaram sozinhas, enfrentando desafios em ambientes escolares e profissionais sem o suporte adequado. É cada vez mais comum vermos adultos sendo diagnosticados tardiamente.
Em geral, esse momento vem após um longo percurso de tentativas de adaptação e esforço para “funcionar” dentro de padrões sociais rígidos.
Quando o laudo chega, ele traz alívio, mas também um convite à reconstrução. Por isso, é essencial que o diagnóstico tardio seja acompanhado de apoio psicológico, orientação e acesso a direitos.
Avançar no cuidado ao longo da vida
Saber que o Brasil tem 2,4 milhões de pessoas com TEA é um passo importante. A partir desse número, é possível planejar políticas públicas — desde a infância até a vida adulta.
É preciso investir em ações que garantam acolhimento, autonomia e participação social das pessoas com TEA em todas as fases da vida.
Isso inclui:
- Formar profissionais da saúde, educação e assistência para atuar de forma qualificada;
- Ampliar o acesso dos adultos a diagnósticos e terapias em todas as regiões do país;
- Criar políticas voltadas ao jovem e ao adulto com TEA, com foco em empregabilidade, saúde mental e qualidade de vida;
- Apoiar as famílias — especialmente mães cuidadoras — que seguem enfrentando sobrecarga e falta de rede de apoio.
Os adultos com TEA existem. Sempre existiram. Só não foram vistos e precisam muito, muito de atenção e cuidado contínuo vida toda — não só a infância.
Porque o autismo não termina na adolescência. E os direitos também não.
Se você está começando essa jornada agora, ou se já está nela há anos, saiba: não está sozinha. Aqui é um espaço de acolhimento e escuta. Compartilhe suas dúvidas, sua experiência, sua história.
Um beijo e até a próxima quarta-feira.
Juçara Baleki
@querotratamento
Fontes:
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/43464-censo-2022-identifica-2-4-milhoes-de-pessoas-diagnosticadas-com-autismo-no-brasil