Acredito que todo o ser humano tem o sonho de viver a época fácil. Tenho para mim que dentro dos corações até dos humanos mais corajosos, existe o anseio pela fase onde a vida fica mais fácil. Os problemas não existirão ou serão menores, que a vida flua sem grandes esforços e que a alegria seja mais frequente e constante do que a tristeza.
Se ouvirmos as promessas dos grandes mentores falando sobre vidas extraordinárias, os ativistas políticos falando sobre uma vida mais igualitária e justa, e os líderes espirituais falando sobre o amor entre os semelhantes, isso tudo grita aos meus ouvidos como formas diferentes de se pensar a mesma coisa: teremos um momento onde a paz e a igualdade serão transbordantes e na mesma medida tudo ficará mais fácil. Talvez um pouco mais fácil seja grande questão aqui, mas deixemos o texto falar por si.
Durante toda minha infância sofri por alguns motivos, porque a cada momento era um motivo diferente. Tive muitos medos ao longo da minha trajetória de vida: tive medo de pessoas, conflitos, lugares, perdas, medos morais se meus pais descobrissem alguma “cagada” que havia feito, as coisas não passavam em branco pela minha mente. Foram várias questões que me acompanhavam, a ponto de eu ter a crença de que quando fizesse 30 anos, não sei explicar por que, tudo se resolveria e a vida seria muito melhor e mais fácil. Olha a loucura e desespero de uma mente que sofre.
Cada fase cumpriu seu papel nessa história, a escola teve o seu papel torturante nos momentos de provas e conflitos. A rua, onde eu morava, teve o seu momento também, quando fui crescendo e novas fases foram surgindo. O corpo mudava, os interesses mudavam, as pessoas mudavam e com isso muitas alternâncias de desejos e direcionamentos, existiram momentos que nada fazia mais sentido. Sempre tive uma mente inquieta. E tenho que confessar, se você pensa que eu era um menino tímido e que vivia pelos cantos amuado sem saber o que fazer, não se iluda. Sempre fui “sem vergonha” e muito ousado para encarar novas situações. Me arrisquei muitas vezes em viver coisas a frente da minha fase, mudei de turma muitas vezes, alterei estilos e sempre queria mais, mesmo com medo. Talvez um dos grandes equívocos é achar que os “engraçadinhos” não sofram.
Bom, mas vida continuou e os 30 chegaram, que alívio? Nada disso, quanto mais adulto e mais séria a vida, mais preocupações. A vida não ficou mais fácil aos 30, pelo contrário. Nos sonhos, desejos e perspectivas de vida que deram ainda mais o que fazer. A coisa ficou séria, relacionamento sério, os pais já não pagam mais as contas, a louça não está mais lavada, as pessoas não te acolhem tanto, você não é o queridinho de todo mundo, precisa continuar batalhando seu espaço e tem mais, será cobrado por isso.
A vida adulta de verdade exige que você cumpra expectativas de outras pessoas e elas são importantes nesse processo, seja seu chefe, seu cliente ou sua família. Somos seres de relacionamento, não existe essa parada de que ninguém importa só o que eu penso e quero. A vida em sociedade é uma relação eternamente de negociações, ganhos e concepções, é assim que funciona, cada escolha uma renúncia e provavelmente alguém sairá frustrado, inclusive, em alguns momentos, seremos nós.
A vida nunca será fácil porque cada fase é uma fase nova e nem sempre saberemos o que fazer. Muitas vezes somos surpreendidos exatamente por não fazer ideia do que fazer. O grande problema é a ilusão e a falta de atitude. Muitos desenvolvem ou não mudam a perspectiva e continuam acreditando que em algum momento a vida será fácil, o que por consequência, traz o segundo problema, a falta de atitude. Se esse momento irá chegar, basta eu esperar, só que ele não chegará e pior, a falta de atitude trará ainda mais problemas. A única saída que vejo é estar sempre em desenvolvimento e disposto a transformações, buscando se fortalecer a cada experiência e buscando novas experiências para ter mais ferramentas mentas e espirituais para encarar essa vida.
A grande aposta é “já que ela não vai ficar mais fácil, eu vou tratar de ficar mais forte”.
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