Crítica: Bloodline (2018)

Depois da minha recente publicação da crítica do filme Extremely Wicked, Shockingly Evil and Vile, onde a trama girava em torno do serial killer americano Ted Bundy, eu volto a falar de assassinos em série neste Bloodline (EUA, 2018), porém, nada de histórias verídicas aqui. O filme conta a história de Evan (Seann William Scott, o Stifler da franquia American Pie e o novo Martin Riggs da série Máquina Mortífera), que à primeira vista, é um típico homem de família. Pai devotado, marido amoroso e trabalhador, Evan só tem um “pequeno deslize” em sua personalidade: ocasionalmente ele mata pais ruins.

Evan é o conselheiro dos alunos de um colégio em uma pequena cidade americana, e sua afeição pelos estudantes rendem alguns resultados interessantes; quando seu filho pequeno chora no meio da noite, ele deixa sua esposa, Lauren (Mariela Garriga, do recente Nightmare Cinema, cuja crítica está disponível aqui no Portal do Andreoli), dormir enquanto ele próprio atende as necessidades do garoto. Quando ela se preocupa com a falta de ganho de peso da criança, ele chama sua mãe para ajudar na casa enquanto ele está no trabalho. E quando um de seus alunos aparece na escola com um olho roxo, Evan chama para si a tarefa de remover a ameaça da situação. Ou utilizando o português bem claro, ele decide levar o pai abusivo para uma casa abandonada, amarrá-lo à uma cadeira e picotar o infeliz com uma faca de caçador. E depois, é claro, enterrar o cadáver fresco bem fundo.

À princípio, as tendências assassinas de Evan tornam-se até rotineiras. De dia, ele escuta as queixas dos estudantes com relação aos seus pais violentos. De noite, caça os agressores, os captura, e conduz uma averiguação com o intuito de fornecer aconselhamento. Em seguida, pinta as paredes de vermelho com o sangue das vítimas. Simples assim. Entretanto, à medida em que a contagem de corpos começa a subir, e todas as evidências começam a deixar um rastro, todos os traços de intento malicioso que ocorrem na pequenina e pacífica cidade, começam a circular em torno de Evan. Agora, com a polícia nos seus calcanhares e suas desculpas se esgotando, parece que a inclinação de Evan de ajudar famílias em necessidade pode tirá-lo do convívio com sua própria família.

Veja Também  Crítica: Pilgrimage (2017)

Fotografado de maneira esplêndida por Isaac Bauman (da série Channel Zero), o estiloso filme do diretor estreante Henry Jacobson faz um excelente trabalho em destacar a velocidade e a maneira feroz com que Evan impiedosamente caça suas vítimas. Através de exuberantes paletas de cores e do esperto enquadramento, Bauman utiliza o espaço limitado de tomadas fechadas para melhor expressar a cada vez mais evidente insanidade de seu protagonista, enquanto expressa simultaneamente a sensação de isolamento em torno dos assassinatos cometidos por Evan, efeito que faz uma ligação análoga entre suas vítimas e ratos pegos em uma ratoeira. Conduzido como uma espécie de homenagem moderna ao cinema do genial Brian De Palma, Bloodline é repleto de close-ups em instrumentos afiados repletos de sangue e nas faces surpresas e disformes das vítimas de Evan. Mesmo quando o plot dá uma titubeada, as cativantes qualidades visuais do filme mantém o espectador intrigado.

É claro que também tenho algumas queixas sobre o filme, principalmente pelo fato de que algumas perguntas são deixadas sem resposta pela narrativa. Em um dado momento, Lauren pega Evan e sua mãe trocando um beijo de boca aberta, algo que nunca chega a ser discutido ou explicado na trama. Haveria uma relação incestuosa ocorrendo dentro desta mórbida unidade familiar? Seria esta a razão pela qual Evan se tornou um serial killer? Outro ponto, é que apesar do filme instigar o debate se Evan nasceu assim ou se seu desejo por sangue fresco é hereditário, a narrativa nunca se esforça muito em apoiar nem uma coisa nem outra, apenas sugerindo a ideia e depois nunca retornando ao tema.

Mas pelo menos para mim, tais questões não apagam o brilho deste pequeno e interessante filme, que assim como o citado filme que mostra a natureza doentia de Ted Bundy que mencionei no início deste texto (e tantos outros exemplares do gênero), discorre com inteligência sobre um dos temas mais tabu de nossa sociedade. Bloodline é uma sangrenta analogia ao clichê do homem de família, que implica que a devoção com a qual nos mantemos leais à família pode gerar um monstro onde antes haviam somente boas intenções. É muito bacana também observar Seann William Scott em um papel digno de seus talentos, uma vez que ele prova que de fato possui a rara habilidade de mudar completamente o tom de suas interpretações. Aqui, Scott alterna com maestria entre o doce e delicado vizinho da porta ao lado, e o sinistro agente da escuridão cuja intenção é rasgar ao meio todos aqueles que não tratam seus filhos como deveriam. Confesso que até gostaria que houvessem mais criaturas dispostas a este tipo de trabalho.

Veja Também  Crítica: O Anfitrião Perfeito (The Perfect Host)

Bloodline não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros, e deve chegar ao país diretamente através de sistemas de streaming e VOD.

Obs.: O filme ainda não possui trailer oficial divulgado.

Loading

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Compartilhe esta notícia

Mais postagens