Aproveitando a chegada do final do ano, a Netflix lança em seu catálogo mais uma superprodução. Assim como fez em 2016 com o lançamento da sci-fi policial Bright (cuja crítica você também pode conferir aqui no Portal do Andreoli), o selo coloca outro membro do time A de Hollywood em um de seus projetos mais ambiciosos. Estou falando da vencedora do Oscar Sandra Bullock e este Bird Box (EUA, 2018), que assim como o citado Bright, também ganhará uma exibição especial na Comic-Con Brasil 2018, antes de chegar ao catálogo da Netflix no dia 21 de dezembro. Uma boa notícia é que apesar dos defeitos, Bird Box é um dos filmes mais intensos do ano. Um drama inventivo que se destaca como mais uma boa adição ao subgênero do cinema apocalíptico.
O thriller tem início com uma conversa entre Malorie (Bullock) e seus dois filhos pequenos. É uma conversa que vem a definir tudo o que virá a seguir na produção, onde Malorie ordena os pequenos a fazer tudo exatamente como ela diz se quiserem sobreviver, e onde a lição mais importante é nunca, NUNCA, em hipótese alguma, remover as vendas de seus olhos. Se eles removerem e virem o que há ao redor, eles morrerão. O próprio público ficará sem saber o que é que não pode ser visto por um bom tempo, mas a urgência na voz de Malorie fica tão clara para nós quanto para o Menino e a Menina (o significado da ausência de seus nomes também será esclarecida com o tempo).
Competente como sempre, Bullock se transforma de maneira convincente em uma dura sobrevivente neste envolvente thriller da diretora dinamarquesa Susanne Bier, que remete à filmes apocalípticos que vão desde o ótimo A Estrada (The Road, 2009) até o horroroso Fim dos Tempos (The Happening, 2006). Ao lado de Bullock, bons nomes formam o elenco de apoio, como Trevante Rhodes (Moonlight: Sob a Luz do Luar, cuja crítica você também pode conferir aqui no Portal do Andreoli); Sarah Paulson (do vindouro thriller Vidro); o grande John Malkovich (do suspense Bullet Head, cuja crítica você também pode conferir aqui no Portal do Andreoli); a veterana Jacki Weaver (de Artista do Desastre, cuja crítica você também confere aqui no Portal) e a revelação Lil Rel Howery (do thriller Corra!, cuja crítica você também pode conferir aqui no Portal do Andreoli). Apesar de todos contribuírem para o resultado do filme cada um à sua maneira, é Rhodes quem mais impressiona, repetindo o carisma físico de sua atuação em Moonlight. Seu personagem, Tom, funciona como uma força estabilizadora que narrativas de filmes deste tipo exigem.
Voltando um pouco mais à trama do filme, Bird Box transporta sua narrativa para cinco anos atrás, onde alguns flashbacks revelam que uma onda de suicídios em massa teve início na Europa Oriental antes de se espalhar pelo mundo todo, sem ninguém entender como ou porquê tais mortes começaram a acontecer. A pandemia chega até Malorie no pior momento possível, e a dantesca sequência que vem à seguir remete às fantásticas cenas do “arrebatamento” da série da HBO, The Leftovers, já terminada. Estou falando de um nível de caos e confusão bíblico, tamanho seu escopo de fim dos tempos.
Tal premissa — de que há algo lá fora que precisa ser evitado de qualquer forma — funciona de modo bem parecido com o thriller Um Lugar Silencioso (A Quiet Place, cuja crítica também está disponível aqui no Portal do Andreoli), só que ao contrário, e onde mais uma vez o artifício de privar personagens de um de seus sentidos (no caso aqui a visão), mostra-se extremamente funcional, aumentando consideravelmente o nível de tensão da produção. O filme mantém o suspense e a direção de Bier é fria e eficiente, o que cai como uma luva na adaptação do material, que é baseado no livro homônimo de Josh Malerman lançado em 2014, e cujo roteiro desta versão cinematográfica ficou à cargo do especialista Eric Heisserer (da fantástica sci-fi A Chegada, cuja crítica também está disponível aqui no Portal.
A diretora, cujos trabalhos no drama Em um Mundo Melhor (In a Better World, 2010) e na série O Gerente da Noite (The Night Manager, 2006), lhe renderam um Oscar e um Emmy respectivamente, não carrega uma bagagem muito grande no cinema de gênero, mas fica difícil não imaginar o que Bier poderia vir a alcançar se abordasse mais vezes este tipo de material. Por vezes ela até trata as ideias do filme de maneira um tanto aberta demais — onde vale a máxima do “ignorar seus problemas não os fará ir embora” — no entanto, o espectador estará muito ocupado tapando seus próprios olhos para perceber tal artifício ou mesmo lhe dar importância.
