Crítica: A Maldição da Chorona (The Curse of La Llorona) | 2019

The Curse of La Llorona

O folclore e a superstição são elementos mais do que conhecidos dentro do cinema de horror. Filmes como A Maldição dos Mortos-Vivos (The Serpent and the Rainbow, dir. Wes Craven, 1986), e Adoradores do Diabo (The Believers, dir. John Schlesinger, 1987), são apenas os primeiros dentre tantos outros que me saltam à mente. E isso só mencionando o cinema americano. Em 2016 por exemplo, a Coréia do Sul nos apresentou à obra-prima O Lamento (The Wailing, dir. Hong-jin Na), suspense que expõe com propriedade as vertentes do folclore do país, e recentemente aqui mesmo no Portal do Andreoli, eu publiquei a crítica da antologia de horror The Field Guide to Evil, produção europeia que discorre de maneira assustadora sobre o folclore e a superstição de diversos países do continente.

Agora, é a vez do México apresentar para o grande público um de seus mitos sobrenaturais, ainda que este A Maldição da Chorona (The Curse of La Llorona, EUA, 2019), seja uma produção americana. A mais nova produção derivada do universo da franquia Invocação do Mal (The Conjuring), no entanto, decepciona. O filme sofre com um roteiro anêmico repleto de sustos pouco convincentes, além de uma indecisão sobre qual seria realmente seu público-alvo.

Os roteiristas Mikki Daughtry e Tobias Iaconis (do vindouro A Cinco Passos de Você), abordam o horror como se somente iniciantes no gênero fossem assistir ao filme. A produção é tão simples que chega a ser frustrante, o diálogo explica tudo em excesso, e ainda que alguns momentos de suspense sejam sólidos, existem barrigas demais entre eles. Fica a impressão de que A Maldição da Chorona seria um filme totalmente diferente que de última hora, foi transformado em um derivado xexelento da saga Invocação do Mal apenas para fazer mais dinheiro na bilheteria.

Em seu filme de estreia, o diretor Michael Chaves prova ser um estudante aplicado do estilo visual de James Wan, o que inclui sequências eficazes que fazem bom uso da escuridão e espaços internos. Há até uma breve referência ao clássico Evil Dead, onde a câmera passeia simulando o ponto de vista de um espírito prestes a invadir um local pela porta da frente. Ainda assim, seja devido ao orçamento ou escolhas criativas, esta nova adição ao universo de Invocação do Mal não traz a mesma impressão visual da época do filme original, que parecia embebida nos filmes de horror do final dos anos setenta. Mesmo com a história deste A Maldição da Chorona sendo ambientada na Los Angeles de 1973, não parece que o filme se passa realmente nesta época, com exceção da falta de celulares e da presença das antigas tevês de tubo.

O filme nos apresenta a Anna (a bela Linda Cardellini, de Fome de Poder, cuja crítica também está disponível aqui no Portal do Andreoli), a viúva de um policial assassinado no cumprimento do dever e mãe de duas crianças, Chris (Roman Christou) e Sam (Jaynee-Lynne Kinchen). Anna é uma investigadora do serviço tutelar da cidade, e seu trabalho a leva até a casa de Patricia (Patricia Velasquez, de A Múmia), cujos filhos não aparecem na escola já há alguns dias. Após vasculhar a casa, Anna os encontra trancados num armário com um selo protetor pintado na porta, e como já deu para perceber, Patricia está tentando proteger seus filhos da Chorona (La Llorona) do título, uma presença sobrenatural vestida de branco que há três séculos rouba crianças na esperança de substituir suas próprias, as quais ela afogou num ataque de ciúmes. Pouco tempo depois de sua visita à casa de Patricia, Anna descobre que seus próprios filhos agora estão correndo perigo.

Talvez o maior pecado do filme é o fato de que o mesmo não é muito assustador, e para um filme de horror, isso é caixão e vela preta. Há alguns bons momentos, como quando a Chorona aparece atrás da pequenina Sam e começa a lavar seus cabelos, e quando a alma penada ataca as crianças de um orfanato. Entretanto, o plot transcorre de maneira insossa demais, como um prato de comida sem tempero. As performances são acima da média apesar do roteiro, e o design da Chorona é bacana, mas nada que me fizesse sentir um arrepio na espinha como aconteceu com a figura da freira de Invocação do Mal 2, por exemplo. Inclusive, o papel da Chorona não deve ter sido nada gratificante para a atriz Marisol Ramirez (da sci-fi Circle), que não faz nada além de gritar durante noventa minutos.

O filme se apoia pesadamente (e desesperadamente) nos jump scares, e se a tática funciona nas primeiras vezes que a Chorona aparece berrando na tela, o mesmo não acontece nas outras cinquenta vezes em que este tipo de susto se repete. Chaves exagera na exposição de seu fantasma, e quando o filme chega em seus momentos finais, o impacto de sua presença é praticamente zero. Outro bom personagem desperdiçado é o do curandeiro espiritual Rafael (Raymond Cruz, das séries Breaking Bad e Better Call Saul), que passa o filme todo soltando piadinhas em situações de perigo, outro artifício que me irrita profundamente no cinema. A presença da maravilhosa Linda Cardellini garante alguns pontos para a produção, ainda que a atriz não tenha muita justificativa étnica para protagonizar um filme onde tudo e todos ao seu redor remete ao país e a cultura mexicana.

Assim como o recente A Freira, outro spin-off decepcionante do universo Invocação do Mal, A Maldição da Chorona tinha tudo para ser um bom pequeno filme de horror sobre um interessante mito sobrenatural, mas nem a produção de James Wan é capaz de salvar uma produção tão fraca e preguiçosa, especialmente no que diz respeito à direção e narrativa. Fica a impressão de que A Maldição da Chorona já começou errado desde sua concepção, porque ao invés de começar com “Não seria legal se contássemos uma história sobre La Llorona?”, os produtores preferiram optar por “Não seria legal se nós transformássemos outro filme qualquer em um novo spin-off de Invocação do Mal?” Não é a toa que a Chorona chora tanto.

A Maldição da Chorona estreia nos cinemas brasileiros no dia 18 de Abril.

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