Crítica: As Viúvas (Widows) | 2018

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Existem alguns filmes que valem a pena ser assistidos apenas por suas credenciais. O suspense dramático As Viúvas (Widows, EUA/UK, 2018), seria um destes filmes não fosse o fato de além de ser um tremendo showcase para um seleto time de intérpretes do cinema, ainda por cima é um TREMENDO de um thriller. Dirigido pelo mais que competente Steve McQueen (dos excelentes Shame e Doze Anos de Escravidão), e co-escrito por Gillian Flynn, autora de obras que renderam a série da HBO Sharp Objects e o sensacional thriller Garota Exemplar (Gone Girl, 2014), As Viúvas não se contenta com suas credenciais atrás das câmeras e inunda seus frames com um time de atores e atrizes de arrepiar.

A fenomenal Viola Davis (do drama Um Limite Entre Nós, cuja crítica você também pode conferir aqui no Portal do Andreoli); Michelle Rodriguez (da franquia Velozes e Furiosos); Liam Neeson (meu ator preferido já há um bom tempo); Colin Farrell (O Sacrifício do Cervo Sagrado, cuja crítica também está disponível aqui no Portal); o veterano Robert Duvall (que dispensa credenciais); Daniel Kaluuya (de Pantera Negra e do thriller-sensação Corra!, cuja crítica você também pode conferir aqui no Portal); Jon Bernthal (de Terra Selvagem, Sweet Virginia e A Peregrinação, todas as críticas disponíveis aqui no Portal); Carrie Coon (da série The Leftovers e do citado Garota Exemplar); Cynthia Erivo (do recente Maus Momentos no Hotel Royale), e Elizabeth Debicki (do drama The Tale, cuja crítica você também pode conferir aqui no Portal do Andreoli), todos integram um cast assombrosamente perfeito, que mais do que valoriza a caprichada e muito bem amarrada trama do filme.

As Viúvas é na realidade baseado em uma série de TV britânica exibida na década de oitenta, mas adaptada por McQueen e Flynn, a história ganha uma roupagem moderna e bem americanizada ambientada na cidade de Chicago. Em uma sequência de abertura miraculosamente construída (palmas para a edição soberba à cargo de Joe Walker, de Blade Runner 2049 e A Chegada, cuja crítica também está disponível aqui no Portal do Andreoli), que alterna entre as cenas de um roubo e os momentos de intimidade das mulheres que virão a ser às viúvas do título e seus parceiros, o público fica sabendo que Harry Rawlings (Neeson), é o líder de um grupo de ladrões envolvido em um trabalho que deu muito errado e que termina com a morte violenta de todos os envolvidos no assalto e com o desaparecimento do dinheiro.

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O dinheiro, é claro, tinha dono: o candidato a vereador local Jamal Manning (Brian Tyree Henry, do recente Hotel Artemis e da série Atlanta), e seu ameaçador capanga (Kaluuya), que rastreia a esposa do falecido Harry, Veronica (Davis), com o objetivo de coletar o dinheiro perdido. Veronica é uma funcionária do sindicato de professores e vive uma vida imaculada e confortável num belo apartamento, ao lado de seu cachorro, um adorável West Highland Terrier, que mais tarde terá uma importância considerável à medida em que a trama se desenrola.

A questão é que o falecido Harry deixou para trás um notebook que detalha extensivamente um plano para seu próximo trabalho, e, determinada a completar o plano ela mesma, Veronica sai à procura das mulheres que estão igualmente comprometidas a garantir seus futuros: as viúvas dos parceiros de Harry. Cada uma delas tem sua própria batalha para superar, após o que aconteceu à seus respectivos. Linda (Michelle Rodriguez), perdeu sua loja; Alice (Elizabeth Debicki), nunca precisou sustentar a si mesma, etc. Se você está familiarizado com o trabalho de Gillian Flynn, já sabe que ela não pega leve no martírio de suas protagonistas femininas, e ela não suaviza o tom aqui. Apesar do objetivo em comum compartilhado pelas viúvas ($$$), elas em nenhum momento se tornam íntimas. O vínculo entre elas é puramente a necessidade.

Toda essa trama se desdobra em paralelo à disputa de poder entre Jamal e seu oponente, um herdeiro político interpretado por Colin Farrell, que age sob a sombra de seu pai (Duvall). A maneira com que esta eleição está relacionada aos objetivos de Veronica, é metodicamente revelada por Flynn e McQueen ao longo da produção, e ambos constroem seu conto sobre estas mulheres à margem da lei, em cima de uma plataforma de poder e crime.

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É praticamente impossível eleger um destaque do fenomenal elenco, já que todos, sem exceção, entregam performances irretocáveis que parecem ainda destacar a atuação de seus parceiros de cena. Davis transmite uma intensa determinação, que flutua por sobre a mágoa enterrada de sua personagem, que a isola do resto do time de mulheres em busca de recompensa. Sua personagem é fascinante. Kaluuya está aterrorizante no papel do capanga sádico e sanguinário, enquanto que Debicki, de certa forma, acaba tendo o maior arco narrativo do filme, no papel de uma mulher que descobre seu próprio valor, uma vez que se encontra pela primeira vez sozinha no mundo. Os tarimbados Farrell e Duvall também dão um show à parte em suas interações.

As Viúvas, apesar de seus momentos de ação acelerada, requer paciência do espectador, para em seguida o recompensar completamente com a complexa e alucinante teia que se desenvolve sob sua faceta de filme de roubo. Há algumas reviravoltas na trama que são tão chocantes, que me fizeram proclamar instintivamente alguns palavrões durante a sessão. Com seu ritmo perfeitamente encaixado com as idas e vindas de seu roteiro engenhoso, As Viúvas definitivamente é o filme a ser visto (e revisto) deste final de ano.

As Viúvas estreia nos cinemas brasileiros no dia 29 de novembro.

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