Boa parte do filme acontece cinco anos antes da conversa de Malorie com seus filhos, a qual consequentemente a faz mudar com eles para o interior. Paira no ar a ideia de que existe um local seguro em algum lugar na mata da região (como sempre há em histórias deste tipo), e forças externas tornaram a situação de Malorie insustentável e irreversível, forçando sua busca pela segurança dos filhos. Tais cenas quase funcionam como uma espécie de epílogo fragmentado, já que descobrir como Malorie chegou a tal situação é tão atraente quanto assisti-la flutuar em um barco através do rio com seus olhos vendados.
A revelação-chave do filme não tarda tanto a aparecer, e enquanto alguns podem sentir-se um tanto decepcionados com o que realmente está acontecendo em torno do apocalipse retratado neste Bird Box, outros descobrirão com um pouco de reflexão que a ameaça aqui é tão mortífera e dolorosa quanto as criaturas medonhas de Um Lugar Silencioso, por exemplo. Remover a venda de seus olhos só pode levar à um destino, mas Bird Box faz o público querer olhar mais de perto, de qualquer maneira.
Conforme acima, Bird Box ganhará uma exibição especial na Comic-Con Brasil 2018 realizada em São Paulo de 06 a 09 de dezembro, com presença da atriz Sandra Bullock, e posteriormente será lançado no catálogo da Netflix no dia 21 de dezembro.
Respostas de 13
aguardando , kACIC Você podia colocar uma graduação em estrelas de cada filme, o que acha? apenas uma sugestão vlw
Valeu pela opinião e pela visita Robsom!
Eu já pensei nisso logo depois de começar a escrever aqui para o Portal do Andreoli, mas confesso que tenho uma certa resistência a dar notas para determinado filme. Na grande maioria das vezes a nota não traduz o que o filme realmente representa, e muita gente acaba se guiando pela nota e não pela minha opinião do filme.
Mas como comentei, agradeço pela opinião, Robsom!
Grande abraço!
Boa noite! A critica é boa e muito interessante sobre o filme. Contudo, gostaria de indicar o excesso de uso de links para criticas de outros filmes feitos por vocês. É tão excessivo que o leitor fica com a sensação de que a critica foi feita apenas para gerar clicks nos demais filmes. Contei pelo menos 6 em um único texto.
Falando sobre o filme, achei muito interessante o tipo de apocalipse abordado no longa. A gente fica realmente envolvido no drama da protagonista na busca de um local seguro para ela e seus filhos. Existe uma grande dúvida se tal lugar realmente existe. Uma parte do filme que merece destaque é o final, quando ela fala o nome das crianças. Sem dúvidas, emocionante!
Esse filme é baseado no livro caixa de pássaros, não abra os olhos. Pelo menos o livro é muito bom e coeso, suspense de mais. Gostei do livro, agora vamos ao filme!
Gostei muito do filme mas até agora não sei o que aconteceu com o loiro e a moça do filme que ficou com ele se alguém entender ou souber favor me fala desde já agradeço…
Fujiram c o carro
Gostei muito do filme mas até agora não sei o que aconteceu com o loiro e a moça do filme que ficou com ele a policial se alguém entender ou souber favor me fala desde já agradeço…
Gostei do filme, mas alguém poderia me explicar porque a Personagem Malorie não se suicida no começo já que ela e a irmã estavam desvendadas. E só a irmã dela morre?
Ela estava olhando para dentro do carro e não viu o que a irmã dela viu.
Achei o filme bem ruinzinho. Não o classificaria nem como terror, nem como suspense. Tá mais para um filme de ação de baixo orçamento e fraco roteiro cheio de erros. Também esperava mais da crítica que eu li aqui por se tratar de um texto feito por um roteirista. Sugiro a leitura do texto “O pior cego é aquele que quis assistir”, no site The Cine Buzz Stop, no Medium. Vi ótimas críticas ao roteiro, desmontando-o como um quebra-cabeça e desvendando os erros no andar do filme. Vale muito a pena a leitura, ainda mais para você que é roteirista.
Só eu que reparei que esse filme é uma critica ao uso das redes sociais. Tipo como se fosse um vírus que estava se propagando pelas redes e ao chegar na cidade delas inclusive deu defeito nos aparelhos telefonicos. Tipo como se pegassem o vírus (do suicidio) caso olhassem as redes sociais. Os loucos eram os únicos que podiam olhar pq não conseguiam ter dicernimento do que estavam vendo, a questão de criar as crianças se que elas pudessem olhar as redes sociais uma questão tão atual pq isso pode levar elas a morte. Nao somente uma morte (morte), mas sim uma não vida real. O rio representa a navegação na internete. As vozes o tempo todo dizendo pra ela olhar (como as vozes do nosso subconsciente dizento pra gente olhar o celular o tempo todo). E no final eles encontram um lugar livre (onde podemos ser livres como os pássaros). Pra mim uma afirmação de que devemos sair da caixa (que atualmente é a internet) e viver nossas vidas livres. Boa noite.
Augusto da Silva, até agora a sua explicação foi a melhor. Parabéns pela sua visão crítica.
Ridiculo esse filme, sem pé nem cabeça, nada a ver, pior que zumbis e vampiros…
Parece alguma coisa que o Stephen King jogou no lixo e alguem achou…